Origem: Livro: O Espírito Santo
Cheio, Entristecido, ou Extinguido
Embora buscar o batismo do Espírito não seja bíblico, desejar ser cheio do Espírito Santo está na Escritura. Vários exemplos, e o poder que acompanha o testemunho do Espírito, são encontrados no livro de Atos (At 2:4; 4:8, 31; 7:55; 11:24; 13:9, 52). Também temos ensino explícito na epístola aos Efésios nos exortando a sermos cheios do Espírito. “E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5:18). Quando os discípulos foram cheios do Espírito no dia de Pentecostes, eles foram acusados de estarem embriagados com vinho (At 2:13). Esta foi mais do que uma acusação caluniosa. O vinho oferece uma experiência deturpada/falsa em comparação à alegria do Espírito (Gl 5:22). Não estou sugerindo que o comportamento de um homem bêbado espelhe aquele cheio do Espírito Santo. Ao contrário, “Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos profetas” (1 Co 14:32). Ou seja, os profetas estão no controle de seu espírito. O fruto do Espírito é exatamente o autocontrole (Gl 5:22 23). Em vez disso, o paralelo pode ser traçado em outro lugar; é “o vinho que alegra o coração do homem” (Sl 104:15). Nisto, o vinho não está sozinho; há muitas coisas que podem nos oferecer experiências espirituais falsas. A música pode fazer nosso espírito voar alto; também pode nos deixar melancólicos e tristes. Uma multidão cantando em uníssono com música alta, de ritmo pesado, com luzes coloridas e piscando terá um efeito poderoso sobre a mente. Podemos encontrar igrejas, assim chamadas, onde isso é apresentado como adoração; é uma falsa imitação. Não é difícil pesquisar na internet para encontrar grupos que anunciam este tipo de adoração como sendo ‘cheios do Espírito’.
Não encontramos nenhum exemplo de instrumentos musicais sendo usados na adoração no Novo Testamento; isso estava associado ao culto judaico, um culto adequado ao homem natural. Por outro lado, somos instruídos: “Falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5:19), e novamente: “Ofereçamos sempre, por Ele, a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o Seu nome” (Hb 13:15). Embora esses versículos falem de cantar, eles não mencionam instrumentos musicais. Por que, então, foram introduzidos na adoração Cristã? Por que o papel que desempenham aumentou nos últimos anos? A adoração moderna é sobre criar um sentimento em nós, em vez da adoração a Deus fluir de nós. O homem busca um auxílio para preenchê-lo com um “sentimento de adoração”. A desonra que mostramos a Deus ao trazermos os princípios judaicos de adoração (e pior ainda, pagão) ao Cristianismo, simplesmente não é reconhecida. Esta é a versão moderna da condição encontrada no livro de Malaquias: “Se ofereceis o coxo ou o enfermo, não faz mal? (Ml 1:8). A reação a tal declaração é: “Em que desprezamos nós o teu nome?” (Ml 1:6-7). É o espírito de Laodiceia: “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta (e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu)” (Ap 3:17).
Por que não somos cheios do Espírito Santo? Quando preenchemos nossa vida com atividades e buscas terrenas, o Espírito de Deus é excluído. O remanescente fiel nos dias de Ageu estava ocupado construindo para si belas casas, e, no entanto, a casa de Deus permanecia em ruínas. Não há nada propriamente errado com uma boa casa, mas seremos mais pobres se Deus for excluído. A mensagem de Deus para eles era simples e direta: “Aplicai o vosso coração aos vossos caminhos” (Ag 1:7). Da mesma forma, nos beneficiaríamos com uma reavaliação de nossos próprios caminhos. Jeová os lembra: “Segundo a palavra que concertei convosco, quando saístes do Egito, e o meu Espírito habitava no meio de vós; não temais” (Ag 2:5). O Espírito não mudou. Fomos nós que mudamos. Como aconteceu com os santos efésios, perdemos o frescor do primeiro amor e toda a afeição e agir que o acompanha (Ap 2:4).
