Origem: Livro: A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS

Justiça Prática Para com as Autoridades Civis

Duas Tendências Judaicas 

Nos capítulos 13-15:13, Paulo lida com duas tendências judaicas que os judeus convertidos muitas vezes trazem consigo para a comunhão dos Cristãos, que são prejudiciais ao seu testemunho.

Em primeiro lugar, os judeus, como nação, eram notórios por serem insubordinados às autoridades gentias que governavam sobre eles. Eles muitas vezes tiveram revoltas contra o Estado, o que geralmente acontecia à época de suas festas quando o sentimento nacional atingia seu pico. Esta convicção veio de certas Escrituras que prometeram que eles governariam as nações como “cabeça”. Deus prometeu a eles que eles não seriam a “cauda” (Dt 28:13; Is 60, etc.). Com isto em mente, os judeus devotos naturalmente tiveram dificuldade em se curvar aos gentios (Et 3:2) e às autoridades civis dos gentios. Paulo trata com esse problema trazendo-o sob o testemunho Cristão no capítulo 13.

Em segundo lugar, os judeus que tinham feito uma profissão de fé em Cristo tinham certos costumes em conexão com a comida e os dias santos, que eles observavam desde seus dias no judaísmo. Trazer essas coisas com eles para a comunhão dos Cristãos tendeu a criar problemas entre os santos. Paulo trata dessa questão no capítulo 14.

O Dever do Cristão em Relação ao Estado 

Cap. 13:1-7 – Na religião judaica, havia justificativa bíblica para acreditar que a nação de Israel deveria governar as nações da Terra. No entanto, como se tornaram Cristãos, essas esperanças terrenas para o judeu foram suplantadas por esperanças celestiais. Sua cidadania agora estava no céu (Fp 3:20), e eles eram apenas peregrinos e forasteiros passando por este mundo (1 Pe 2:11). Portanto, não era sua posição resistir aos governos sobre eles.

Paulo diz: “Todo o homem esteja sujeito às autoridades superiores [que estão sobre si – JND]. Pois não há autoridade que não venha de Deus; e as que há, têm sido ordenadas por Deus” (TB). Esses crentes precisavam se lembrar de que os governos deste mundo foram estabelecidos por Deus e a atitude Cristã apropriada em relação ao Estado é estar sujeitos às suas ordenanças. É verdade que, se os poderes civis desafiassem a autoridade de Deus e ordenassem algo a nós que Deus proibiu, estariam ultrapassando seus limites. A resposta do apóstolo Pedro em Atos 5:29 fornece luz para nossa conduta em tais situações.

Opor-se ou resistir a um governador em particular é opor-se à autoridade estabelecida por Deus. Essas autoridades foram estabelecidas para conter o mal, embora em muitos casos haja corrupção em seu meio. Em geral eles estão em posições nos governos de vários países para proteger os cidadãos daquele Estado (vs. 3-4). Devemos, portanto, estar sujeitos às autoridades sobre nós por duas razões: não apenas para escapar da punição por agir errado – a “sentença de culpa” (v. 2 – JND), mas também “por causa da consciência” (v. 5 – TB). Aqueles em posições de autoridade são realmente “ministros de Deus” porque os governos foram estabelecidos por Deus (v. 6). Devemos pagar “tributos” (impostos), respeitar a lei (civil) e demonstrar respeito e honra àqueles em autoridade (v. 7).

Ao estarmos sujeitos às autoridades civis “superiores”, não devemos pensar que esses versículos apoiam a ideia de que os Cristãos devam se envolver na política. Por exemplo, não cabe a nós questionar como e onde o dinheiro dos impostos é gasto pelos governos. Paulo cuidadosamente evita qualquer ideia de que a Igreja e o Estado devam estar unidos, como fizeram as igrejas nacionais da Reforma. Ele também é cuidadoso para não ir ao outro extremo colocando a Igreja em oposição ao Estado, que era a tendência dos judeus.

Resumindo a responsabilidade do Cristão em relação às autoridades civis, devemos: pagar, orar e obedecer:

  • Pagamos tributo – impostos (Rm 13:6-7).
  • Oramos por todos em autoridade (1 Tm 2:2).
  • Obedecemos àqueles em autoridade (Tt 3:1).

O Dever do Cristão para com os Cidadãos do Estado 

Cap. 13:8-10 – Os Cristãos não devem estar apenas sujeitos às autoridades civis, mas eles também têm uma obrigação de amor para com os cidadãos do Estado, em busca de seu bem e bênção. Paulo diz: “A ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor” Alguns tomaram esta declaração como significando que não devemos ter dívidas de nenhum tipo – por exemplo, hipotecas, empréstimos, etc., no entanto, isso provavelmente significa que não devemos ter dívidas pendentes. Algumas dívidas são inevitáveis em nossa sociedade; todos nós temos contas de telefone, gás, água, luz, etc. Além disso, há contas que são inevitáveis nos negócios. A questão de Paulo aqui é: entrar em atraso com essas dívidas deve ser evitado porque presta um mau testemunho diante do mundo.

Algo que sempre estaremos devendo é a nossa obrigação de demonstrar “amor”. A palavra para “amor” aqui é ágape no grego, que é amor de uma disposição estabelecida para com alguém por causa de um cuidado genuíno e preocupação por essa pessoa. Este é o tipo de amor que Deus tem para os perdidos neste mundo (João 3:16). O amor ágape é mais uma questão de vontade do que de emoções. Deus define o Seu amor sobre o homem quando não há nada a se amar no homem (Dt 7:7; Ef 2:4). Expressar isso para com os perdidos poderia levá-los a receber Cristo.

