Origem: Livro: Os Irmãos Abertos
Uma Comunhão Universal de Crentes
A escritura também ensina que, como o vínculo entre os membros do corpo de Cristo é universal, a comunhão deles também deve ser universal. Consequentemente, a Escritura diz: “Fiel é Deus, pelo Qual fostes chamados para a comunhão de Seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor” (1 Co 1:9). Embora Paulo estivesse escrevendo para os santos em Corinto, não há menção de essa comunhão ser algo local em Corinto. De fato, ao abordá-los em questões de ordem de assembleia e comunhão, o apóstolo disse: “… com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Co 1:2). Ele cuidadosamente ligou os que estavam em Corinto às outras assembleias na Terra como parte de uma comunhão. O desejo de Deus é que todo Cristão ande nesta comunhão, independentemente de onde ele esteja na Terra.
A Escritura indica que, embora possa haver muitas reuniões de Cristãos em uma cidade, elas são vistas como uma assembleia. Por exemplo, Paulo se dirigiu aos coríntios como “a igreja de Deus que está em Corinto” (1 Co 1:2), embora mais tarde na epístola ele reconheceu que nem todos eles se encontravam “em um só lugar” na cidade (1 Co 14:23). Isso é visto novamente com a assembleia em Jerusalém. Em Atos 2:47, diz: “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja [juntos[2] – JND] aqueles que se haviam de salvar”. Eles partiam o pão em muitos locais de reunião na cidade, mas faziam isso como estando “juntos” em uma comunhão.
[2] N. do T.: A nota de rodapé de J. N. Darby diz: “Alguns omitem ‘à assembleia’, cap. 2:47 e vincule ‘juntos’ ao final do cap. 2. Provavelmente deveríamos ler ‘o Senhor acrescentava juntos diariamente aqueles que deveriam ser salvos. E Pedro (ou ‘Ora Pedro’) e João subiram ao templo’. ↑
É visto novamente em Atos 9:31: “Assim, pois, tinha paz a Igreja por toda a Judeia, Galileia e Samaria, sendo edificada e caminhando no temor do Senhor, e crescia no conforto do Espírito Santo” (TB). A versão King James e a Almeida Revista e Corrigida erroneamente traduzem como “as igrejas”, mas deveria ser, “a Igreja”. Havia muitos locais de reunião nessas regiões, mas esses locais são referidos simplesmente como “a Igreja”, indicando única comunhão de Cristãos que existia nessas regiões.
E novamente, em 2 Coríntios 3:3, Paulo fala dos muitos crentes em Corinto como “a carta de Cristo”. Nota: a palavra “carta” é singular; não são “cartas”, como a maioria das pessoas equivocadamente mencionam. A intenção é retratar a unicidade deles.
Mateus 18:15-20 é a primeira menção da assembleia local na Escritura, e vemos o Senhor aludindo ao pensamento de unidade prática entre os reunidos ao Seu nome. Mateus 18:20 diz: “Porque onde estiverem dois ou três reunidos em [são[3] colocados juntos para o – JND] Meu nome, aí, estou Eu no meio deles”. Ele desejou que todos aqueles a quem o Espírito de Deus reunia para o Seu nome, onde quer que estivesse na Terra, estivessem “juntos”. Ele não poderia ter pensado que todos deveriam estar reunidos em um único local geográfico, como era no judaísmo em Jerusalém. O Senhor estava indicando que eles deveriam agir juntos, com todos os outros naquele terreno em que os reuniu (mesmo que eles estivessem em diferentes localidades), de modo a expressar universalmente que eles eram um. Portanto, desde o início do ensino da assembleia na Escritura, existe o pensamento de haver uma comunhão universal dos santos na Terra.
[3] N. do T.: Foi usado o verbo “ser” (“são colocados”) e não o “estar” (como na maioria das traduções bíblicas em português de Mateus 18:20) pois “ser” indica uma propriedade ou característica permanente do sujeito ao passo que “estar” indica um estado transitório. ↑
Agora, alguém pode pensar que estamos lendo mais nesta palavra “juntos” (em Mateus 18:20) do que aquilo que ela quer significar, mas quando nos voltamos para o livro de Atos e as epístolas, como estamos prestes a fazer, e essa Escritura é interpretada à luz de todo o teor da revelação Cristã, podemos ver que o Senhor estava indicando a verdade da unidade da Igreja. Isso é apenas sugerido aqui em Mateus 18, porque os discípulos ainda não tinham o Espírito e não seriam capazes de absorver o sentido (Jo 14:25-26, 16:12). O Senhor fez isso em muitas ocasiões em Seu ministério, dando apenas a semente de uma verdade e deixando que ela se desenvolvesse por meio dos apóstolos quando o Espírito veio.
