Origem: Livro: Eleição, Livre Arbítrio e Segurança Eterna
Hebreus Seis
O sexto capítulo de Hebreus é um parêntese. O capítulo cinco nos apresenta o sacerdócio de Cristo pela ordem de Melquisedeque – um sacerdócio superior ao de Aarão. O escritor deseja desenvolver o assunto, mas é impedido: “Chamado por Deus sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque. Do qual muito temos que dizer, de difícil interpretação, porquanto vos fizestes negligentes para ouvir” (Hb 5:10-11). Ainda eram bebês necessitando de leite: “Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino” (Hb 5:13). No capítulo sete, finalmente temos o assunto por completo. No meio, entretanto, o leitor é instado a deixar sua posição judaica com suas esperanças terrenas, esperando por um Messias terreno. Se foi até aqui que chegou sua fé, eles estavam perdidos. “Prossigamos até a perfeição” (Hb 6:1).
“Pelo que, deixando os rudimentos da doutrina de Cristo, prossigamos até a perfeição, não lançando de novo o fundamento do arrependimento de obras mortas e de fé em Deus” (Hb 6:1). Esta é uma declaração notável. Por que seríamos instruídos a abandonar os princípios da doutrina de Cristo? Cristo é a palavra grega para ungido e corresponde à palavra hebraica Messias. Eles foram exortados a avançar após os princípios, ou mais corretamente, a deixar as doutrinas elementares do Messias, para algo que acompanhava o pleno crescimento espiritual. Jesus havia cumprido as profecias do Velho Testamento, então não havia nenhum ganho por reexaminá-las – ninguém mais viria para cumpri-las. Da mesma forma, arrependimento e fé em Deus eram assuntos conhecidos – o que eles precisavam era de uma fé pessoal na Pessoa e obra do Senhor Jesus Cristo.
O batismo, conforme encontrado no segundo versículo, é mal interpretado por muitos, como aquela prática encontrada no Cristianismo. O grego original significa simplesmente lavar (ver Marcos 7:4). Para o judeu, havia várias lavagens cerimoniais. Também sabemos que o batismo de pessoas era uma prática judaica. Em Atos, lemos sobre aqueles que tinham conhecido apenas o batismo de João Batista: “Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados, então? E eles disseram: No batismo de João” (At 19:3). Isso foi em antecipação à vinda de Cristo; não era o batismo Cristão. Paulo prossegue, dizendo: “Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse No que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus” (At 19:4-5). O que aconteceria se os homens neste contexto, tendo ouvido falar da morte e ressurreição de Jesus, O tivessem rejeitado? Eles reconheceram a condição de Israel e se arrependeram; eles foram batizados por João em antecipação à vinda de Cristo; se rejeitassem Aquele a quem João anunciou, o que aconteceria? Eles não poderiam voltar à posição que desfrutavam como discípulos de João. Para o que eles se arrependeram? Não houve novo arrependimento; não havia outro Messias. Eles se perderiam.
“Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus e as virtudes do século futuro, e recaíram sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus e o expõem ao vitupério” (Hb 6:4-6). Mais uma vez, esses versículos causam todos os tipos de dificuldades. No entanto, se os lermos com atenção, compreendendo as palavras usadas e o contexto em que foram escritas, descobriremos que não apresentam qualquer dificuldade. Alguém perguntará, iluminado e feito participante do Espírito Santo não descreve alguém que é salvo? A resposta é, não necessariamente. As nuances de um idioma muitas vezes se perdem na tradução. Este é um daqueles casos, que levanta a questão, como nós, que não somos estudiosos gregos, discernimos o significado pretendido? Uma maneira é considerar o uso da mesma palavra em outro lugar e deixar que a escritura revele o significado. No primeiro capítulo de João lemos: “Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo homem que vem ao mundo” (Jo 1:9 – ARA). A palavra ilumina é a mesma palavra iluminados em nosso capítulo. Significa iluminado e é traduzido em Hebreus 10:32. O Senhor Jesus veio ao mundo como a Luz do mundo, mas os homens amavam as trevas em vez da luz. Quando acendemos uma luz sobre algo, ela se ilumina. Quando a luz é removida, o objeto retorna à escuridão. O mesmo ocorre com os homens quando rejeitam a luz de Deus. Aqueles para quem esta epístola foi escrita ouviram a palavra do Senhor, por meio dos apóstolos (Hb 2:3). Eles haviam se deleitado à luz da verdade; o que eles fariam com isso agora?
