Origem: Livro: A Lei – O Relacionamento Apropriado do Cristão com a Lei

Salvo Não pelo Princípio de Lei

Agora estamos em posição de considerar o que a Palavra de Deus tem a dizer sobre nossa primeira declaração – não somos salvos no princípio de lei; nem por meio de nossa obediência a ela e nem pela obediência de Cristo a ela.

Romanos capítulo um diz a respeito do evangelho: “Porque nele se descobre a justiça de Deus de fé em fé, como está escrito: Mas o justo viverá da fé” (Rm 1:17). Há muito neste versículo. No evangelho, Deus revela uma justiça positiva de Sua parte – positiva, porque o evangelho “é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1:16)[4]. A lei, por outro lado, expôs a falência do homem no que diz respeito à justiça humana. Na verdade, Deus não está mais procurando justiça no homem; em vez disso, Ele revelou Sua justiça por meio do evangelho. Esta é uma observação notável e contrária aos nossos pensamentos naturais. Como assim? Deus não está buscando a justiça no homem? Além disso, como Deus mostra Sua justiça por meio do evangelho?
[4] N. do A.: Há também um lado negativo, veja Romanos 1:18.

Deus manifesta Sua justiça quando, pela graça, justifica o pecador por causa da redenção que há em Cristo Jesus (Rm 3:24). Se Deus nos tivesse justificado por qualquer outra base que não o sangue de Cristo, Ele seria injusto. E se alcançássemos o benefício da redenção de alguma outra forma que não a graça, recebida pela fé, então isso também implicaria haver injustiça em Deus – suporia algum mérito no homem contrário ao próprio veredito de Deus (Rm 3:24). A justiça de Deus é, portanto, revelada “de fé” (ou, poderia ser melhor dito, “pela fé”) porque deve ser obtida com base no princípio de fé. Em contraste, a justiça que a lei exigia era pelo, ou com base no princípio de obras. É “de fé em fé” (Rm 1:17) porque é somente por meio da fé que pessoalmente alcançamos o benefício dela.

Este versículo seria suficiente para responder à nossa indagação – a salvação deve ser obtida pelo princípio da fé sem obras e deve ser recebida pela fé – o apóstolo, entretanto, desenvolve isso mais adiante. No terceiro capítulo, ele escreve: “Por isso, nenhuma carne será justificada diante d’Ele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3:20). Pela lei vem o conhecimento do pecado. A lei não produz justiça, mas sim a exige. Quando o homem falha em produzir o que ela exige, imediatamente se mostra um pecador. A lei é totalmente impotente para tornar justo um homem. Nossa posição justa diante de Deus deve ser baseada somente na fé completamente à parte da lei. “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3:28).

Agora chegamos a um versículo que gera algumas questões. “Anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes, estabelecemos a lei” (Rm 3:31). Em vez de tentar fazer com que este versículo se encaixe em nossa teologia, nós o recebemos no contexto dos versículos que o precedem e seguem – ele não os contradiz. Muito simplesmente, a lei não foi anulada pelo evangelho. Em vez disso, o evangelho estabeleceu a lei como santa, justa e boa. E como é isso? Suponha por um momento que fomos justificados (declarados justos) pela lei; isso só poderia ser possível por meio do enfraquecimento da lei. Humanamente falando, a lei é um padrão muito alto; ninguém o pode alcançar. O homem diz, baixe-a um pouco e tudo ficará bem. Na mente de muitos, é exatamente isso que o evangelho da graça de Deus fez. Graça, no entanto, não fez nada do gênero. Deus pôde Se mostrar misericordioso para com o homem somente porque Sua natureza justa foi totalmente afirmada e satisfeita na cruz. Na cruz, a ira de Deus contra toda impiedade e injustiça foi totalmente expressada (Rm 1:18). De maneira alguma Deus rebaixou Seus padrões, nem de forma alguma Se reconciliou com o homem pecador. Este versículo (Rm 3:31) não muda nada do que declaramos. No entanto, estabelece nosso segundo ponto sobre a lei: a lei não está morta – falaremos mais sobre isso em breve.

A fraqueza que envolve o homem e a lei, nada tem a ver com a lei, mas com o homem. Isso é confirmado por Paulo, não apenas nos versículos que acabamos de considerar, mas consistentemente em toda a sua epístola aos Romanos: “A lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom…, mas eu sou carnal, vendido sob o pecado (Rm 7:12, 14).

E se Cristo cumpriu a lei em meu lugar? Alguém pode concordar com tudo o que foi escrito, mas ainda assim insistir que a justificação é baseada na obediência de Cristo à lei. Embora possa ser uma boa teoria, não é apoiada pelas Escrituras[5] Em todos esses casos, onde é revelada a desilusão quanto à obediência da lei pelo homem, e onde a completa falta de justiça da parte do homem é exposta, em nenhuma vez a obediência de Cristo à lei é trazida ao contexto. Em vez disso, lemos sobre a redenção que se encontra em Cristo Jesus e a fé de nossa parte em Seu sangue derramado (Rm 3:24-25). Gálatas confirma o que acabamos de ver em Romanos. “Sabendo que o homem não é justificado pelas obras da lei, mas pela fé em Jesus Cristo, temos também crido em Jesus Cristo, para sermos justificados pela fé de Cristo e não pelas obras da lei, porquanto pelas obras da lei nenhuma carne será justificada(Gl 2:16). A expressão “pela fé em Jesus Cristo” pode ser confusa para alguns, mas é a fé que tem Cristo como Seu objeto, como o restante do versículo confirma. Se a obediência de Cristo à lei foi imputada a mim, então esse é o princípio pelo qual sou justificado. Está claro neste versículo que ninguém é justificado pelas obras da lei.
[5] N. do A.: Essa doutrina, conhecida como a Justiça de Cristo Imputada, é ampla e quase universalmente aceita nos círculos protestantes; isso foi tratado em um artigo separado.

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