Origem: Livro: As Epístolas de JOÃO e JUDAS

Vários Estágios de Crescimento na Família

Em um parêntese, João aborda duas vezes os vários membros da família. A primeira vez é para identificar os vários níveis de realização espiritual que cada um alcançou. Na segunda vez, ele exorta cada um de acordo com os perigos específicos que eles provavelmente enfrentariam em seu nível alcançado. Ele usa “pais”, “jovens” e “filhinhos” [“filhos” – JND] como figuras para indicar vários estágios de crescimento na família. Ele não está falando deles literalmente; portanto, as irmãs seriam incluídas nessas categorias. É digno de nota que, embora João mencione homens jovens, ele não menciona homens idosos, o que implicaria declínio espiritual. A vida eterna desfrutada em comunhão com o Pai e o Filho não conhece declínio. Nas coisas divinas, uma pessoa pode ter uma idade bem avançada fisicamente, mas ainda estar cheia de vitalidade espiritual. Calebe é um tipo disso (Js 14:10-11).

Pais (v. 13a) 

João diz: “Pais, escrevo-vos, porque conhecestes aqu’Ele que é desde o princípio”. “Pais” representa os membros da família que são Cristãos adultos e amadurecidos. Essa palavra aos pais nos mostra que a mais alta realização que se pode alcançar na experiência Cristã é a familiaridade pessoal com Cristo – “Aqu’Ele que é desde o princípio”. Nota: ele diz: “conhecestes aqu’Ele”. Ele não diz: “Você está maduro porque tem muito conhecimento bíblico”. Não pretendemos minimizar o conhecimento bíblico, pois o entendimento das Escrituras é um componente importante do crescimento espiritual (1 Pe 2:2) – mas isso em si não produz a maturidade Cristã.

Conhecer aqu’Ele que é desde o princípio, associado com o conhecimento da verdade, é o que leva à maturidade Cristã. Os jovens e os filhinhos conhecem a Cristo também, é claro. Eles O conhecem como seu Salvador, e são gratos por isso, mas os pais O conhecem de maneira mais profunda, por terem passado tempo em comunhão com Ele. Eles alcançaram um estágio de crescimento espiritual em sua vida, onde Cristo é tudo para eles. Eles abandonaram as ambições e objetivos mundanos e estão focados em uma coisa – Cristo e Seus interesses. Paulo exemplifica isso, dizendo: “mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo [objetivo – JND], pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”. (Fp 3:13-14). O objetivo de um Cristão adulto é triplo:

  • “Conhecê-Lo” (Fp 3:10).
  • Ser “como Ele” (1 Jo 3:2).
  • Estar “com Ele” (1 Ts 5:10).

Assim, ao falar de pais, João não está se referindo a quanto tempo uma pessoa tem sido Cristã, mas ao seu nível de maturidade em coisas divinas. É bem possível que uma pessoa tenha sido Cristã por muitos anos e, no entanto, não ser um pai no sentido em que João fala aqui. Há muitos que foram salvos há já um longo tempo, mas ainda são bebês espirituais porque dedicaram pouco tempo e exercício nas coisas espirituais.

Jovens (v. 13b) 

Em seguida, João diz: “Jovens, escrevo-vos, porque vencestes o maligno”. Isso se refere a uma classe de crentes que não são bebês em Cristo, mas não tiveram a profundidade de experiência pessoal com Cristo que os pais têm. Eles são marcados pelo vigor espiritual e por vencerem Satanás, “o maligno”. Isso não significa que Satanás não seja mais uma força a ser considerada, mas que eles têm escapado das artimanhas do diabo. O versículo 14 nos diz como – pela “Palavra de Deus”. Assim, por sua obediência aos princípios da Palavra de Deus, eles derrotaram suas artimanhas, como fez o Senhor quando foi tentado pelo diabo no deserto (Mt 4:1-11). Isto requer familiaridade com as Escrituras que eles evidentemente têm.