Quanto à palavra participante, duas palavras gregas são traduzidas por esta única palavra em inglês. Isso não é incomum. Em inglês, há diferença entre gostar e amar; em francês, ambas são comumente representadas somente pelo verbo aimer. Por outro lado, os franceses têm duas palavras para o verbo saber, que são connaître e savoir (o grego faz uma distinção semelhante). Para entender as duas palavras gregas para participante, podemos abrir uma passagem em Lucas. Imagine o lago de Genesaré. Dois barcos de pesca aparecem. Em um temos os parceiros de Tiago e João (grego: koinonoi) junto com Simão (Lc 5:10 – JND). Eles trabalharam a noite toda sem nenhum resultado. Jesus lhes diz para irem ao alto mar e novamente lançar suas redes. Quando o barco de Simão, sobrecarregado por peixes, começa a afundar, ele acena para seus parceiros (grego: metochoi) em outro barco (Lc 5:7 – JND). Neste retrato, temos a distinção entre as duas palavras – ou estamos no mesmo barco (parceiros junto com Tiago, João e Simão) ou, em barcos separados (colegas pescadores), tentando em vão pescar. A palavra usada em nosso versículo (Hb 6:4) tem o sentido mais fraco de associação. Em que sentido esses judeus fiéis eram participantes do Espírito Santo se não fossem salvos? Talvez alguns estivessem presentes no dia de Pentecostes e tenham testemunhado a manifestação de línguas. Outros podem ter sido curados. Precisamos apenas ler o livro de Atos para ver a atividade do Espírito Santo presente na igreja primitiva. Os destinatários desta epístola foram privilegiados por serem participantes desse tremendo poder e bênção, tendo testemunhado os dons que Deus derramou do alto. Encontramos uma referência a isso no segundo capítulo: “Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas, e dons {ou distribuições} do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade?” (Hb 2:4). Se eles caíssem, tendo experimentado esses maravilhosos sinais de um mundo vindouro, crucificariam novamente para si mesmos o Filho de Deus. Eles haviam reconhecido exteriormente a Jesus como o Messias, mas se O rejeitassem agora, seriam tão culpados quanto aqueles que O crucificaram (Hb 6:5-6). A ignorância não poderia mais ser uma defesa; quanto a eles seria, uma rejeição positiva de sua parte (1 Tm 1:13-16).
Os versículos 1-3 do capítulo 6 vão juntos, assim como os versículos 4-6. Temos primeiro o que é terreno e depois, no segundo grupo, o que é celestial. Dito de outra forma, temos o que veio antes de Cristo ascender e depois o que se seguiu – a vinda do Espírito Santo, por exemplo, dependente de Sua saída deste mundo (Jo 16:7). O livro de Hebreus levanta os olhos do pobre israelita para o céu, para que ele possa ver que eles não perderam seu Messias. Ele estava em glória assentado à destra do trono de Deus (Hb 12:2). A vinda do Espírito Santo foi um poderoso testemunho desse fato.
Dos versículos sete a doze, temos o assunto do fruto. A semente foi lançada – ela daria fruto? A chuva havia caído (as bênçãos espirituais das quais eles haviam participado); faria brotar a erva proveitosa ou o abrolho que deve ser queimado apareceria (Hb 6:7-8)? Lembre-se de que a chuva cai sobre justos e injustos; não recai apenas sobre aqueles que são salvos (Mt 5:45). O escritor esperava coisas boas a respeito deles; coisas que acompanhavam a salvação – assim ele disse, como tinha falado (Hb 6:9). Este versículo contextualiza todo o capítulo. Ele estava preocupado, mas estava otimista de que eles haviam recebido a palavra misturada com fé. Ele foi encorajado pelo fruto que viu, fruto que indicava a salvação. Era seu desejo que cada um deles mostrasse a mesma diligência para a plena certeza de esperança até o fim (Hb 6:11).
Deus deu uma promessa a Abraão, confirmando-a com um juramento (Hb 6:13-18). Deus não pode mentir; sua esperança era certa se eles simplesmente dela se apoderassem. Este foi o encorajamento de que precisavam. Jesus entrou no céu como o Precursor (Hb 6:19-20). Jesus era o Josué deles (Hb 4:8). Josué não foi contado entre os incrédulos. Se eles seguissem Jesus, eles também não falhariam em entrar naquela terra de descanso. “Olhando para Jesus, autor {ou o capitão} e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hb 12:2).
