Origem: Livro: As Epístolas de Paulo aos TESSALONICENSES
Os “Sinais Vitais” de Vida
Vs. 3-10 – O capítulo 1 está cheio de elogios para os crentes tessalonicenses. Todos os Cristãos precisam de encorajamento e, especialmente os novos convertidos. Um pastor, ou qualquer um que tenha o cuidado de novos convertidos em seu coração, deve manter isso em mente, e ser o mais animador possível quando o louvor é devido. Paulo, portanto, começa recomendando esses novos convertidos pelo que viu neles, que eram marcas evidentes da verdadeira conversão. Ele lista uma série de coisas que lhe deram a mais completa confiança de que foram verdadeiramente salvos.
A realidade da conversão é a primeira coisa que alguém que trabalha com novos convertidos precisa ter certeza. A grande questão que precisa ser resolvida no início de nossos trabalhos com um novo crente é: “Essa pessoa é verdadeiramente salva? Ele realmente ‘passou da morte para a vida?’” (Jo 5:24) Isso é importante porque um dos “estratagemas”[1] (Ef 6:11 – tradução de W. Kelly) de maior sucesso de Satanás é introduzir os falsos crentes (aqueles que meramente professam fé em Cristo) entre aqueles que são verdadeiros crentes, numa tentativa de frustrar e corromper a obra de Deus.
[1]  N. do T.: “Strategema” no grego, significando manobra, tática ou ardil utilizados numa guerra com o intuito de enganar, sabotar ou confundir, e assim subjugar o oponente ou inimigo. ↑
Parece que sempre que há uma nova obra de Deus acontecendo, a tática de Satanás é semear “o joio no meio do trigo” (Mt 13:25). Este foi certamente o caso com os trabalhos dos apóstolos no livro de Atos. Satanás procurou interferir no trabalho de várias maneiras, usando crentes meramente professos. Havia “Simão” (At 8:13), “uma jovem, que tinha espírito de adivinhação” (At 16:16-18), e os “sete filhos de Ceva” (At 19:13-17), todos procuravam se juntar ao trabalho de alguma forma. Portanto, podemos ter certeza de que onde quer que haja uma obra de Deus acontecendo, o inimigo não estará longe. Obviamente, se um obreiro Cristão discerne que está lidando com um grupo misto de pessoas, ele precisará insistir na verdade do evangelho e na necessidade de fé pessoal em Cristo para a salvação.
Assim como há “sinais vitais” de vida que indicam que uma pessoa está viva fisicamente – batimento cardíaco, pressão sanguínea, etc. – há também “sinais vitais” que indicam que uma pessoa está viva espiritualmente. Neste primeiro capítulo, Paulo fala de vários desses sinais que ele viu nos tessalonicenses que indicavam que havia uma verdadeira obra de Deus em suas almas. Foi algo pelo qual agradeceu a Deus (v. 2). Ao fazer isso, o Espírito de Deus nos dá um esboço das coisas que devemos procurar nas almas que indicam que elas foram verdadeiramente salvas.
1) FÉ NO SENHOR JESUS
V. 3 – Paulo começa mencionando três virtudes Cristãs que ele viu nos tessalonicenses. São elas: fé, esperança e amor. Essas coisas, em maior ou menor proporção, estão ativas na vida de todo crente e evidenciam o fato de que ele é verdadeiramente salvo. Essas três virtudes são agrupadas em pelo menos dez lugares no Novo Testamento (1 Co 13:13; Gl 5:5-6; Ef 1:15-18, 4:2-5; Cl 1:4-5; 1 Ts 1:3, 5:8; Hb 6:9-12; 1 Pe 1:3-8, 21-22). Essas coisas não são apenas grandes provas da salvação de uma pessoa, mas também são essenciais para o crescimento espiritual e a prática da vida Cristã. Estas são as fontes que energizam a nova vida de um Cristão e fazem com que ele viva pelas coisas invisíveis e eternas as quais sua fé abraçou em Cristo. Elas também formam um sólido caráter Cristão que será expresso nas ações e caminhos do crente.
A primeira dessas três coisas é a “obra da fé”. Nota: Paulo não fala meramente da fé, mas da fé que se evidencia na “obra”. Isso é fé real. Isto é, a verdadeira fé produzirá evidências de sua existência na vida de uma pessoa. Paulo enfatiza isso porque existe a “fé sem as obras”, a qual Tiago diz que é “morta” (Tg 2:20). Paulo não estava sugerindo que as pessoas ganham sua salvação trabalhando para isso, mas sim que a fé na vida de uma pessoa comprova sua realidade pelas obras (At 9:36; Ef 2:10, etc.). Essas coisas não são feitas para que alguém se salve, mas resultam de uma pessoa que é salva.
