Origem: Livro: Duas Naturezas

Sepultado com Ele pelo Batismo

É preciso falar um pouco sobre o batismo, embora esteja apenas indiretamente relacionado ao nosso assunto. Muitos acreditam que nascer da água (Jo 3:5) se refere ao batismo. Eles falam sobre nascer de novo por meio do batismo – essa é a chamada doutrina da regeneração batismal. A Escritura ensina claramente que a água do batismo não pode remover a imundícia da carne (1 Pe 3:21). A água, da mesma forma, não pode conferir ou produzir nova vida. A água mencionada no terceiro capítulo de João é figura da Palavra de Deus como Pedro e Tiago confirmam (1 Pe 1:23; Tg 1:18). O batismo é sobretudo, um sepultamento; nada poderia estar em maior contraste com o dar a vida. Por meio dele, estamos externamente dissociados de nossa vida anterior e colocados em um novo lugar na terra – não no céu. O batismo é administrativo e não judicial. Uma pessoa pode ser batizada e não ser salva (At 8:13). Por outro lado, todo verdadeiro crente tem novo nascimento, seja batizado ou não.

“Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na Sua morte? De sorte que fomos sepultados com Ele pelo batismo na morte” (Rm 6:3-4). Por meio do batismo, deixamos administrativamente a vida de Adão pela morte. Este ensino nos é retratado no Velho Testamento na travessia do Mar Vermelho “Nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem, e todos passaram pelo mar e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (1 Co 10:1-2). Ao atravessar o Mar Vermelho, os filhos de Israel foram libertados de suas antigas associações, a morte sendo a figura, e se encontraram em uma nova posição – o deserto. Além disso, os filhos de Israel, tendo sido separados do Egito e de seu governante, estavam agora sob uma nova autoridade – a de Moisés. Nós, que fomos batizados, também fomos colocados administrativamente em uma nova posição diante do homem e de Deus, e estamos sob uma nova autoridade, a de Cristo. Existe uma conduta compatível com a posição assumida. Notamos que todos os filhos de Israel homens, mulheres e crianças – foram levados através do Mar Vermelho para esta nova posição,[18] embora muitos tenham falhado em entrar na Terra Prometida por causa de sua incredulidade (Hb 4:6). Tanto Lídia quanto o carcereiro filipense (Atos 16) tiveram sua casa batizada. Em ambos os casos, apenas a fé pessoal do indivíduo é registrada; no entanto, nenhuma parte de sua casa seria deixada no Egito – sua casa foi externamente marcada como Cristã; não era mais judia ou pagã.
[18] Embora apenas os pais sejam mencionados em Coríntios, eles eram responsáveis ​​por suas famílias. Moisés insistiu em que os pequeninos não podiam e não seriam deixados para trás (Êx 10:8-11).

É necessário corrigirmos algumas outras coisas atribuídas ao batismo. O batismo não é a lavagem da regeneração de que fala Tito, embora seja uma figura dela. O batismo não nos dá a remissão de pecados. É verdade que lemos: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados (At 2:38).[19] Neste capítulo, Pedro está pregando para uma multidão de judeus menos de dois meses após a crucificação. Esses israelitas, cientes de sua precária posição por terem crucificado seu Messias, não estavam recebendo a promessa da remissão de seus pecados no ato do batismo. Em vez disso, o batismo era para ou tinha em vista a remissão de pecados. Eles foram identificados com uma geração perversa e, como tal, eram culpados do sangue de Jesus (vs. 36, 40). O juízo viria sobre aquela nação e cidade (como aconteceu em 70 d.C.). No batismo, porém, eles se desassociariam daquele povo culpado. Ao fazê-lo, ficaram em um lugar onde a remissão poderia vir. Observamos também (sem entrar em detalhes) que o batismo não nos torna membros de Cristo e não nos admite na Igreja. Essas doutrinas errôneas são amplamente ensinadas.
[19] Aqueles que ensinam essa distinção entre o pecado original e o pecado real; o batismo não nos dá remissão de nenhum dos dois.

Existem, entretanto, coisas que o batismo faz – identificação com Cristo na morte, identificação com uma nova autoridade e assim por diante. Em cada caso, o batismo trata da nossa posição externa e não do nosso estado interno. Nenhuma ordenança pode mudar o estado interno do homem. Pedro nos diz que o batismo salva, mas em que sentido? “Como uma verdadeira figura, agora vos salva, o batismo, não do despojamento da imundícia da carne” (1 Pe 3:21 ARF). O batismo nos salva deste mundo mau – a separação que já existia entre Noé e o mal antes do dilúvio, não poderia ter sido mais completa. Tão certo quanto o batismo nos associa a Cristo em Sua morte; também nos desassocia de nossa identidade anterior – assim como aconteceu com os judeus em Atos dois (At 2:38, 40). O batismo também lava o pecado, mas em que sentido se não remove a imundícia da carne? “E, agora, por que te deténs? Levanta-te, e batiza-te, e lava os teus pecados, invocando o nome do Senhor” (At 22:16). Paulo não queria ter nada a ver com seu eu anterior (Fp 3:8). No batismo, tudo isso foi colocado externamente em um lugar de julgamento. Neste capítulo, Paulo relata sua conversão perante os judeus. Por causa do batismo, eles não poderiam mais acusá-lo de ser o que fora formalmente – na verdade, por causa do batismo, ele seria rejeitado como apóstata. Não há menção disso no relato histórico (Atos 9), nem quando ele falou aos gentios (Atos 26). Se houvesse um sentido mais significativo, teria sido encontrado em todas as três vezes mencionadas. No batismo, nós nos revestimos de Cristo (Gl 3:27-28). Mais uma vez, exteriormente, com certeza o batismo o faz. O soldado de um regimento veste um novo uniforme – isso pouco diz sobre sua conduta futura, ou mesmo sobre sua preparação para a função, mas certamente o identifica perante o mundo como parte daquele regimento. Da mesma forma, o batismo me torna um discípulo (Mt 28:19). Também me leva à esfera da profissão Cristã (Ef 4:4-6).

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