Filhinhos (v. 14 – ARA) 

Por último, João diz: “Filhinhos, eu vos escrevi, porque conheceis o Pai”. A palavra grega traduzida “filhinhos” (“paidion”) aqui e no versículo 18 não é a mesma palavra traduzida “filhinhos” (“teknion”) nos versículos 12 e 28. Aqui, a palavra está no diminutivo e, portanto, “filhinhos” está de acordo com o texto. Está se referindo àqueles que são novos na fé – recém salvos. Mais uma vez, ele não está falando da idade física; uma pessoa poderia ser salva no final da vida e, nesse sentido, seria um bebê em Cristo, pois todos nós entramos na vida Cristã como filhinhos.

Os filhinhos são marcados por conhecerem Deus como seu pai. Aqueles nessa fase não têm um conhecimento prático da Palavra de Deus (as Escrituras) como os jovens têm, simplesmente porque não tiveram tempo para se estabelecer na Palavra, sendo novos na fé. Mas eles têm a coisa mais elementar do Cristianismo – eles conhecem a Deus como seu Pai. Por isso, conhecer o Pai (como fazem os filhinhos) marca o início da experiência Cristã, mas conhecer a Cristo (como os pais o fazem) é o ápice da experiência Cristã.

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Na segunda vez que João se dirige a esses na família, ele os exorta a respeito dos perigos aos quais eles provavelmente seriam suscetíveis. Estas são as primeiras exortações da epístola.

Pais (v. 14a) 

João diz: “Eu vos escrevi, pais, porque já conhecestes aqu’Ele que é desde o princípio”. É interessante que sua palavra aos pais seja a mesma que lhes disse na primeira vez. Ele nada acrescenta porque nada pode ser acrescentado ao que é o auge da experiência Cristã. Quando Cristo se torna o único Objeto de nosso coração e somos preenchidos com a alegria da comunhão com Ele, não podemos obter nada mais elevado do que isso! Não há necessidade de que João lhes dê uma palavra de cautela quanto aos perigos do caminho, porque o inimigo não pode tocar aqueles que habitualmente permanecem em Cristo (Dt 33:12; 1 Sm 22:23). Isso mostra que estar cheio dessa bem-aventurança é a melhor salvaguarda contra as seduções do inimigo.

Jovens (vs. 14b-17) 

Passando para os jovens, ele diz: “Eu vos escrevi, jovens, porque sois fortes, e a Palavra de Deus está em vós, e já vencestes o maligno”. Eles são elogiados por duas coisas: “sois fortes” (espiritualmente) e “vencestes” os estratagemas[7] do diabo (Ef 6:11 – tradução de W. Kelly). João falou dos jovens que venceram o iníquo no versículo 13, mas aqui ele nos dá o segredo de sua vitória – tendo a Palavra de Deus permanecendo “neles”. Isso vai além de simplesmente conhecer a Palavra, mas inclui digeri-la e, consequentemente, tê-la como parte integrante de nosso ser, para que a Palavra governe nossos movimentos neste mundo. Nesse caso, as tentativas do diabo, em fazer tropeçar o crente, são derrotadas. Quando a Palavra de Deus habita em um crente na maneira como João fala, ele não renunciará à verdade, mesmo que os outros à sua volta possam estar abandonando. Sua força em vencer o iníquo é derivada de sua adesão aos princípios da Palavra de Deus, e não de força moral e hábil raciocínio humanos.
[7] N. do T.: “Stratagema” em grego, significa manobra, tática ou ardil utilizados numa guerra com o intuito de enganar, sabotar ou confundir, e assim subjugar o oponente ou inimigo.

