Origem: Revista O Cristão – Adoração
A Verdadeira Ideia de Adoração
O Mestre enche tanto o vaso que ele transborda. Quando o coração está cheio da verdade, “como está a verdade em Jesus”, e habitado pelo Espírito Santo, transborda em ação de graças e louvor – ele adora a Deus, que é Espírito, em espírito e em verdade. O coração do hóspede, podemos dizer, responde à gentileza do anfitrião. Mas, claramente, aquilo que desce de Deus para a alma em graça reascende da alma para Ele em grato louvor. Como a fumaça que se eleva do altar de ouro, ela sobe no cheiro suave da adoração aceitável.
É perfeitamente claro que um cálice transbordante não pode conter mais nada; o que é derramado apenas aumenta seu transbordamento. Mas quais são, posso perguntar, os sentimentos espirituais de uma alma que responde a essa figura? Eles são celestiais em seu caráter e produzidos pelo Espírito Santo. Nada na Terra chega tão perto da ocupação do céu como a adoração. Será nossa feliz ocupação por toda a eternidade. Mas a alma deve, em espírito, estar no céu – no santo dos santos – antes de atingir essa condição, e é aí que o Cristão sempre deve estar. Ele está em Cristo, e Cristo enche todo o céu com Sua glória. Aos olhos de Deus, não há adoração nos átrios exteriores agora; ela deve ser sacerdotal e dentro do véu. Quando o coração do adorador reflete o cálice que transborda, é evidente que ele está completamente cheio – nenhum canto fica vazio. Este é o pensamento principal. Parece, espiritualmente, que todo desejo é atendido – todo desejo é satisfeito – e todos os anseios da alma são perfeitamente respondidos. É verdade que o adorador ainda não está na glória da ressurreição, mas ele sabe e sente que tem tudo, exceto a glória. É por isso que ele espera, mas não de maneira incerta. “Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça” (Gl 5:5).
Oração e adoração
Pode ser bom notar a diferença entre a oração e a adoração, por mais que sejam quase aliadas uma da outra, e até adequadamente misturadas, como “deprecações, orações, intercessões, e ações de graças”. Sempre temos muito pelo que agradecer; ainda assim, as duas coisas, por si só, são bem distintas. Trazemos nosso cálice vazio para a reunião de oração e rogamos e pedimos a nosso Deus e Pai que o encha. Isso mostra nosso conhecimento de Deus e nossa confiança n’Ele, e se orarmos com fé, o óleo poderá fluir até que todo vaso seja preenchido (2 Reis 4). Assim, a oração pode levar à adoração, como a pregação do evangelho ao mundo e o ensino do povo de Deus possam também levar à adoração. No entanto, é bom entender a diferença entre oração, pregação, ensino e adoração. Cada um deles é de grande importância em seu lugar e em tudo de Deus e não deve ser confundido.
Na pregação do evangelho, Deus está Se dirigindo ao mundo; no ensino, Ele está falando aos Seus santos, mas na adoração nos dirigimos a Deus – rendemos-Lhe adoração. O ministério é de Deus para o homem; adoração é do homem para Deus. Dificilmente duas coisas poderiam ser mais distintas, e ainda assim a distinção é raramente vista. A verdadeira adoração pode ser produzida por qualquer uma das três formas mencionadas, e até mesmo um espírito de adoração pode ser desfrutado quando envolvido neles, e tanto melhor quando é assim. Mas na adoração Cristã nos aproximamos de Deus como nosso Pai por meio de Cristo Jesus e nos dirigimos a Ele. Quando conhecemos Deus como Ele Se revelou na Pessoa e obra de Cristo, temos santa liberdade em Sua presença e prestamos louvor, adoração e ação de graças de um coração transbordante.
O sacrifício de Cristo
O sacrifício de Cristo, que é celebrado no partimento do pão, é o único fundamento da adoração verdadeira, e o Espírito Santo presente na assembleia é o único poder pelo qual Deus pode ser adorado de maneira aceitável. Seria a presunção mais ousada para alguém se aproximar de Deus como adorador, a menos que soubesse que toda a sua culpa foi removida e que ele era uma nova criação em Cristo Jesus. Mas quando sabemos que o bendito Senhor, pelo sangue de Sua cruz, glorificou completamente a Deus, apagou todos os nossos pecados e nos limpou de toda a contaminação, temos santa ousadia para nos aproximar de Deus como nosso Pai.
