Origem: Livro: O “Velho Homem”, O “Novo Homem”, O “Eu”
O Mesmo “Vaso”
Consequentemente, o crente, em si mesmo, é o cenário de um conflito no qual a natureza divina e espiritual está subjugando, e realmente subjuga, a natural e sensual. Sua individualidade permanece inalterada, e sua humanidade, em todos os seus aspectos – quer bons ou maus – permanece consigo, mas é seu privilégio olhar para o tempo decorrido de sua vida, com todos os seus pecados, como sendo, de fato, do passado. Pode, por fé, reconhecer-se um pecador para estar morto com Cristo, convicto de que todos os seus pecados e responsabilidade, como um homem perante Deus, terminaram na cruz. Experimenta também a presença e poder do Espírito de Deus, como fortalecedor daquela nova e eterna vida, a qual Deus lhe deu em Cristo. Por este Espírito, o crente mortifica as obras do corpo. Apresenta seu corpo como um sacrifício vivo. Purifica sua alma pela obediência à verdade. Seu coração é purificado por fé. Permanecendo em Cristo, purifica-se a si mesmo. Dessa maneira, seu próprio corpo, alma e coração são trazidos sob a influente presença do Espírito de Deus. Às vezes pergunta-se: É do velho coração que se fala? Mas a resposta é que a Escritura nunca fala dos cristãos como tendo dois corações. O que ela ensina é que a energia e o fruto da natureza divina devem ser expressos pelo crente, na (e pela) mesma capacidade e na mesma pessoa, na qual ele, outrora, viveu e caminhou como um pecador, porque “o corpo é para o Senhor” (1 Co.6.13). Assim, a boca – que estava “cheia de maldição e amargura” (Rm.3.14) – está, agora, repleta de “sacrifício de louvor” (Hb.13.15); o coração – “enganoso mais do que todas as coisas, e perverso” (Jr.17.9) – é ,agora, o lugar da morada de Cristo pela fé; os pés – “antes ligeiros para derramar sangue” (Rm.3.15)- são ,agora, “calçados com a preparação do evangelho da paz” (Ef.6.15); as mãos – que furtavam – agora, não furtam mais, antes, trabalham, fazendo o que é bom para ter o que repartir com o que tiver necessidade (Ef.4.28). Cristo deve ser engrandecido no seu corpo, quer pela vida ou pela morte. O novo poder é posto no velho vaso para ali operar vitória e destruição de toda concupiscência, na dominação da vontade do homem, assim como para trazer o todo – corpo, alma e espírito do crente – à sujeição e conservá-lo irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. Seu poder para vencer reside na fé nessas verdades: a morte do velho homem e a existência do novo homem perante Deus. Porque Deus diz que ele está “morto”, ele mortifica, isto é, condena, na prática, tudo aquilo que é inconsistente com a morte e cruz de Cristo. Porque sua vida está escondida com Cristo em Deus, busca as coisas que são de cima e vive na terra como um homem celestial, aplicando os pensamentos e princípios de Deus em cada detalhe de sua vida diária. Ele lembra que a morte passou sobre o Bendito Senhor quando Ele tomou o lugar do pecador em julgamento e assim, pela fé, ele transfere o mesmo julgamento para si e para todo o seu estado passado e circunstâncias como um pecador, e para cada movimento presente da (ou apelo para a) carne.
Isto – e nada menos do que isto – é Cristianismo, e é no próprio indivíduo – no cristão – habitado e guiado pelo Espírito Santo, que Deus deve ser glorificado neste mundo. Em gloriosa ressurreição, o crente receberá um corpo tal como o glorioso corpo de Cristo, mas, para o presente, o propósito de Deus é ter um povo vivendo no poder da vida divina, de maneira que Ele pode ser glorificado em seus corpos, os quais são de Deus. Tal pessoa pode dizer: “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl.2.20). Estão aqui, então, os três Eus: Eu, o velho homem crucificado com Cristo; Eu, o novo homem, Cristo que vive em mim; Eu, o indivíduo que vive na carne, mas vive pela fé do Filho de Deus, que me amou e Se entregou a Si mesmo por mim. Note, Ele me amou, não o velho homem, nem o novo homem, mas me – o indivíduo – antes um pecador, mas agora, por seu amor, constrangido a viver não para mim mesmo, mas para Aquele que por mim morreu e ressuscitou.