2) AMOR PARA COM O SENHOR JESUS
V. 3b – A fé se manifesta por obras que demonstram que uma pessoa realmente tem fé – mas “amor” se manifesta em “trabalho”. Os Cristãos servem ao Senhor Jesus Cristo por amor. O trabalho deles para o Senhor é motivado por amor a Ele, não por dever legal. O amor pelo Senhor Jesus é produzido em nós pelo entendimento e meditação de Seu amor por nós – “Nós O amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 Jo 4:19; 2 Co 5:14). Visto que os tessalonicenses eram marcados pelo “trabalho do amor” (ARF), era uma clara evidência de que eles realmente tinham com o Senhor Jesus um vívido relacionamento verdadeiro pela fé. Tal amor trabalhará incessantemente para agradar seu Objeto.
3) ESPERANÇA NA VINDA DO SENHOR JESUS
V. 3c – Os tessalonicenses também foram marcados por sua constante espera pela volta de Cristo. Essa é a “esperança” do Cristão. Nas Escrituras, a esperança não é usada da mesma maneira que no vernáculo comum da linguagem de hoje. Usamos a palavra em nossos dias para nos referirmos a algo que gostaríamos de ver acontecer, mas não temos garantia de que isso acontecerá. Na Bíblia, esperança é uma certeza adiada; tem expectativa com certeza relacionada a ela. Assim, temos a certeza de que o Senhor virá porque a Escritura nos diz que Ele virá novamente para nos receber a Si mesmo (Jo 14:2-3).
Paulo havia instruído os tessalonicenses quanto à vinda do Senhor, e havendo crido nisso, eles esperavam diariamente por Sua vinda novamente. Assim, a iminência da vinda do Senhor esteve intensamente diante de seus corações. A prova de isso ser uma coisa real com eles é evidenciada em sua “paciência [persistente constância – JND] da esperança”. Eles não tinham apenas esperança, eles tinham “perseverança” em sua esperança. Isso tem a ver com suportar as provações e perseguições no caminho da fé que vêm dos opositores do Cristianismo. Aqueles que não são verdadeiros não suportarão as dificuldades relacionadas com a vida Cristã e se afastarão. O Senhor deu um exemplo: “é o que ouve a palavra, e logo a recebe com alegria, mas não tem raiz em si mesmo, antes é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende” (Mt 13:20-21). Assim, a provação e a adversidade se manifestam onde uma pessoa realmente está em sua alma. O tempo trará isso à luz, pois é um grande testador da realidade.
O fato de esses queridos crentes terem suportado as tribulações e perseguições ligadas à sua esperança provou que eles eram verdadeiros. Eles não estavam esperando por uma melhora nas condições políticas do mundo, ou em alguma outra coisa que acontecesse entre os homens na Terra – a esperança deles era “em nosso Senhor Jesus Cristo” e ser tirados totalmente deste mundo em Sua vinda. Paulo acrescenta: “diante de nosso Deus e Pai”. Isso indica que ele podia ver que o propósito de Deus em salvá-los estava definitivamente sendo levado adiante sob o olhar atento do próprio Deus.
V. 4 – Tendo declarado estes três primeiros sinais de vida, Paulo conclui afirmando: “conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (AIBB). Essas coisas lhe deram a mais plena confiança de que eles eram verdadeiramente os eleitos de Deus.
Essas virtudes são ilustradas (tipicamente) em três dos fiéis seguidores de Davi:
- “Jônatas” exibiu “obra da fé” (1 Sm 13).
- “Itai” exibiu o “trabalho do amor” (2 Sm 15:19-22).
- “Mefibosete” exibiu a “paciência da esperança” (2 Sm 19:24-30).