Em João 10:16, o Senhor indica que Ele iria reunir Seu povo em “um rebanho”. Nota: Ele não diz que queria que eles fossem encontrados em vários rebanhos independentes, mas que todos seriam “um”, independentemente de onde possam ser encontrados na Terra. Haveria muitas reuniões, mas apenas um rebanho – apenas uma comunhão universal de santos.
Em João 11:51-52, Deus levou Caifás a profetizar de Sua intenção de “colocar juntos em um os filhos de Deus, que andavam dispersos” (JND) depois que o Senhor realizou a redenção. Além disso, o Senhor orou para esse fim, dizendo: “Pai santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós..” E, novamente, “para que todos sejam um, como Tu, ó Pai, o és em Mim, e Eu em Ti; que também eles sejam um em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste” (Jo 17:11, 21). Esses versículos no evangelho de João falam da unidade na família de Deus. Eles mostram que o desejo de Deus pelo Seu povo é que eles sejam encontrados juntos em uma unidade visível na Terra, independentemente de onde estejam geograficamente.
Os membros do corpo de Cristo devem expressar visivelmente a verdade de que eles são “um só corpo”
Além disso, a Escritura indica que o “um só corpo” de Cristo (Ef. 4:4) é o terreno sobre a qual a Igreja deve se reunir localmente para adoração, ministério, comunhão e ações administrativas de disciplina. Portanto, uma assembleia reunida biblicamente expressará essa verdade com outras assembleias que são reunidas de maneira semelhante nesse terreno e, assim, manifestam a unidade no corpo de Cristo de uma maneira prática.
As epístolas aos efésios e colossenses revelam a verdade do “grande Mistério” de Cristo e a Igreja, que é o Seu corpo. E, a primeira exortação prática da epístola aos efésios é “andar digno da vocação” com que fomos chamados (Ef 4:1). Podemos perguntar: “Como os membros do corpo devem andar dignos?” Alguns podem nos dizer que devemos fazê-lo vivendo de maneira correta e sendo bons cidadãos na comunidade, mas esse não é o assunto da passagem. Os Cristãos, é claro, devem se preocupar em andar de maneira correta, mas o contexto de Efésios 4 indica que a exortação a “andar digno” tem em vista o ser chamado ao corpo de Cristo. Isso é visto nos versículos seguintes, que dizem: “com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, procurando diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef 4:2-3 – AIBB). É claro, portanto, que a Igreja deve andar digna de seu chamado, mantendo a unidade do Espírito, porque é “um só corpo”.
Não somos chamados a manter a unidade do corpo, mas “a unidade do Espírito”. Isso ocorre porque a unidade do corpo é uma coisa vital que o Espírito de Deus formou no Pentecostes ao unir os membros do corpo juntos à Cabeça no céu, do qual agora fazemos parte por meio do selo do Espírito (Ef 1:13). Nenhum poder do mal ou do inimigo pode quebrar a unidade do corpo, pois o próprio Deus a mantém. A unidade do Espírito, por outro lado, é uma unidade prática entre os crentes que somos responsáveis por manter, e é nosso privilégio fazê-lo. F. G. Patterson disse: “Manter a unidade do Espírito é se diligenciar em manter em prática o que existe de fato”. E o que existe de fato? A passagem continua dizendo: “há um só corpo” (v. 4). Outro disse que a unidade do Espírito é “aquilo que o Espírito está formando para dar verdadeira expressão à verdade do um só corpo”. Concluímos, portanto, que os Cristãos devem andar dignos de seu chamado, colocando em prática a verdade de que são “um só corpo”. É da vontade de Deus que essa unidade seja expressa universalmente, onde quer que o corpo esteja na Terra. Essa é a primeira grande responsabilidade coletiva da Igreja, o corpo de Cristo. Esta unidade não se refere apenas a um grupo local de crentes; o sujeito é o “um só corpo” e o “um só corpo” não está em nenhuma localidade. É uma unidade universal entre os crentes na Terra.