Um Aviso Contra o Mundanismo 

V. 15 – Conseguir a vitória sobre o iníquo não significa que os jovens estivessem fora de perigo. De fato, muitas vezes têm sido dito que o filho de Deus nunca está em uma posição mais perigosa espiritualmente do que depois que ele ganhou uma vitória sobre o inimigo. Isso ocorre porque tendemos a baixar a guarda nesses momentos e nos tornamos vulneráveis. Tendo vencido o iníquo, há outro inimigo do qual precisam ser cautelosos – o mundo. Por isso, João adverte: “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”. O “mundo” é usado nas Escrituras de três maneiras:

  • Como um lugar – o planeta Terra (Jo 1:10, 9:5, 13:1, 16:28, 18:37; At 17:24; Rm 1:20; 1 Tm 1:15; Hb 11:3; Ap 13:8).
  • Como uma sociedade onde Cristo é excluído (Jo 8:23, 15:19, 17:14b-16, 18; Rm 12:2; Gl 1:4, 6:14; 2 Tm 4:10; Tg 4:4; 1 Jo 2:15-17, 4:5a, 5:19). O mundo, nesse sentido, refere-se ao sistema de negócios e atividades na Terra que o homem, em sua alienação de Deus, organizou em uma tentativa de manter-se feliz sem ter que enfrentar a Deus sobre a questão de seus pecados. Tudo começou quando Caim saiu da presença do Senhor e sua descendência desenvolveu várias atividades nesta vida que absorvem os interesses dos homens até os dias de hoje (Gn 4). Agora é um vasto sistema com muitos departamentos – as artes, as ciências, a educação, a literatura, a religião, o comércio, a política, os esportes profissionais, etc. Tudo se baseia nos falsos princípios e valores baseados nos desejos da carne.
  • Como pessoas que são parte integrante da sociedade que o homem construiu para si mesmo em sua alienação de Deus (Sl 17:14; Jo 1:10b, 3:16, 4:42, 6:51, 15:18, 17:14a; 1 Jo 4:5b, 14).

O aspecto que João está advertindo aqui no versículo 15 é a sociedade onde Cristo é excluído. Mesmo se um crente fez considerável progresso espiritual, ele ainda precisa estar em guarda contra este inimigo. Os valores, princípios e metas do mundo estão todos centrados em torno de nós mesmos – fazendo o que queremos para agradar a nós mesmos. Somos levados a acreditar que perseguir essas coisas nos fará felizes e satisfeitos, mas os que acreditam nisso sempre se sentem vazios e insatisfeitos. Seguir esses objetivos e ambições mundanas com certeza desperdiçará nossa vida em coisas passageiras e, assim, seremos impedidos de fazer a vontade de Deus. Por isso, a advertência de João é: “Não ameis o mundo”. Ao dizer: “Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele”, ele deixa claro que não podemos desfrutar da comunhão com o Pai e com o mundo ao mesmo tempo; deve ser um ou outro. É verdade que temos que passar pelo mundo e, ao fazê-lo, vamos usar “deste mundo” em nossas responsabilidades cotidianas (1 Co 7:31, 33), mas não precisamos amar o mundo e marchar no ritmo de seu tambor. O Cristão de mente correta, portanto, deveria ver o sistema mundial como ele realmente é – um inimigo – e se separar dele. O Senhor orou por nós para que fôssemos preservados das influências do mundo (Jo 17:14-17).

Três Princípios Falsos Sobre os Quais o Mundo Opera 

V. 16 – Para nos ajudar a ver o que o mundo realmente é em sua essência, João aponta três princípios falsos sobre os quais opera. Ele diz: “Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo”. Primeiro, há “a concupiscência da carne”. Isso se refere a cobiçar as coisas que satisfariam os apetites corporais ilícitos. Em segundo lugar, há “a concupiscência dos olhos”. Isso se refere aos maus desejos de cobiça, querendo possuir o que vemos. Em terceiro lugar, há a “soberba da vida”. Isso é querer ser reconhecido como alguém importante nesta vida. Tem sido frequentemente apontado que estas três coisas foram usadas com sucesso pelo diabo em Eva no jardim do Éden (Gn 3:6) e sem sucesso no Senhor nas tentações do deserto (Mt 4:1-11).

