Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna
Livre Arbítrio
Já falamos da pregação – mas aqueles que ouvem a mensagem do evangelho optam por aceitá-la ou rejeitá-la? O evangelho não é uma escolha e nem deve ser apresentado desta forma – é uma questão de obediência. “Deus… ordena agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam” (At 17:30 – JND). Você não diz a um devedor que ele tem escolha quanto à sua dívida. O homem supõe que pode julgar a Palavra de Deus; ele vai pesar as evidências e decidir por sua própria vontade. Quando deixada à vontade do homem, a conclusão é a mesma que a de Agripa: “Por pouco me queres persuadir a que me faça Cristão” (At 26:28). Da mesma forma, os humanos colocam Deus no tribunal; se eles não gostam do que veem, rejeitam Deus completamente. “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas?” (Rm 9:20). Isso não é apenas arrogância, mas também loucura. O acusado no banco dos réus pode formar uma opinião sobre o juiz; ele pode tapar os ouvidos e fechar os olhos, mas ainda está no banco dos réus! Notavelmente, à medida que os povos deste mundo excluem Deus de sua consciência, a violência e a corrupção só aumentam. “E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém [imprópria – JND]” (Rm 1:28). O comportamento do homem justifica a Deus e condena a si mesmo.
O assunto do livre arbítrio é um campo do pensamento filosófico e teológico no qual não desejo entrar. Bastarão alguns breves comentários sobre o assunto. Muitos conectam a noção de livre arbítrio com amor. Eles dirão que amor não é amor a menos que seja livre. Deus, dizem, não estaria satisfeito com o afeto de um mero robô. Isso erra o alvo completamente. O homem não foi criado um robô; ele fez uma escolha no Jardim do Éden e, como resultado, o homem se tornou um pecador. Ninguém o obrigou a ser desobediente naquela época e, por falar nisso, ninguém o obriga a ser desobediente agora. Ele se encontra em sua situação atual por meio de sua própria vontade. Tendo escolhido um caminho de desobediência deliberada, o homem se colocou no caminho da independência em relação a Deus. O conhecimento do bem e do mal não foi o benefício sugerido pela serpente. Com esse conhecimento, mas tendo escolhido um caminho de vontade própria, o homem se encontra em posição desesperadora. Ele está perdido e sem meios para a própria recuperação. Não que Deus impeça o homem de receber a Cristo – longe disso. Mas mesmo quando Deus emprega todos os motivos possíveis, tudo o que seria capaz de influenciar o coração do homem, só serve para demonstrar que o homem não possui nada disso. Seu coração está tão corrompido e sua vontade tão decidida a não se submeter a Deus, que nada pode induzi-lo a receber o Senhor e a abandonar o pecado (J. N. Darby, Letter on Free-will, Elberfeld, October 23, 1861.). A cruz de Cristo é a prova cabal disso – o homem rejeitou o Filho de Deus e O crucificou.
Na raiz da noção de livre arbítrio está o fracasso em reconhecer totalmente a completa ruína do homem. Se tenho diante de mim uma escolha entre o bem de um lado, e o mal de outro, então não estou em nenhuma dessas posições no momento. Adão fez uma escolha e escolheu o mal; além disso, o mal é plenamente manifestado na conduta de seus descendentes. Se o homem está em um estado em que a escolha do bem deve ser feita, então ele está fora do bem![8] Como ele chegou a essa posição? Por seu próprio raciocínio, o homem condena a si mesmo.
[8]  Ele não pode alegar estar em um estado de inocência. ↑
Eu estava em cativeiro e Cristo pagou o preço da minha redenção; isso põe de lado completamente a noção de livre arbítrio. Se eu fosse livre, então não precisaria ser redimido. Se o homem tem algo de bom nele, então a velha natureza deixa de existir – mas, em vez disso, é uma velha natureza com um germe de bem; a salvação se torna uma melhoria da velha natureza. Se apenas uma pessoa tivesse guardado a lei ou recebido a Cristo, não haveria necessidade de um Salvador. Isso teria demonstrado uma conduta justa no homem – reconhecendo, é claro, que um ato correto não torna ninguém justo; qualquer pecado da minha parte ainda me condena. Porém, não foi assim que aconteceu, e agora na cruz tanto a justiça de Deus quanto Seu amor perfeito são exibidos: “A misericórdia e a verdade se encontraram; a justiça e a paz se beijaram” (Sl 85:10). “Conhecemos a {ou o amor} caridade nisto: que ele deu a sua vida por nós” (1 Jo 3:16).
A doutrina Wesleyana[9] busca manter o livre arbítrio introduzindo o conceito de graça precedente. Esta graça, supostamente de Deus, permite a uma pessoa empregar seu livre arbítrio dado por Deus, para escolher ou rejeitar a salvação oferecida em Jesus Cristo. Disto, entretanto, a Escritura nada diz. Nenhum dos versículos dados em apoio a este ensino fala disso. É dito que Deus seria injusto (e pior ainda, imoral) em oferecer a salvação quando sabe que o homem não a aceitará. Consequentemente, todos aqueles versículos que falam do evangelho sendo transmitido a todos é dito subentenderem a graça precedente. Graça precedente simplesmente não é encontrada na Palavra de Deus; é um dispositivo inventado por teólogos. Verdadeiramente, a oferta de salvação de Deus é para todos, assim como o convite para a Grande Ceia foi feito a todos. O fato de ninguém ter respondido por iniciativa própria torna o mestre injusto ou, pior ainda, imoral? A sugestão é blasfema. Não, alguém diria que graça, que amor! Se Deus nos desse a capacidade de escolhermos o bem ao invés do mal, então onde estaríamos agora? Certamente isso nos restauraria a um estado de inocência[10] (mesmo momentaneamente). Como isso seria justo da parte de Deus? E, se inocente, por que preciso de salvação?
[9]  John Wesley (1703-1791) foi o fundador do movimento Metodista. ↑
[10]  É importante reconhecer que Adão não estava exposto ao bem e ao mal quando na inocência. Ele estava no lugar de todo o bem. É um horrível pensamento supor que Deus algum dia colocaria o homem fora de ambos, do bem e do mal. ↑