Para ajudar os membros do corpo de Cristo a caminharem juntos em unidade prática, Efésios 4 continua nos dizendo que Cristo, a Cabeça do corpo elevada ao céu, fez provisão completa para os membros para esse fim (Ef 4:7-16). Ele deu “dons” à Igreja com o propósito de ajudar os santos a entenderem seus privilégios e responsabilidades no corpo, para que eles andassem dignos de seu chamado.
Os Irmãos Abertos reconhecerão a verdade de que “há um só corpo”, mas eles o veem meramente como um conceito doutrinário que não tem ramificações práticas na eclesiologia Cristã (prática da Igreja). Mas eles estão enganados; a Escritura mostra que a Igreja primitiva praticava o princípio do “um só corpo”, e a Igreja hoje deveria praticá-lo também. Essa verdade é encontrada em muitos lugares no Novo Testamento. Vamos nos concentrar em duas coisas: recepção e disciplina.
RECEPÇÃO À COMUNHÃO – Na Escritura, a recepção à comunhão não é vista como algo meramente local, embora seja efetuada localmente. Quando uma pessoa é recebida em comunhão na “mesa do Senhor” (1 Co 10:21) em um local, ela é recebida em comunhão com os santos como um todo – em todas as assembleias que estão no verdadeiro terreno da Igreja de Deus, como reunidas para o nome do Senhor.
Se alguém visitar outra assembleia em outro lugar, ele não é reexaminado pelos irmãos naquela localidade para a qual foi, mas é recebido porque já está em comunhão – mesmo que nunca tenha estado naquela assembleia antes. Se ele não é conhecido nessa localidade, ele deve levar uma “carta de recomendação”, afirmando que ele está em comunhão (At 18:24-28; Rm 16:1; 2 Co 3:1). Tais cartas são escritas de uma assembleia para outra, recomendando uma pessoa à comunhão prática da assembleia para a qual está indo. Esta carta não diz aos irmãos da localidade para a qual a pessoa está viajando para examiná-la e, em seguida, se tudo estiver bem, para recebê-la em comunhão. A carta anuncia que a pessoa já está em comunhão e que a assembleia deve recebê-la como tal.
Como todos os assuntos relacionados à assembleia devem ser feitos “por boca de duas ou três testemunhas” (2 Co 13:1), dois ou três irmãos da assembleia local da pessoa devem assinar a carta. Com isso, expressamos a verdade de que somos um corpo nessas questões de comunhão entre assembleias.
Quando pessoas foram salvas nos “lugares que estão além” (2 Co 10:16) e novas assembleias foram formadas, isso foi realizado em comunhão com os que estavam no terreno do “um só corpo”. Não era do pensamento de Deus que essas novas reuniões existissem como assembleias independentes, mas que elas fossem parte da única comunhão de crentes à qual todos os Cristãos são chamados. Portanto, o Espírito de Deus teve o cuidado de vinculá-las àqueles já reunidos no terreno do “um só corpo”, para que “a unidade do Espírito” fosse mantida. Diz dos crentes de Tessalônica: “Porque vós, irmãos, haveis sido feitos imitadores das igrejas de Deus que na Judeia estão em Jesus Cristo” (1 Ts 2:14). Assim, eles estavam ligados em comunhão prática ao que o Espírito de Deus já havia começado.
Isso é confirmado no livro de Atos. Vemos as várias assembleias se movendo juntas praticamente e expressando a verdade de que eles eram um corpo – e isso foi antes mesmo que eles entendessem a verdade do um só corpo! Isso é visto em Atos 8:4-24. Muitos em Samaria haviam chegado a crer no Senhor Jesus por meio da pregação de Filipe, todavia, o Espírito de Deus não os reconhecia como estando no terreno da assembleia até que tivessem recebido o Espírito e tivessem comunhão prática com aqueles a quem Ele já havia reunido para o nome do Senhor Jesus em Jerusalém. Isso foi feito para impedir que os crentes samaritanos estabelecessem uma assembleia independente que fosse separada da assembleia em Jerusalém. Ao procurar manter “a unidade do Espírito”, dois representantes desceram de Jerusalém e impuseram as mãos sobre aqueles em Samaria (uma expressão de comunhão prática – Gl 2:9), pela qual o Espírito de Deus Se identificou com eles. Isso mostra que não é da mente de Deus ter assembleias independentes. O Sr. C. H. Brown disse: “Deus não permitiu que os samaritanos obtivessem reconhecimento oficial como pertencendo à igreja [assembleia] até que eles o recebessem desses emissários que desciam de Jerusalém.” Grande cuidado foi tomado pelo Espírito de Deus para vincular esses crentes “juntos” com os de Jerusalém, para que houvesse uma expressão prática do “um só corpo” na Terra, mesmo que essa verdade ainda não tivesse sido revelada como uma questão de doutrina.
