Origem: Revista O Cristão – O Homem Celestial

Cristo Gravado no Coração

2 Coríntios 3:23 

O Cristão é um representante de Cristo, tanto quanto as tábuas de pedra eram a representação da lei. Cristo está gravado no coração pelo poder do Espírito Santo, e o Cristão é conhecido e lido por todos os homens. O mundo deveria ver Cristo gravado no coração de um Cristão, tanto quanto Israel podia ver a letra da lei nas tábuas.

Está escrito nas “tábuas do coração” pelo “Espírito do Deus vivo”. Assim, apenas a conduta exterior (embora deva existir para que o mundo possa ver) não mostrará, mas Cristo dentro, como o motivo e fim de tudo o que fazemos.

Deus não enviou Seu Filho ao mundo para trazer um Cristianismo negativo. Deve haver aquele resultado o qual é digno da obra. Deve ser evidente por meio do poder do Espírito Santo. Haverá fracasso, pois somos criaturas pobres e frágeis, mas o mundo verá para onde estamos indo pelo caminho que tomamos. Um homem pode ir devagar ou tropeçar, mas é evidente qual o caminho ele está tomando.

Nós olhamos e vemos que estamos seguindo de maneira devota a Cristo, com pleno propósito de coração. Nós dizemos: “Uma coisa faço”. Mas devemos ter cuidado ao mesmo tempo para não entrarmos na servidão legalista por esse padrão. Se eu disser: “Aqui está uma regra de conduta; siga-a”, isso não poderá alcançar o coração e as afeições. O ministério da letra traz apenas fracasso, condenação e morte, pois prescreve uma regra que o homem, sendo um pecador, nunca pode seguir. Ela não muda o homem, mas o coloca sob a morte; isso prova que ele é “ímpio” e “sem força”.

O ministério da morte 

Podemos transformar até mesmo Cristo nessa letra de condenação. Podemos tomar Sua vida, por exemplo, e torná-la nossa lei. Não, podemos transformar até mesmo o amor de Cristo em nossa lei, e podemos dizer: “Ele me amou e fez tudo isso por mim, e eu devo amá-Lo e fazer muito por Ele em troca desse amor”. Assim, se transformarmos Seu amor em uma regra de vida, isso se torna o ministério da morte, pois a única coisa que uma lei pode fazer é condenar. Ali com os filhos de Israel, Moisés precisou colocar um véu sobre o rosto, pois não podiam suportar a visão da glória, pois ela os condenava. O homem tenta esconder sua condenação de Deus ou sua consciência de sua condenação. Ele exclui a si mesmo de Deus – da glória da Sua santidade e da Sua glória como se vê em Jesus. E quando a Sua glória for revelada no final, só trará a condenação de uma maneira mais ampla.

O ministério do Espírito e da justiça 

Em contraste com este ministério de morte e condenação, vemos o ministério do Espírito e da justiça. Toda a vida de Jesus foi uma manifestação da graça. Ele Se colocou de lado pelos outros. Ele Se deu a todos os que vieram a Ele. Não tinha tempo para comer, no meio de um mundo de iniquidade, Ele era a perfeita manifestação da bondade de Deus. Não apenas isso. Ele morreu pelo pecado, subiu ao céu e enviou o Espírito Santo como testemunha de Sua glória e como Ministro da justiça. Então é agora Deus ministrando, não exigindo.

Se eu for levado a olhar para Jesus, posso dizer que Ele levou meus pecados. Eu os cometi, mas Ele foi Quem os suportou. Ele deu a Sua alma como oferta pelos meus pecados. Ele tomou toda a carga do meu pecado. Eu traço meus pecados até a cruz e lá estou livre deles. Todos desapareceram.

Onde, então, vejo a glória? É no rosto de Jesus Cristo que aniquilou todos os pecados que foram revelados e condenados no Sinai. Ele entrou no céu porque eles foram aniquilados. Em Filipenses 2 vemos Cristo no céu, não apenas em virtude da glória de Sua Pessoa, mas por causa da obra que Ele consumou. “Pelo que também Deus o exaltou soberanamente”.

Assim, podemos não apenas suportar a visão daquela glória de Deus, mas nos regozijar nela. Nossa alma descansa nela. Nós não pedimos para tê-la velada, mas para que possamos ver cada raio dela. Nosso coração pode se saciar ali, porque é o testemunho do amor de Deus e da perfeita aniquilação do pecado.

Que Cristo eu tenho! 

Há também o ministério da justiça. “Tendo, pois, tal esperança, usamos de muita ousadia no falar”. Não é uma pequena esperança aqui e um pouco de desespero acolá, mas é uma mensagem de perfeita justiça para o mais vil. Pela obediência de Um, muitos foram feitos justos. Agora, é Deus colocando frutos e não requerendo justiça.

Qual é o efeito prático dessa obra de Cristo recebida no coração? Não é fazer um homem ficar descuidado com relação ao pecado – não para dar a ele liberdade para pecar porque Cristo suportou a ira que era devida ao pecado. O último versículo mostra como somos feitos esta carta viva. Contemplando a Cristo nos tornamos como Ele. Se o Espírito toma das coisas de Cristo e as mostra para mim, posso dizer: “Que Cristo eu tenho!” E há o espírito de santidade imediatamente. Eu anseio por Cristo e olho para Cristo, e assim eu me torno como Ele. A mesma coisa que traz a justiça consumada à minha consciência me faz como Ele. Então note que não há véu no coração nem na glória. O Espírito Santo, que habita em nós, retirou isso. E é dito de Israel: “Mas, quando se converterem ao Senhor, então, o véu se tirará”. Quando Moisés ia para a presença do Senhor, ele sempre tirava o véu, mas os filhos de Israel não podiam suportar a visão da glória, então ele o colocava quando aparecia diante deles.

Nada entre mim e Deus, além do amor 

Então qual é a consequência desta ministração do Espírito? O que segue meu conhecimento que eu sou a justiça de Deus em Cristo? Eu sei que Deus Se deleita em mim. Eu sou constrangido em meu coração para servi-Lo e segui-Lo. Se penso em Seu amor, será que terei algum medo? Embora eu falhe constantemente, Deus não tem um pensamento posterior quanto a mim ou meus pecados. Não há incerteza – nada existe entre mim e Deus, além do amor que me colocou ali. Eu sou sem mancha e em perfeita liberdade, pois Ele deu a Cristo por mim. E agora, não é Deus requerendo algo de mim, mas Deus dando coisas pra mim, para que Seu Filho possa ser glorificado em mim. Não é para que o homem seja glorificado, mas para que o Seu Filho Jesus seja glorificado. Deus está preparando um casamento para o Seu Filho. Nós temos que ser a carta de Cristo. Temos esse privilégio de glorificar e manifestar a Cristo. Devemos nos regozijar em ser esta carta, custe o que custar. Cristo morreu por mim e eu tenho que representá-Lo. É claro que muitas vezes posso falhar, mas o coração em liberdade diante de Deus irá correr no caminho de Seus mandamentos, porque as afeições agora são colocadas sobre Deus e a glória de Cristo. Minha vida, meu caminho diário, deve ser uma resposta ao amor de Deus. Eu sou devedor a Cristo, porque Ele me amou e Se entregou por mim. Que incrível privilégio é ter permissão para glorificá-Lo de alguma maneira, por pequena que seja, em nosso caminho até aqui!

Collected Writings, Vol. 21, pág. 241

J. N. Darby

Compartilhar
Rolar para cima