V. 17 – João conclui suas observações aos jovens dizendo: “E o mundo passa, e a sua concupiscência; mas aquele que faz a vontade de Deus permanece para sempre [para a eternidade – JND] O mundanismo não poderia ser definido de maneira mais sucinta – é o amor por coisas passageiras. Aqueles que vivem por essas coisas perderão tudo quando passarem deste mundo. Ló é um exemplo aqui. Ele viveu para as coisas mundanas em Sodoma, e elas foram todas queimadas quando o julgamento de Deus caiu naquela cidade. Ele perdeu tudo aquilo pelo que tinha vivido! (Gn 19) Por outro lado, a pessoa que faz a vontade de Deus permanece na bem-aventurança dela para “a eternidade”. Os resultados de fazer a vontade de Deus serão levados conosco para a eternidade (Lc 10:42, 12:33, 16:9). Deveria ser óbvio a todos para o que deveríamos estar vivendo. Nenhuma pessoa sóbria investe em uma empresa que está prestes a falir! Nem um Cristão sóbrio vai viver para o mundo que está prestes a passar. Faria tanto sentido quanto arrumar as cadeiras no convés do Titanic naufragando!

Três Razões Pelas Quais Não Devemos Amar o Mundo 

João nos deu três razões convincentes pelas quais os Cristãos não deveriam viver para o mundo:

  • As coisas do mundo estragam nosso desfrutar do amor do Pai (v. 15).
  • As coisas deste mundo excitam os instintos mais básicos de nossa natureza decaída (a carne) que nos levam em um curso de pecado para longe de Deus (v. 16).
  • As coisas do mundo são transitórias; a pessoa que vive para elas é o perdedor, porque ele não pode levá-las para o mundo vindouro (v. 17).

Filhinhos (v. 18-27) 

João passa a exortar os novos convertidos. Ele diz: “Filhinhos, é já a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos; por onde conhecemos que é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós”. Como no versículo 13, “filhinhos” deve estar no texto aqui porque está descrevendo aqueles que são novos na fé. João não fala da infância espiritual deles depreciativamente; não há nada de errado em uma pessoa ser um bebê espiritual em Cristo, se ele é novo na fé. O apóstolo Paulo, por outro lado, repreende os coríntios e os hebreus por serem “crianças [bebês – JND] (1 Co 3:1-3 – ARA; Hb 5:12-13 – ARA). Eles estiveram no caminho Cristão por um bom tempo e deveriam ter progredido, mas falharam em fazê-lo por causa da carnalidade (no caso dos coríntios) e da interferência da religião terrena (no caso dos hebreus). Se alguém é um bebê por meio de sua falta de progresso ou porque ele é um novo crente, todos esses são vulneráveis aos enganos do inimigo (Ef 4:14) e precisam do aviso de advertência que João dá aqui.

Um Aviso Contra a Sedução Espiritual 

Os alvos favoritos do inimigo são os novos na fé. É, portanto, imperativo que o novo convertido seja conscientizado do fato de que há uma batalha espiritual sendo travada sobre sua cabeça, e que o inimigo de sua alma tem planos de derrubá-lo por meio de suas seduções. Uma vez que os novos convertidos tendem a olhar para os mestres – muitas vezes ao ponto de vê-los acima do que são (Mc 8:24; 2 Co 12:6-7) – o inimigo habilmente emprega mestres que são heterodoxos[8] na doutrina para fazer o jovem “se extraviar” (v. 26 – JND). Assim, João os informa que, embora o anticristo da profecia bíblica ainda não tenha aparecido – um homem corrupto que irá extraviar as massas por meio de sua blasfêmia (2 Ts 2:2-12; Ap 13:11-18) – O espírito do anticristo já havia começado a trabalhar no testemunho Cristão. O termo “anticristo” significa “contra Cristo”. Qualquer ensinamento que seja contra Cristo, seja no dia vindouro, seja no presente, tem o espírito do anticristo. Ele diz que havia muitos mestres anticristãos trabalhando naquele dia, e a presença deles era uma prova de que já era “a última hora”. Ainda mais em nossos dias!
[8] N. do T.: Heterodoxo provém da palavra grega “hetero” que significa “diferente” e “doxa” que significa “fé”. É o que se opõe aos padrões, normas, regras ou à uma doutrina pré-estabelecida. É o que está em desconformidade com a doutrina tida como verdadeira.