Quando o apóstolo Paulo encontrou um grupo de crentes em Éfeso (At 19:1-6) que desconheciam os outros com quem Deus havia trabalhado, ele descobriu que o Espírito de Deus não os reconhecia como estando no terreno divino da assembleia. Eles não foram reconhecidos como estando no terreno do “um só corpo” até que tivessem o Espírito e tivessem comunhão prática (demonstrada pela imposição de mãos) com aqueles a quem o Espírito já havia reunido. Em referência a esse grupo de crentes, C. H. Brown também disse: “Eles precisavam de algo. Eles tinham que ser trazidos para a mesma unidade que já existia. Eles não podiam ser reconhecidos como ocupando um terreno diferente do resto deles. Paulo não podia dizer: ‘Vocês não estão no mesmo terreno que Antioquia ou Jerusalém, mas vocês têm muita verdade, e eu seguirei com vocês’. Ah não. Ele vai se empenhar em trazê-los para o mesmo terreno que o resto. Eles foram trazidos para a mesma coisa que havia sido formada antes mesmo de ouvirem falar disso.” Aqui, novamente, vemos o cuidado e a sabedoria que Deus tinha em manter “a unidade do Espírito” para que houvesse uma expressão prática da verdade do “um só corpo”.
DISCIPLINA DE UMA ASSEMBLEIA – A escritura indica claramente que a verdade do “um só corpo” também deve ser expressa em questões relacionadas à disciplina e excomunhão. Embora possa haver muitas milhas de distância entre as assembleias, elas são vistas como estando todas em um só terreno e em uma comunhão; quando uma assembleia age com capacidade administrativa, as outras assembleias reconhecem esse ato de ligar ou desligar (Mt 18:18-20), porque esses atos feitos em uma assembleia são feitos em nome do corpo como um todo.
Em 1 Coríntios 12:27, Paulo indica que a assembleia em Corinto era a representante local do corpo como um todo. Isso seria verdade para todas as assembleias, fosse Corinto, Éfeso, Filipos, etc. Infelizmente, este versículo na versão King James (e na ARC) diz: “Agora sois o corpo de Cristo.” Isso é enganoso e pode levar alguém a pensar que o corpo de Cristo estava apenas em Corinto – como se eles fossem os únicos no corpo, ou que cada assembleia local fosse o corpo de Cristo. Isso não está correto porque o corpo de Cristo abrange todos os Cristãos na face da Terra. O versículo deve ler: “Ora, vós sois corpo de Cristo; e, individualmente, membros desse corpo” (ARA). Isso transmite com mais precisão o pensamento. Nota: Paulo não diz “nós”, mas “vós”. Ele estava falando da assembleia em Corinto. Eles certamente não eram o corpo inteiro, mas eram do corpo de Cristo – isto é, parte do todo.
Hamilton Smith ilustra esse ponto pedindo que imaginemos um general, dirigindo-se a uma companhia local de soldados, dizer: “Lembrem-se homens, vocês são guardas da rainha”. Ele não disse: “vocês são os guardas da rainha”, porque eles não formam todo o regimento. A ausência do artigo “o” na tradução correta transmite o pensamento correto de que a assembleia de Corinto era a expressão local do corpo de Cristo como um todo. Sendo o representante local de todo o corpo, a assembleia deve atuar em nome do corpo como um todo nos assuntos administrativos da comunhão. Portanto, atuando na recepção, na disciplina ou em algum outro assunto, o fazem em vista do corpo como um todo – isto é, o que é praticado em uma localidade se estende ao todo. A competência de cada assembleia para agir em nome do corpo como um todo advém do fato de o Senhor sancionar o meio em que se encontra e suas ações administrativas (Mt 18:20).