Paulo diz que, pelo amor, cumprimos os requisitos morais da Lei. Isso não poderia significar que o Cristão está sob a Lei, porque contradiria o que Paulo ensinou anteriormente na epístola. Nestes versos, ele menciona vários mandamentos da segunda tábua da Lei, que tem a ver com a responsabilidade do homem em relação a seus semelhantes. Seu ponto é que o amor cumprirá essas coisas sem estar formalmente sob a Lei. Nosso objetivo é ser como Cristo em todas as nossas ações e, ao colocar isso em prática, acabamos por cumprir aqueles requisitos morais da Lei. O Senhor resumiu a segunda tábua da Lei como: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22:36-40).

A Ocupação do Cristão em Vista da Vinda do Senhor 

Cap. 13:11-14 – Enquanto os governos deste mundo se tornam mais e mais corruptos – uma coisa que marcará os últimos dias – o Cristão não deve se envolver em tentar impedir o declínio ou melhorar os padrões morais do mundo. Em vez disso, a vinda do Senhor é trazida diante de nós como um motivo para a vida santa. Assim, o Cristão não é chamado para corrigir o mundo, mas ele é responsável por se conduzir de maneira correta diante de Deus e do seu próximo, no que diz respeito ao seu comportamento pessoal. Paulo enfatiza isso nos últimos versículos do capítulo 13.

Anteriormente na epístola, Paulo usou a figura de um tribunal romano, mas aqui ele usa a figura de ações do exército romano. Os soldados são vistos como dormindo; à medida que o amanhecer se aproxima, eles são chamados a despertar do sono, a tirar suas roupas de dormir e vestir sua brilhante armadura e, assim, cumprir as responsabilidades do dia.

Ele começa dizendo: “Conhecendo o tempo”. Vemos disto que é importante para o Cristão ter um “entendimento dos tempos” (compare 1 Cr 12:32). Independentemente do tempo em que fomos chamados a viver na história da Igreja, a iminência da vinda do Senhor deve estar sempre diante de nossas almas, pois “a nossa salvação está agora mais perto de nós do que quando aceitamos a fé”. O aspecto da salvação que Paulo está se referindo aqui é o aspecto final da nossa salvação, quando o Senhor vier e formos glorificados e levados para o céu (Fp 3:20-21; 1 Ts 4:15-18). Ele explicou isso nos capítulos 5:9 e 8:18-30.

A iminência da vinda do Senhor deveria ter um efeito prático sobre o crente. Deveria nos deixar alertas e vigilantes, e nos impedir de nos estabelecer no mundo. O avançado da hora exige que toda a letargia e inatividade sejam abandonadas. Não é hora de dormirmos juntos com o mundo. Paulo diz que se esse tem sido o nosso estado espiritual, “é já hora de despertarmos do sono” e estar ocupados no serviço do Senhor.

Cristo era “a luz do mundo” (Jo 8:12, 9:5). Enquanto esteve no mundo, era “dia” (Jo 9:4, 11:9). Ele anunciou aos Seus discípulos que “a noite” estava chegando quando Ele seria rejeitado e expulso deste mundo (Jo 9:4, 11:9-10). Este é o tempo em que fomos chamados a viver. Mas a boa notícia é que a “noite” da ausência do Senhor está quase no fim (“a noite vai adiantada” – TB); Ele está prestes a voltar. Então, receberemos o aspecto final de “nossa salvação” (no Arrebatamento). Mas não apenas isso, Paulo diz: “O dia está próximo” (TB), quando Cristo reinará em glória sobre o mundo. Isso ocorrerá na Sua Aparição.

Três Breves Exortações 

Em vista dos perigos da noite pela qual estamos passando e da iminência do Arrebatamento e da Aparição de Cristo, Paulo faz três breves exortações que, se postas em prática, nos preservarão até a hora da vinda do Senhor. Essas exortações são caracterizadas por estarem no imperativo.

Em primeiro lugar, ele insiste na separação do mundo. Ele diz: Rejeitemos, pois, as obras das trevas” (v. 12b). Assim, devemos nos desfazer de toda prática mundana e questionável, como um homem se despindo de uma roupa suja (2 Co 6:14-7:1).

Em segundo lugar, Paulo diz: “Vistamo-nos das armas [da armadura – JND] da luz” (v. 12c). Assim, devemos colocar a cobertura protetora de uma vida santa, que nos fará uma luz brilhante na escuridão.

Em terceiro lugar, Paulo diz: Andemos honestamente [apropriadamente – JND], como de dia” (v. 13-14). Ele nos diz como isso é feito: despojando-se das práticas da carne (exemplificadas nos seis exemplos) e revestindo-se de “o Senhor Jesus Cristo” (v. 13-14). Gálatas 3:27 fala do se revestir formalmente de Cristo pelo batismo, que tem a ver com a nossa identificação com o testemunho Cristão; aqui é a manifestação prática da vida de Cristo. Revestir-se do Senhor Jesus Cristo é ter a atitude que Ele tinha para com Deus, para com os santos e para com os governos civis – tópicos esses que Paulo tem abordado nos capítulos 12-13. Em relação a Deus, o Senhor Jesus disse: “Deleito-Me em fazer a Tua vontade, ó Deus Meu” (Sl 40:8). Para os santos, Ele disse: “a Minha bondade não chega à Tua presença [não se estende a Ti – JND], mas aos santos que estão na Terra, e aos ilustres em quem está todo o Meu prazer” (Sl 16:2-3 – ARF). Quanto aos governos, Ele disse: “Dai, pois, a César o que é de César” (Lucas 20:25).

No entanto, fazemos “provisão para a carne” (KJV) quando enfatizamos o lado físico e material da vida, ao invés do espiritual. Isso supre para a carne se levantar e se impor em nossas vidas.

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