João diz: “Saíram de nós”. O “nós” aqui está se referindo aos apóstolos. Esses charlatães não saíram do testemunho Cristão – eles ainda chamavam a si mesmos Cristãos. Do que eles “saíram” foi da “doutrina e comunhão dos apóstolos” (At 2:42). Ele diz que o fato de que eles não continuaram na verdade manifestou que eles “não eram de nós”. Eles não perderam a salvação se tornando defeituosos (como alguns ensinaram) – eles nunca foram verdadeiros desde o início! A versão King James (como nas ARC e ARF) diz no v. 19: “não são todos de nós”. Isso poderia ser enganador; Isso implica que alguns deles eram verdadeiros crentes. Mas deve ser traduzido: que todos estes não são de nós” – TB, significando que todos eles eram falsos.

A Unção do Espírito 

Vs. 20-21 – Em vista desse ataque ao Cristianismo, João dirige esses pequeninos ao grande recurso que eles têm no Espírito Santo. Ele diz: “Mas vós tendes a unção do Santo, e conheceis toda a verdade” (tradução de W. Kelly). A “unção” do Espírito é um aspecto especial da habitação do Espírito Santo que dá ao crente discernimento em relação à verdade e ao erro. Isso mostra que o mais novo filho de Deus tem a presença interior do Espírito, que é recebido quando cremos no evangelho (Gl 3:2; Ef 1:13). No evangelho de João, o Espírito de Deus é dado aos crentes para aumentar seu entendimento e desfrute da verdade (caps. 14:26, 15:26, 16:13-15), enquanto na epístola de João, o Espírito é dado ao santos mais com o propósito de protegê-los de serem enganados pelo inimigo (caps. 2:18-27, 3:24, 4:1-6, 13, 5:6-7).

É digno de nota que João não direciona esses pequeninos para a Palavra de Deus, e lhes diz para usar as Escrituras para refutar o ensino do mal. Se eles tivessem estado no nível dos jovens que tinham a Palavra de Deus habitando neles, ele poderia ter dito isso. Mas esses filhinhos eram novos na fé e ainda não tinham um conhecimento prático da Palavra de Deus e, portanto, não tinham capacidade para tal tarefa. Sendo assim, João aponta para a “unção do Santo” que seria dada para conhecer “todas as coisas” (JND). Ele diz: “Não vos escrevi porque não soubésseis a verdade, mas porque a sabeis e porque nenhuma mentira vem da verdade” (v. 21). João não quer dizer que esses novos crentes conhecessem todos os vários princípios da revelação Cristã da verdade, mas tendo a unção do Espírito, eles tinham a capacidade de discernir a verdade quando fosse apresentada. Assim, eles saberiam quando a ouvissem. O Espírito lhes daria um senso na alma deles de que o que estava sendo apresentado era de fato a verdade. Por outro lado, se alguém apresentasse um erro, eles também seriam capazes de discernir que havia algo errado com isso. Eles talvez não pudessem explicar o que exatamente estava errado com a falsa doutrina, mas eles saberiam o suficiente para evitá-la e, assim, seriam preservados.

Vs. 22-23 – João faz uma pausa para mencionar as duas principais formas de erro com as quais os santos se encontrarão antes de continuar com suas observações sobre a unção do Espírito. Esses são:

  • A negação de que “Jesus é o Cristo [Messias]. Essa é a blasfêmia que é mantida entre os judeus descrentes.
  • A negação do relacionamento eterno do “Pai e o Filho”. Essa é a blasfêmia que é mantida entre muitos falsos mestres no testemunho Cristão.

Negar que Jesus é o Cristo é negar a mensagem essencial do Velho Testamento (At 17:2-3), e negar o Pai e o Filho é negar a mensagem essencial do Novo Testamento (Mt 3:16-17). Vemos disto que os ataques do inimigo são geralmente, se não sempre, dirigidos à Pessoa de Cristo. De fato, será encontrado que no fundo de todo sistema anticristão de ensino há algum tipo de blasfêmia em conexão com a Pessoa de Cristo. Esses sistemas religiosos podem usar a terminologia bíblica em seus ensinamentos, mas o teste real está no que eles têm em relação à “doutrina de Cristo” (2 Jo 9). H. Smith disse: “Quando o anticristo aparecer, ele unirá a mentira dos judeus com a mentira que surge na profissão Cristã, negando tanto que Jesus é o Messias e que Ele é uma Pessoa divina” (As Epístolas de João, pág. 17). O apóstolo João marca aquele que expõe essas falsas doutrinas como sendo um “mentiroso”.