Não devemos, entretanto, esperar um derramamento do Espírito de Deus como no dia de Pentecostes. A pretensão espiritual é tão ruim quanto a indiferença espiritual. A condição do remanescente judeu nos dias de Ageu resultou da mão de governo de Deus sobre eles. A glória da casa de Deus não era nada comparada à sua glória anterior – é Deus quem os lembra disso (Ag 2:3). Rejeitar o conselho de Deus contra nós mesmos é farisaico (Lc 7:30). Devemos assumir e reconhecer a ruína do testemunho Cristão e nossa parte nele.
Tão verdadeiramente quanto podemos ser cheios do Espírito, também podemos entristecê-Lo. “E não entristeçais o Espírito Santo de Deus, no Qual estais selados para o Dia da redenção” (Ef 4:30). Quando agimos contrariamente à mente do Espírito, o Espírito se entristece. Várias maneiras pelas quais podemos fazer isso são dadas nos versículos que se seguem: amargura, ira, cólera, gritaria e palavras ofensivas (Ef 4:31). As marcas características do Espírito também são dadas: “Sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo” (Ef 4:32). Um espírito que não perdoa, em especial, parece ser uma ofensa ao Espírito Santo. O perdão é entregar um assunto a Deus. A dívida é frequentemente usada na Palavra de Deus para ilustrar o perdão (Mt 6:12-15; 18:21-35; Lc 7:41-43). No Velho Testamento, o perdão de uma dívida é chamado de “remissão de Jeová” (Dt 15:2 – JND). O assunto é inteiramente entregue a Deus: todas as reivindicações são renunciadas, o ofensor é liberado de suas obrigações e o assunto é encerrado. Inquestionavelmente, o perdão nos custa alguma coisa, pois a dívida não é paga – pelo menos não pelo indivíduo em questão. Deus, no entanto, não é devedor; Ele pagará (Rm 12:19). Falhar em perdoar não prejudica a parte ofensora; mas prejudica a nós mesmos e entristece o Espírito Santo.
“Não extingais o Espírito” (1 Ts 5:19). Extinguir o Espírito é suprimir a atividade do Espírito. Podemos fazer isso como indivíduos, mas a declaração é mais ampla. As instruções no final da primeira carta de Paulo aos tessalonicenses são exortações gerais à assembleia – a exortação que se segue, por exemplo, “Não desprezeis as profecias” (v. 20). A atividade do Espírito é extinguida sempre que um substituto é colocado no lugar da condução do Espírito Santo – um programa de adoração, um líder de adoração, um ministro que conduz o serviço – cada um desses se coloca no lugar da direção do Espírito. Será perguntado, mas certamente o Espírito pode dirigir o líder de adoração ou ministro? Ele pode decidir assim fazer, mas por que ditaríamos os canais por meio dos quais o Espírito pode agir? Esta é uma enorme presunção de nossa parte. Estabelece um clero distinto em relação a leigos, uma divisão da qual a Escritura não fala. A ordem sacerdotal do Velho Testamento foi eliminada. Em seu lugar, todo verdadeiro crente está diante de Deus como um sacerdote: “Jesus Cristo… e nos fez reis e sacerdotes para Deus e Seu Pai” (Ap 1:5-6). Introduzir um mediador ou restringir o canal pelo qual o Espírito Santo pode agir, especialmente na adoração, é uma afronta direta à obra de nosso Senhor Jesus Cristo. “Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no Santuário, pelo sangue de Jesus, pelo novo e vivo caminho que Ele nos consagrou, pelo véu, isto é, pela Sua carne, e tendo um grande Sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência e o corpo lavado com água limpa” (Hb 10:19-22). Esses versículos são para todos nós. Nos mostram a liberdade de todo verdadeiro crente em Cristo de aproximar-se de Deus em adoração, em contraste com o acesso restrito permitido pela Lei. A cristandade rapidamente recuou desse amplo acesso e restringiu o serviço sacerdotal a apenas alguns.
