Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna

Predestinado à Destruição?

Um ponto abordado anteriormente é de tanta importância que devemos ir mais longe. João Calvino ensinou que Deus predestina alguns para a salvação e outros para a destruição. O capítulo vinte e um do livro “Institutos da Religião Cristã” de Calvino é intitulado: “A Eleição Eterna, pela qual Deus Predestinou Alguns para a Salvação e Outros para a Destruição”. Isso não é apoiado pela Palavra de Deus. O homem está destinado à condenação apenas porque pecou, não porque Deus o predestinou para esse fim. Além disso, Deus não criou Adão com uma predisposição para fazer o mal – Adão tinha um livre arbítrio perfeito.[2] Todos no inferno reconhecerão a justiça de sua sentença, e que sua presença ali é resultado de seus próprios atos. Por outro lado, ninguém no céu reivindicará qualquer participação por ter chegado lá.
[2] Livre quanto à capacidade. Adão estava sob o comando de Deus; ele não era moralmente livre para agir como quisesse.

A eleição não se limita ao Novo Testamento. Em Jacó, temos um escolhido de Deus – escolhido antes de nascer e antes de fazer o bem ou o mal. “Porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por Aquele que chama), foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. Como está escrito: Amei Jacó e aborreci [odiei – JND] Esaú” (Rm 9:11-13). Se Jacó foi escolhido para benção, o que dizer de Esaú? Deus o predestinou para ser objeto de ódio? A resposta é enfaticamente, não! A declaração citada pelo apóstolo Paulo vem no final do Velho Testamento, não no nascimento de Esaú. É encontrado no livro de Malaquias (Ml 1:2-3). A disposição de Deus para com Esaú resultou unicamente de seu próprio comportamento. Esaú era um homem profano e sua conduta demonstrou isso (Hb 12:16).

E quanto ao Faraó? Não lemos que Deus endureceu o coração de Faraó (Rm 9:17-18; Êx 9:12)? Uma leitura cuidadosa do relato histórico mostra que Deus a princípio não endureceu o coração de Faraó — ele endureceu a si mesmo.[3] “Porém o coração de Faraó se endureceu, e não os ouviu, como o Senhor tinha dito. Então, disse o Senhor a Moisés: O coração de Faraó está obstinado; {ou pesado} recusa deixar ir o povo” (Ex 7:13-14). É somente ao chegarmos ao nono capítulo de Êxodo – depois de muitos casos do próprio endurecimento obstinado do coração de Faraó – que encontramos Deus endurecendo judicialmente seu coração. Faraó manifestou o estado de seu próprio coração antes de Deus agir em juízo. Algo semelhante pode ser dito de Judas. Haveria um traidor, mas não precisava ser Judas. Por causa de sua avareza, ele escolheu esse papel para si mesmo. O Senhor conhecia o caráter de Judas quando o escolheu, assim como Deus sabia como o Faraó se comportaria; nenhum deles, entretanto, foi predestinado a seus respectivos destinos por Deus. “Não falo de todos vós; eu bem sei os que tenho escolhido; mas para que se cumpra a Escritura: O que come o pão comigo levantou contra mim o seu calcanhar” (Jo 13:18).
[3] A versão King James parece sugerir o contrário, mas isso é resultado de uma tradução inadequada.

Paulo em sua epístola aos Romanos prossegue dizendo algo mais, o que, aparentemente, pode parecer insinuar que Deus prepara algumas pessoas para a destruição. “E que direis se Deus, querendo mostrar a Sua ira e dar a conhecer o Seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição” (Rm 9:22). Os vasos preparados para destruição são preparados por causa de sua própria conduta – como com Esaú. Deus não preparou ninguém para a destruição e nem este versículo diz isso. Por outro lado, quando se trata daqueles que Ele escolheu para abençoar, é o que Paulo escreve: “Para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou (Rm 9:23) Observe o contraste: nada no versículo 22 nos fala sobre Deus preparando as pessoas de antemão para a destruição.

Finalmente, o que dizer do versículo que diz: “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9:21). Esse versículo responde a: “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim?” (Rm 9:20). O homem culpa a Deus por seu comportamento.[4] Este é um argumento amplamente usado para justificar uma conduta que viola claramente a Palavra de Deus. Mas quem são os vasos de honra e desonra? Não devemos confundir estes com os salvos e perdidos. O capítulo continua falando de judeu e gentio (Rm 9:24-33). Israel foi um povo escolhido e um vaso de honra para Deus. Os gentios, por outro lado, rejeitaram a Deus (Rm 1:21) e foram entregues “a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém” (Rm 1:28). Alguém poderia ter sido mais desonroso a Deus do que os gentios? E ainda, “Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé” (Rm 9:30).
[4] Por um lado, o homem insiste que tem livre arbítrio, mas, por outro lado, culpa a Deus por quem ele é! Nenhum dos dois é verdade.

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