Se uma assembleia tomar uma decisão de ligar afastando alguém da comunhão, o corpo como um todo atua em comunhão com essa assembleia e reconhece a ação de modo que a pessoa “repudiada” seja considerada “fora” em todas as outras reuniões também – não apenas na localidade onde ele reside. Vemos isso em 1 Coríntios 5:13, onde a assembleia em Corinto deveria afastar aquela pessoa iníqua do meio deles. Então 2 Coríntios 2:6 nos diz que a “repreensão” ou “censura” (JND) feita pela assembleia de Corinto foi “feita por muitos”. Os “muitos” se referem ao corpo como um todo – a massa dos santos universalmente (conforme a nota de rodapé da tradução de J. N. Darby,). Portanto, o ofensor é obrigado a sentir a repreensão por mais do que apenas sua assembleia local. (Não dizemos que o homem em questão realmente foi a outras localidades e recebeu a repreensão delas, mas que a ação foi realizada pelo corpo como um todo.) O ponto aqui é que, se uma pessoa tiver de ser afastada da comunhão em uma localidade específica, ela é considerada fora da comunhão em qualquer lugar da Terra, porque o que é feito em nome do Senhor em uma assembleia afeta o todo na prática.
Mateus 18:18 confirma isso. O Senhor disse: “Tudo o que ligardes na Terra…” Isso mostra que uma decisão tomada por uma assembleia é tomada para a Terra toda. O Senhor não disse que era algo para uma localidade específica. Não há nada na Escritura sobre tomar uma decisão de ligar que se aplique apenas a uma determinada localidade. Neste versículo, o Senhor está simplesmente dizendo que, se a assembleia tomar uma decisão em Seu nome, Ele a reconhecerá. Se o céu a reconhece, então todos na Terra também a reconhecerão.
Da mesma forma, quando se trata de desligar uma ação que foi ligada, a assembleia onde a ação foi realizada retira a censura e (administrativamente) perdoa a pessoa arrependida que ela excomungou, então o corpo como um todo segue, expressando também perdão, em receber a pessoa se ela vier a essas assembleias. Portanto, quando é “desligado no céu”, é desligado em todas as outras assembleias também. Um exemplo de desligar é visto nos comentários de Paulo em 2 Coríntios 2:7-11. Embora Paulo tivesse autoridade para, se necessário, agir apostolicamente nesta matéria, ele optou por esperar até que a assembleia de Corinto agisse, de modo a manter “a unidade do Espírito”. Ele disse: “A quem (vós) perdoardes alguma coisa, também eu.” Ao fazer isso, a Igreja expressa a verdade de que é “um só corpo”.
Paulo passou a dizer, “para que (nós) não sejamos vencidos por Satanás” (2 Co 2, 11). Nota: ele não disse: “vós sejais vencidos” – referindo-se aos coríntios; ele disse: “(nós)”. Isso indica os santos como um todo no “um só corpo”. Paulo sabia que Satanás estava procurando dividir as assembleias em seu testemunho universal de um só corpo, e essa delicada questão entre assembleias era onde ele iria trabalhar. Portanto, Paulo, como representante dos demais santos, indica como devemos agir nessas questões de desligar um julgamento da assembleia. Embora ele (e talvez outros) soubesse que o homem estava arrependido e deveria ser restaurado à comunhão, ele não foi à frente da assembleia em Corinto e agiu independentemente no assunto, embora, sendo apóstolo, tivesse autoridade para agir assim. Em vez disso, ele esperou que os coríntios agissem primeiro no assunto; então ele e o resto dos santos em outros lugares da Terra aceitariam o julgamento deles e o seguiriam. Somos ensinados por isso que não devemos agir de forma independente, mas em conjunto com a assembleia que faz a ação e, assim, expressar que somos um corpo.
Vemos outro exemplo da verdade do “um só corpo” praticada em Atos 15, quando surgiram problemas entre os santos de Antioquia, devido a mestres judaizantes de Jerusalém que perturbavam os santos com sua doutrina de misturar lei e graça. Novamente, aprendemos algumas lições valiosas sobre como Deus gostaria que lidássemos com problemas entre assembleias. A primeira coisa que descobrimos é que eles decidiram enfrentar o problema com aqueles de Jerusalém. Poderíamos pensar que a razão pela qual eles levaram o assunto foi porque era o centro de Deus para lidar com problemas de assembleia, como se fosse o único local central na Terra (uma sede) para a qual as assembleias deveriam levar seus problemas. Mas a assembleia em Antioquia não foi a Jerusalém porque não era qualificada para lidar com o problema – o Senhor estava no meio da assembleia de Antioquia, assim como em Jerusalém. E, se fosse simplesmente um caso em que eles desejassem um julgamento apostólico no assunto, eles poderiam ter apelado aos apóstolos Paulo e Barnabé, que estavam lá em Antioquia. Quem, exceto o apóstolo Paulo, era mais qualificado para lidar com questões que tocam a lei e a graça? Embora seja verdade que eles valorizavam o discernimento dos apóstolos e líderes em Jerusalém no assunto, a razão mais profunda para subir a Jerusalém era “guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz”. O fato era que os mestres judaizantes que incomodavam os santos de Antioquia tinham vindo de Jerusalém (v. 24). Para não romper a unidade prática entre as duas assembleias, os irmãos de Antioquia não lidaram com o problema de forma independente, mas o levaram para onde se originou e deixaram Jerusalém lidar com o problema.
