Origem: Revista O Cristão – O Homem Celestial

O Propósito de Deus para com os Vasos

2 Coríntios 4:6-7 

“Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu [ou “acendeu uma tocha”] em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”.

Estes versos expressam o maravilhoso propósito de Deus! Para que resplandeça dentro de nós e então começar a lidar conosco para que Ele reduza nosso vaso de barro à transparência em Suas mãos – para que a glória de Deus, brilhando em Jesus nas alturas, resplandeça no nosso coração, para que possamos ser as tochas de Deus nas trevas de um mundo que rejeita a Cristo.

Alguns se referiram às tochas e aos cântaros de Gideão (Juízes 7) como uma analogia da glória de Deus brilhando em nosso vaso de barro. No entanto, as tochas do dia de Gideão brilharam apenas quando o vaso foi quebrado. Aqui, o vaso não está quebrado, mas foi feito completamente transparente. Todos os elementos impeditivos da carne são tão atenuados (diminuídos e tornados pequenos) que o “tesouro” que há dentro do vaso pode brilhar sem impedimento. Assim, Paulo diz no verso 10: “levando sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a Sua vida se manifeste em nosso corpo” (2 Co 4:10 – ARA).

Paulo, um vaso resplandecente 

As circunstâncias pelas quais Paulo estava passando quando escreveu suas cartas a Corinto merecem nossa séria consideração, pois mostram como seu próprio vaso estava se tornando mais transparente para o resplendor da glória de Deus. Seus sentimentos e circunstâncias entraram em todo o caráter do ensinamento que fluía de Deus para nós em suas cartas. Quando seu vaso passou pelas provações ou exercícios, seu coração foi treinado. Suas afeições foram formadas por essas coisas, e ele foi sustentado e apoiado por Deus nas tristezas do caminho, de modo que “do seu ventre correrão rios de água viva”. Paulo havia bebido do rio de águas vivas que é a fonte de todas as bênçãos (Jo 7:37-38). Sua sede foi saciada por Cristo. E assim o seu homem interior – a mente, o coração, a alma – tornou-se o meio de frescor fluindo para os outros. Aquilo que consolara sua alma em sua tristeza era um consolo para os outros. O Pai das misericórdias tão abençoadamente preencheu a alma de Paulo com toda a Sua consolação em Cristo que transbordou, e o rio passou em poder vivo, produzindo frutos nas areias do deserto do mundo aonde ele foi.

Paulo teve que aprender a viver no poder daquilo que ele ensinaria aos outros. Seu propósito era levar em seu corpo o morrer de Jesus. Como ele poderia ser ajudado nisso? Ao ser entregue à morte por amor a Jesus, a vida de Jesus pôde se manifestar em sua carne mortal. Esta é a recompensa de Deus para aqueles que procuram viver no poder do que ensinam e conhecem.

Paulo em aflição 

Depois de escrever sua primeira carta aos coríntios, uma profunda angústia encheu sua alma. A energia do Espírito, na qual ele havia sido sustentado quando escreveu aos coríntios, havia diminuído, enquanto esperava angustiado por uma reação à sua carta. Ele temia ter perdido os amados coríntios. Como eles receberam sua carta? Foi muito dura, muito severa? Em um exercício profundo, ele se arrependeu de tê-la escrito, “Embora já me tivesse arrependido”, disse ele, falando do exercício de seu coração provado (2 Co 7:8). Houve uma morte maior do que a do corpo, que pairou sobre sua vida, sua alma morreu dentro dele, por assim dizer, na amargura de sua tristeza. Alguns passaram por esse tipo de morte. Somente aqueles que em alguma medida passaram por ela entendem isso. Paulo não podia nem mesmo descansar em seu espírito com uma grande e próspera obra em Trôade, mas ele foi em busca de Tito para que sua alma fosse aliviada pelas notícias de Corinto que Tito trazia (2 Co 2:13).

Pressão após pressão ele suportou nas mãos do oleiro, pois ele era apenas o barro sobre a roda, crescendo sob o hábil olho e mão do Mestre. Todas essas provações variadas caíram como uma esmagadora morte da alma sobre ele. Deus estava atenuando a opacidade que ainda permanecia, para que a luz pudesse brilhar com mais força, que o tesouro de seu coração pudesse ser visto mais claramente, e que o propósito de Deus no vaso pudesse ser manifestado sem impedimentos.

Então, finalmente, Paulo foi consolado pela vinda de Tito (2 Co 7:6). Que momento de conforto da alma agora se seguiu! Ele disse: “fomos consolados pela vossa consolação e muito mais nos alegramos pela alegria de Tito, porque o seu espírito foi recreado por vós todos” (2 Co 7:13). Ele pôde dizer bem: “Ó coríntios, a nossa boca está aberta para vós, o nosso coração está dilatado”. Ele pode derramar o ensinamento de seu coração. Ele está desimpedido em sua alegria.

Que momento para o verdadeiro servo! Que momento para o povo de Deus! Mal sabiam eles como o coração do servo era impedido no ministério, como as fontes de Deus estavam secas para eles por causa de seu estado, e como, ao mesmo tempo, o servo teve que aprender novas lições de morte agindo em si mesmo. Sua palavra mais brilhante se tornou sombria, porque o Espírito de Deus Se entristeceu e o coração deles era tardio em ouvir. Deus tinha que ser um repreensor tanto do servo quando do povo, em vez de ribeiros de águas em lugares secos.

O evangelho da glória 

Agora, em Paulo, vemos que a misericórdia soberana é a base do evangelho da glória. Isto é o que Paulo chama de “nosso evangelho” (cap. 4:3). O que era esse evangelho? Por meio dele “este tesouro” foi comunicado a Paulo, que está aqui como o homem representativo – o padrão para todos. A misericórdia soberana e gratuita brilhou na vida deste homem mais plenamente do que em qualquer outro. Ele disse: “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos”.

“Nosso evangelho” vem da glória de Deus. Surge como um ministério de justiça e do Espírito (2 Co 3:8-9) – não mais como o ministério de “condenação” e “morte”. “Nosso evangelho” brilha da face d’Aquele que realizou a obra. Deus O colocou em Seu trono como testemunha da estima que Ele tem da obra que Ele realizou.

Os tesouros 

O que era esse tesouro que ele possuía? O “tesouro” era este – tudo o que foi gerado da glória de Deus, como encontrado em Cristo ali, e possuído no vaso de barro. O vaso recebeu o tesouro no coração e depois veio o processo de enfraquecimento, que preparou o vaso para mostrar o tesouro de melhor maneira. A luz foi absorvida pelos exercícios da consciência e brilhou através dos exercícios do coração. A “vida de Jesus” precisava brilhar no vaso de barro. A leveza momentânea da aflição contribuiu para ampliar a capacidade e dar como resultado um peso de glória muito maior e eterno.

E que vaso estranho para tal tesouro! Paulo não permitiria que seu vaso escondesse o tesouro, mas queria exibi-lo totalmente. O capítulo 3 desta carta explica isso lembrando de um momento da história de Israel, quando Sua soberania e misericórdia brilharam quando Moisés desceu do monte pela segunda vez. Quando Moisés desceu do monte com a segunda tábua da lei na mão, a pele do seu rosto resplandecia com o brilho deste nome fresco e adequado: “JEOVÁ, o SENHOR, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade”.

Este foi o propósito de Deus com o vaso de barro. Este foi o processo para fazer com que se tornasse o que Ele desejava. A luz da glória na face de Jesus brilhou no Santo dos Santos nas alturas e na Terra brilhou no vaso escolhido.

Adaptado de A Chosen Vessel

F. G. Patterson

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