A igreja em Éfeso foi caracterizada por ter “obras”, “trabalho” e “paciência” (Ap 2:1-7), mas não há menção de que eles tenham “fé”, “esperança” e “amor” que deveriam acompanhar essas coisas (Hb 6:9-12). Isso indica que eles estavam seguindo o caminho Cristão, fazendo todas as coisas externas que os Cristãos deveriam fazer, mas lhes faltava o ímpeto que impulsiona tal vida. Quando este é o caso, geralmente não é muito antes de a vida Cristã se tornar um dever e não um privilégio. Quando for esse o caso, haverá uma renúncia de princípios e práticas, e a decadência se instalará. É, portanto, absolutamente necessário manter nossa vida interior com o Senhor brilhando intensamente por meio da comunhão com Ele. Muitas vezes tem sido dito que não há substituto para a comunhão diária com o Senhor – a comunhão é a “corda salva-vidas” do crente. Se algo vier interromper essa comunhão (ou seja, pecado), Deus fez provisão para o crente restaurar sua comunhão por meio do julgamento próprio e confissão de seus pecados ao Pai (1 Jo 1:9). Isso é algo que definitivamente deveria ser enfatizado para novos convertidos. Sem isso, nossa vida Cristã irá rapidamente sair dos trilhos.
4) OBEDIÊNCIA À PALAVRA DE DEUS
Vs. 5-7 – Outra coisa que Paulo viu entre os crentes tessalonicenses foi sua obediência à Palavra de Deus. Este é um sinal revelador que indica se uma pessoa é verdadeira ou não. A Palavra foi pregada por Paulo e seus cooperadores no “poder” do “Espírito Santo” e com “muita certeza”, e os tessalonicenses nela creram e a receberam. Este não foi apenas um mero reconhecimento intelectual da verdade, mas uma experiência de mudança de vida para eles. Alterou o curso de suas vidas. Sua obediência foi evidenciada pelo fato de que eles se tornaram “imitadores” de Paulo e dos outros obreiros com ele – “e do Senhor” (v. 6). Pode parecer estranho que Paulo mencionasse que eles se tornaram seguidores de si mesmo e de seus cooperadores antes de mencionar que eram seguidores do Senhor. Normalmente, pensamos que seria o contrário. Mas Paulo simplesmente acrescentou a frase “e do Senhor”, para mostrar que o verdadeiro manancial de sua imitação era o próprio Senhor. Essa mudança na vida dos tessalonicenses foi tão completa que eles realmente se tornaram “exemplos [modelos – TB]” do que os Cristãos deveriam ser. Os santos na Macedônia e na Acaia (norte e sul da Grécia) viram claramente a evidência de sua conversão (v. 7).
Como regra, se uma pessoa faz uma profissão de ter crido no Senhor Jesus Cristo como seu Salvador, mas não há disposição para alterar o curso de sua vida para seguir o Senhor em obediência à Palavra, é evidente que a vontade da pessoa não foi quebrada. Existe uma possibilidade muito real de que essa pessoa não seja verdadeiramente salva. Todo obreiro Cristão precisa estar ciente disso e proceder com cautela ao lidar com alguém que não manifesta esse “sinal vital” de vida divina. O Senhor disse: “Portanto, pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7:20).
5) GOZO DO ESPÍRITO SANTO
V. 6 – A obediência dos tessalonicenses à Palavra de Deus foi misturada com “gozo do Espírito Santo”. Este é outro sinal da realidade, porque a verdadeira felicidade sempre acompanha a verdadeira obediência (Pv 29:18; Jo 13:17). Embora houvesse “muita tribulação” na forma de perseguição contra eles por causa de sua obediência à fé, eles voluntariamente sofreram essas coisas por Cristo “com gozo”. A perseguição foi particularmente dos judeus incrédulos naquela região (1 Ts 2:14-15). Se alguém está disposto a sofrer por suas crenças, é evidente que ele está convencido delas e que é um verdadeiro crente.
6) DIVULGAÇÃO DO EVANGELHO
V. 8 – Os tessalonicenses não apenas creram no evangelho, mas também se tornaram mensageiros do mesmo. Paulo disse: “Porque por vós soou a palavra do Senhor, não somente na Macedônia e Acaia, mas também em todos os lugares a vossa fé para com Deus se espalhou”. Eles estavam tão convencidos daquelas coisas em que creram que queriam compartilhar as boas novas com os outros. Onde quer que eles fossem, por eles “fez-se ouvir – TB” o evangelho para os outros.