Vs. 24-26 – João então acrescenta uma condição importante em conexão com a operação da unção do Espírito. Ele diz: “Portanto, o que desde o princípio ouvistes permaneça em vós. Se em vós permanecer o que desde o princípio ouvistes, também permanecereis no Filho e no Pai. E esta é a promessa que Ele nos fez: a eterna vida.” Isso mostra que o discernimento espiritual transmitido pelo Espírito Santo não é uma coisa automática. O uso que João faz da palavra “se” mostra que a obra do Espírito como a unção depende do fato de o crente permanecer na revelação Cristã do Pai e o Filho (recebida quando cremos no evangelho) e continuar em comunhão consciente com o Pai e o Filho, que é a essência da “vida eterna” (Jo 17:3). Mencionamos isto porque há muitos que são verdadeiramente salvos e habitados pelo Espírito Santo, mas que foram enganados por mestres errôneos, porque não permaneceram em comunhão com o Pai e o Filho. Isso mostra quão importante é manter a comunhão com Deus; é nossa “corda salva-vidas” espiritual. João explica que estava dando esse aviso por causa do perigo real daqueles que estavam tentando “extraviá-los” (v. 26 – JND).

V. 27 – João então reafirma o grande recurso que eles tinham no Espírito Santo: “E a unção que vós recebestes d’Ele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a Sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim n’Ele permanecereis”. Alguns pensaram que o que João está dizendo aqui é que o caminho para resolver o problema de absorver o erro de falsos mestres é recusar todo o ensino dos homens. Eles acham que o que ele está dizendo é que não precisamos que os homens nos ensinem a verdade porque temos o Espírito Santo que nos ensina e que isso é tudo que precisamos. Consequentemente, eles rejeitam a leitura de todo ministério escrito (comentários). Mas não é isso que João está dizendo. Este versículo não significa que não precisamos de mestres Cristãos na Igreja. Se assim fosse, por que Deus levantou “mestres” e os enviou para ensinar a Igreja? (1 Co 12:28; Ef 4:11-14) Esse versículo simplesmente significa que quando algo nos é apresentado, não precisamos de alguém para nos dizer se é verdade ou erro. Se estamos em comunhão com o Senhor, a unção do Espírito nos dará a saber se é verdade ou erro. Consequentemente, rejeitaremos o erro e reteremos a verdade, e assim “n’Ele permanecereis” e seremos preservados.

V. 28 – F. B. Hole declara: “O versículo 28 do capítulo 2 permanece como um parágrafo curto por si mesmo, e o segundo capítulo terminaria mais apropriadamente com ele” (Epistles, vol. 3, pág. 158). O apóstolo aqui volta a se dirigir a toda família de Deus e, ao fazê-lo, encerra sua digressão sobre o crescimento na família. (Como mencionado anteriormente, a palavra aqui deveria ser “filhos” e não “filhinhos”).

É uma exortação simples para a família como um todo (todos os três níveis de crescimento) a permanecer n’Ele (“permanecei n’Ele”). É nossa grande salvaguarda contra todo o ensino anticristão. Isso mostra que não há substituto para a comunhão, sejam Cristãos maduros ou novos convertidos. João olhou para o dia da manifestação (a Aparição de Cristo) quando os resultados do nosso serviço serão exibidos. Seu trabalho como um apóstolo será manifestado e os trabalhos dos santos serão também. Ele mostra que é possível que pudéssemos ser envergonhados naquele momento porque não seguimos bem no caminho da fé. Seu desejo é que todos tenhamos “confiança” naquele dia e que ninguém seja “envergonhado diante d’Ele em Sua vinda” (JND).

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