Isso nos ensina que, se alguém de uma determinada assembleia visita outra assembleia e faz algo errado ali, de modo que exija correção ou ação disciplinar, essa assembleia não deve agir de forma independente, mas levá-la à assembleia local de onde o causador de problemas veio; e eles podem lidar com isso. Assim, “a unidade do Espírito” é mantida no vínculo unificador da paz. Isso, novamente, mostra que a Escritura não apoia a ideia de assembleias agindo autonomamente.
É digno de nota que quando eles subiram a Jerusalém com esse assunto e pararam em várias assembleias ao longo do caminho, eles não perturbaram essas reuniões, espalhando o problema entre elas. Eles apenas falaram de coisas que causariam “grande alegria” entre os santos, embora sem dúvida estivessem profundamente sobrecarregados com o assunto que atingiu o ponto principal da posição do Cristão em graça. Isso nos ensina a importância de não espalhar os problemas da assembleia local desnecessariamente. Nosso adversário, o diabo, poderia alcançá-lo e usá-lo para causar problemas entre os santos.
Portanto, uma assembleia reunida biblicamente não é autônoma, mas funciona em comunhão com todas as outras assembleias no verdadeiro terreno da Igreja, porque se reúne no terreno do “um só corpo”. O princípio do “um só corpo” deve também entrar em ação quando uma assembleia inteira erra. Se essa assembleia se recusar a lidar com seus erros depois de lhes ter sido conclusivamente mostrado na Palavra de Deus, será renegada pela ação vinculativa de outra assembleia agindo em nome do corpo como um todo. Depois de examinar cuidadosamente o assunto, eles simplesmente declarariam formalmente que a assembleia errada não está mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja de Deus. Seguindo o princípio do tipo em Deuteronômio 21:1-9, a ação deve ser tomada por uma assembleia que seja a mais próxima do problema e conheça a situação intimamente. (A proximidade aqui não é necessariamente uma proximidade geográfica, mas uma proximidade moral. Isso é visto em Atos 15. A assembleia em Antioquia era moralmente mais próxima do problema, depois de os professores judaizantes ensinarem sua má doutrina naquela assembleia. Eles levaram o caso à assembleia em Jerusalém, de onde vieram os judaizantes, embora houvesse outras assembleias geograficamente mais próximas de Jerusalém.)
Essa responsabilidade coletiva é ilustrada em outra figura em Deuteronômio 13. Se o mal fosse encontrado em uma pessoa em uma cidade na nação, à essa cidade em que ele vivia era ordenado: “o apedrejarás” até a morte (vs. 6-11). O apedrejamento fala da consciência de todos em uma assembleia local que está engajada no julgamento de uma pessoa má em seu meio. Mas, se uma cidade fosse encontrada tendo o mal não julgado, as outras cidades da nação deveriam agir para a glória do Senhor e julgar essa cidade. Deveria ser destruída e feita um monte para sempre (vs. 12-18). Isso mostra que havia uma responsabilidade coletiva por parte de todas as cidades em Israel de afastar o mal na nação. Veja também Jz 19-20. Tipicamente, fala de uma assembleia que provou ser injusta, sendo rejeitada pelas outras assembleias em comunhão com ela, e a partir de então é vista como não mais reunida no verdadeiro terreno da Igreja.
Em vista desses princípios bíblicos, podemos afirmar que a Escritura não reconhece nada de comunhão independente (autônoma). As assembleias locais não são vistas na Escritura como “ilhas” de comunhão separadas, todas por si mesmas no oceano da profissão Cristã; a Escritura vê apenas uma comunhão universal à qual todos os Cristãos são chamados (1 Co 1:9). Os Irmãos Abertos chamam isso de “interconectividade de assembleias” (em oposição à sua “autonomia das assembleias”), mas a Escritura chama isso de manter “a unidade do Espírito pelo vínculo da paz: há um corpo” (Ef. 4:3-4).