É interessante notar que não há menção aqui (ou em qualquer outro lugar no Novo Testamento) desses novos Cristãos sendo treinados em um seminário e ordenados antes de serem pregadores da “Palavra do Senhor”. Nem a Escritura fala de homens saindo para pregar sob o patrocínio e direção de um conselho missionário. Embora essas instituições que marcam o evangelismo de hoje tenham as melhores intenções, elas tendem a algemar o servo de Deus. (Se uma pessoa quer o apoio financeiro do conselho missionário, ele deve ir aonde o mandam e fazer o trabalho que eles lhe dão. Um conflito pode se desenvolver quando o servo sente que o Senhor está lhe dirigindo de outra maneira). A Escritura ensina que todo Cristão é um servo, e que cada servo deve olhar para o Senhor para ser guiado diretamente por Ele em sua obra pelo Espírito Santo, e nenhum homem ou instituição deve entrar no meio (At 13:1-4 “… os deixaram ir” (JND).
7) ARREPENDIMENTO E SEPARAÇÃO DO MAL
V. 9 – Tendo recebido Cristo e provado a bondade de seu relacionamento recém-encontrado com Ele, os tessalonicenses prontamente deram as costas para seu estilo de vida pré-conversão e seu envolvimento no pecado da idolatria. Paulo diz: “dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro. E esperar dos céus a Seu Filho”. Isso mostra que houve genuíno arrependimento com eles, e é outro sinal convincente de que a conversão deles a Deus era real. Isso deve acompanhar todas as conversões.
Por outro lado, se uma pessoa não abandonar seu estilo de vida pré-conversão e pecar depois de fazer uma profissão de fé em Cristo, isso mostra que não houve arrependimento verdadeiro com o indivíduo. Pode ser um sinal de que a fé da pessoa não seja verdadeira. O arrependimento não é salvação, mas não há salvação sem arrependimento. Essas duas coisas andam juntas, como Paulo indicou aos anciãos de Éfeso – “o arrependimento para com Deus e fé em nosso Senhor Jesus Cristo” (At 20:21 – ARA; Lc 13:3, 5). A pregação moderna encoraja a fé em Cristo, mas geralmente não enfatiza o arrependimento. Isso ocorre porque o foco da pregação hoje visa obter tantas profissões de fé quanto possível, e arrependimento (que toca a consciência do homem e insiste em uma mudança na direção da vida de uma pessoa) é uma coisa impopular e indesejada para muitos. Assim, os pregadores modernos tendem a não enfatizar isso.
É digno de nota que Paulo não diz que lhes pediu para que se livrassem de seus ídolos; parece ser algo que eles fizeram por sua própria vontade. Sendo verdadeiramente nascidos de novo, e assim possuindo a vida divina, eles instintivamente sabiam que aquelas coisas eram inconsistentes com a adoração do “Deus vivo e verdadeiro”. Notem a ordem disso: eles se converteram para Deus dos ídolos. O gozo que eles tiveram na salvação de suas almas encheu seus corações de tal modo que desalojou qualquer desejo por um ídolo.
É altamente improvável que uma pessoa hoje nesses países esclarecidos se curve e adore uma imagem feita de madeira ou pedra, como os homens faziam nos tempos bíblicos. Mas a idolatria ainda está em todo o mundo – é apenas mais sofisticada e refinada hoje em dia. Em princípio, a idolatria é qualquer coisa que cative o interesse de alguém, a ponto de torná-lo um fervoroso devoto dela e isso passe a comandar cada vez mais sua atenção. Alguém que tenha permitido um ídolo em seu coração (Ez 14:3) geralmente será a última pessoa a perceber isso, porque um dos efeitos da idolatria é que o idólatra fica cego (Sl 115:4-8). Para um Cristão, a idolatria é qualquer coisa que venha entre nosso coração e o Senhor e dispute seu afeto. Os Cristãos precisam ter cuidado com isso. Por isso, o apóstolo João advertiu: “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (1 Jo 5:21).
V. 10 – Os tessalonicenses não só se converteram a Deus dos ídolos, mas saíram do seu caminho para “servir o Deus vivo e verdadeiro”. Eles se lançaram em propagar o evangelho e ministrar aos santos, etc. – embora fossem novos Cristãos em si mesmos! Eles tinham um novo foco e uma nova ocupação em suas vidas. Eles também tinham uma nova perspectiva e esperança – “esperar dos céus a Seu Filho”. Paulo havia ensinado a eles que o Senhor estava vindo para levá-los para o céu (o Arrebatamento), e eles viviam na iminência disso. Ele também lhes ensinou que o Senhor é nosso Libertador “da ira futura”, que é a apropriada esperança da Igreja. Por isso, eles (corretamente) aguardavam para ser tirados deste mundo no Arrebatamento antes que a ira de Deus caísse sobre ele (Rm 5:9).
Cada capítulo da epístola termina com uma referência à vinda do Senhor.