Mas sem a cruz, tudo seria juízo, mas por meio da cruz, tudo é graça, graça sem limites. O véu sendo rasgado de cima para baixo é a testemunha divina de que Cristo tirou o pecado pelo sacrifício de Si mesmo e abriu o caminho para nós, para o santo dos santos. Em virtude de Seu sacrifício expiatório, agora há glória para Deus, nenhuma questão de pecado entre o adorador e Deus. Essa questão foi totalmente abordada na cruz e aí se encerrou – se encerrou para sempre. O mesmo golpe que matou o Cordeiro rasgou o véu e abriu o caminho para a presença de uma santidade infinita, onde o adorador agora permanece sem mancha e se regozija diante do Senhor, seu Deus.
Medita ainda, ó minha alma, para o aprofundamento e elevação da tua adoração, naquela cruz maravilhosa – o grande centro do universo moral de Deus! Para este centro, Deus sempre apontava e os olhos da fé sempre olhavam para frente, até que o Salvador viesse. E agora devemos sempre nos voltar para essa cruz como o centro de todas as nossas bênçãos e a base de toda a nossa adoração, tanto na Terra como no céu – no tempo e por toda a eternidade. O “cântico novo” nunca poderia ter sido cantado no céu e nenhum hino de louvor jamais poderia ter sido cantado na Terra por homens caídos, se não fosse pela cruz de Jesus. Mas se não fosse por essa mesma cruz, o nosso cálice teria sido para sempre um cálice de tremor, em lugar de um cálice transbordante de regozijo.
O poder da adoração
Tendo meditado brevemente sobre o único fundamento de adoração – o sacrifício de Cristo —, agora nos referiremos ao único poder de adoração – o Espírito Santo. Quando nascemos “de novo”, recebemos uma nova natureza, que é santa e adequada à presença de Deus. Também é capaz de desfrutar d’Ele, uma verdade que certamente nos dá o pensamento mais elevado de felicidade da criatura, e, no entanto, como diz o apóstolo, esse estado bendito pode ser desfrutado mesmo agora. “Também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5:11). Sem essa nova natureza, não poderia haver adoração. São os filhos que o Pai procura para adorá-Lo. Filiação é essencial para a nossa adoração. Mas o Pai Se deleita na adoração de Seus filhos. Ele não apenas a aceita, mas Ele a procura. Verdade maravilhosa e graciosa, ó minha alma! Nosso Deus e Pai está procurando adoradores! “O Pai procura a tais que assim O adorem”.
A religião da carne
Aqui, não é o pecado da carne, mas a religião da carne, contra a qual o apóstolo adverte. Aos olhos de Deus, um é tão ruim quanto a outra. Os verdadeiros adoradores são conhecidos por adorar a Deus em Espírito e regozijar-se em Cristo Jesus. A carne pode ser muito piedosa à sua maneira e estar amplamente ocupada com boas obras, mas nunca se alegrará em Cristo Jesus. Não conhece nada de Cristo como desprezado na Terra e honrado no céu, nem quanto a colocar nossas afeições nas coisas do alto. Mas mesmo quando Cristo tem Seu devido lugar no coração e o Espírito Santo é reconhecido como o único poder de adoração; precisamos vigiar para não misturar os pensamentos da carne com a direção do Espírito. Será o objetivo constante do inimigo, onde ele não pode substituir o Espírito pela carne, misturar os dois.
Uma pergunta solene – um grande teste – permanece para cada um de nós, para todos: Regozijamo-nos apenas em Cristo Jesus? Este é o verdadeiro padrão pelo qual devemos julgar – a pedra de toque da adoração espiritual. Responda a este padrão, ó minha alma: Cristo é meu tudo em todos? Venho diante de Deus – estando em Sua santa presença – regozijando-me somente em Cristo Jesus? Ele é o deleite do coração do Pai – o Objeto do testemunho do Espírito – o gozo e a glória do Seu povo. Felizes, três vezes felizes, aqueles que, neste dia de pietismo carnal generalizado, “servimos [adoramos – KJV] a Deus em Espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne”.
Things New and Old, 8:53
