Origem: Revista O Cristão – Propiciação e Reconciliação
Propiciação: O Que é e Onde é Feita?
No Velho Testamento, a propiciação era feita no propiciatório no Santo dos Santos, e se nos voltarmos aos detalhes do que acontecia no grande dia da expiação, conforme descrito em Levítico 16, seremos capazes de entender sua importância. Nos ritos daquele dia solene, encontramos prescrita a maneira que Arão deveria entrar no santuário, mas precisamos nos ocupar, para o presente propósito, com o sangue da oferta pelo pecado, seja o do novilho, que era por ele e sua casa ou o do bode, que era a oferta pelo pecado pelo povo. Devemos notar, no entanto, que antes que o sangue dessas ofertas fosse tratado, Arão foi instruído: “Tomará também o incensário cheio de brasas de fogo do altar, de diante do SENHOR, e os seus punhos cheios de incenso aromático moído, e o levará para dentro do véu. E porá o incenso sobre o fogo perante o SENHOR, e a nuvem do incenso cobrirá o propiciatório, que está sobre o testemunho, para que não morra” (Lv 16:12-13). Esse incenso ardente, com os doces odores que emitia ao entrar em contato com o fogo sagrado, é uma figura das perfeições e graças perfumadas do próprio Cristo a Deus, e é, portanto, um lembrete precioso de que a Pessoa e a obra de Cristo nunca podem ser separadas. Sua obra perfeita deriva em todo o seu valor do que Ele era em Si mesmo, pois todo o valor e preciosidade de Sua Pessoa, diante de Deus, entram em Sua obra.
O sangue no propiciatório
Primeiro, o sangue era aspergido sobre o propiciatório, e era essa aspersão que constituía a propiciação, pois o propiciatório [trono de misericórdia – KJV] era o trono de Deus no meio de Israel. Jeová era santo e, como tal, reivindicou a santidade de Seu povo; a lei foi dada como o padrão de Seus requisitos. Mas, logo que a lei foi dada, ela foi transgredida, e sua justa pena de morte deveria ter sido exigida, a menos que fosse encontrado um meio de satisfazer as reivindicações de um Deus santo sobre uma nação de pecadores. O próprio Deus promulgou o fundamento justo sobre o qual a expiação poderia ser feita pelos pecados deles e sobre o qual Ele ainda podia habitar no meio deles e manter com eles um relacionamento de graça; esse fundamento foi encontrado no sangue da oferta pelo pecado, que era aspergida anualmente no grande dia da expiação sobre o propiciatório. O fogo que consumia o corpo da oferta pelo pecado fora do arraial falava de um santo julgamento contra o pecado; a gordura queimada no altar falava da perfeição interior e da aceitação da vítima, isto é, de Cristo como prefigurado por ela, enquanto o sangue aspergido sobre o propiciatório atendia, em favor do povo, a todas as santas reivindicações de Jeová que Ele tinha contra eles por causa dos pecados deles (Lv 17:11). Quando, portanto, os olhos de Deus repousaram sobre o sangue aspergido, Ele ficou satisfeito e pôde de maneira justa passar por cima dos pecados de Seu povo ano após ano, pois Ele ainda podia habitar no meio deles e manter os relacionamentos que Ele havia estabelecido.
Mas essa cerimônia anual era uma figura, prenunciando, como ela fazia, o sacrifício perfeito de Cristo (Hb 9-10; 13:11-13). O apóstolo João, portanto, nos diz que Jesus Cristo, o Justo, é a propiciação por nossos pecados e também pelos de todo o mundo (1 Jo 2:2; 4:10). A partir disso, aprendemos que o sangue de Cristo fez de uma vez por todas o que o sangue da oferta pelo pecado, em figura, realizou para todo o ano no dia da expiação; isto é, fez a propiciação. É verdade que João diz que o próprio Cristo é a propiciação, mas também lemos que Deus estabeleceu a Ele como um propiciatório por meio da fé, em Seu sangue (Rm 3:25); de onde entendemos que o sangue de Cristo, obtendo, como já vimos, todo o seu tremendo valor daquilo que Ele era em Si mesmo, tem respondido a todas as reivindicações de Deus sobre os homens pecadores e O glorificou em tudo o que Ele é quanto à questão de pecado e pecados. Portanto, agora Deus pode justificar justamente todos que creem em Jesus (Rm 3:26) e pode enviar o evangelho de Sua graça a todo o mundo.
O sangue aspergido sete vezes
Em segundo lugar, o sangue era aspergido sete vezes diante do propiciatório. Este era o lugar ao qual o sumo sacerdote se aproximava e, dessa maneira, representava sua posição diante de Deus. O sangue era ali aspergido em testemunho de que a propiciação havia sido feita, e era aspergido sete vezes para que pudesse ser um testemunho perfeito. Uma vez era suficiente para os olhos de Deus, como sinal de que todas as Suas reivindicações haviam sido satisfeitas, mas Deus deu ao homem uma perfeita certeza de que a propiciação havia sido realizada e, portanto, era aspergida diante do propiciatório sete vezes. Portanto, quem quer que receba o testemunho de Deus no evangelho e, assim, se aproxime do propiciatório (Cristo), “pela fé no Seu sangue”, encontra, na própria presença de Deus, o testemunho perfeito de que foi feita propiciação por seus pecados, bem como que eles foram levados por Outro e levados embora para sempre (Lv 16:21-22).
Onde era feita a propiciação?
Na antiga dispensação, a propiciação era claramente feita no Santo dos Santos, pois era “no Santo lugar” (TB) que “o sumo sacerdote cada ano entra no santuário com sangue alheio” (Hb 9:25). Entretanto, ao dar o que corresponde a isso na obra de nosso Senhor – isto é, a parte propiciatória de Sua obra – o Espírito Santo diz: “Mas agora na consumação dos séculos uma vez Se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de Si mesmo” (Hb 9:26). Que isso é propiciação, todos estão de acordo; assim, enquanto o sumo sacerdote de Israel fez propiciação no santuário terrestre, foi na cruz que Cristo fez propiciação. A obra de propiciação foi feita e completada na cruz; Cristo “entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas” era sob o fundamento de ter “obtido uma eterna redenção” (Hb 9:12 – ARA). Lá no Calvário, Sua obra de expiação foi concluída – terminada pelo sacrifício de Si mesmo, quando Ele, por meio do Espírito eterno, Se ofereceu a Si mesmo imaculado a Deus.
Os efeitos da propiciação
A propiciação é a base sobre a qual Deus envia a mensagem de apelo do evangelho ao mundo inteiro. Tendo sido completamente glorificado em relação ao pecado e aos pecados, Ele pode satisfazer Seu próprio coração, fazendo com que as poderosas correntes de Sua graça fluam para toda criatura sob o céu e emitindo a proclamação: “Quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22:17). Ele pode, portanto, ser Justo e Justificador de todos os que creem em Jesus. Por fim, nesta mesma base, o pecado do mundo (não os pecados), é totalmente retirado (Jo 1:29; Hb 9:26), e Deus Se agradou em nos revelar a cena em que isso foi realizado – no novo céu e nova Terra, onde habita a justiça. Por isso, é que então “não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21:4). Estes céus e esta Terra serão substituídos por uma cena em que Deus será tudo em todos.
