Origem: Livro: Breves Meditações sobre os Salmos

Salmo 22

Este Salmo foi a linguagem da alma do Senhor enquanto Ele estava pendurado na cruz (Mt 27:46). Ele proferiu, talvez, apenas as primeiras palavras, mas Seu espírito passou pelo todo. Ele começa como se Seus clamores por libertação da morte (Hb 5:7) não tivessem sido ouvidos, uma vez que Ele estava agora sob as trevas do rosto virado de Deus. Esta foi a morte de uma vítima, não de um mártir. Foi a morte sob o julgamento do pecado. Nada jamais poderia se assemelhar a isso. Veja como a morte do mártir Estevão é diferente da do Cordeiro de Deus (At 7). Mas ainda assim, o Sofredor perfeito justifica inteiramente a Deus – o Deus fiel dos pais e Seu Deus desde o ventre até agora.

Ele, portanto, ainda clama, apresentando diante dos olhos de Deus, todas as peculiaridades de Sua aflição atual vinda da mão dos homens (veja os vs. 7-8, 12, 16-18). E é estranho como os inimigos, naquela hora, estavam cumprindo a Palavra de Deus contra si mesmos literalmente (veja v. 8 e Mateus 27:43). Mas, por fim, o Bem-aventurado Sofredor parece consciente de ter sido ouvido (v. 21) – ouvido desde “as pontas dos unicórnios [os chifres dos búfalos – ARA] – ouvido, sem dúvida, por Aquele que O podia livrar da morte (Hb 5:7), pois podemos observar que o clamor de Jesus na cruz: “Deus Meu, Deus Meu, por que Me desamparaste?”, foi, depois de um intervalo, seguido por outro clamor: “Pai, nas Tuas mãos entrego o Meu espírito”. Esse segundo clamor surgiria naturalmente da consciência de que o primeiro havia sido ouvido. E, portanto, pode-se pensar que o Senhor aqui no v. 21 expressa Sua percepção de ter sido ouvido por Seu Libertador da morte.

Diante disso, Ele faz Seus votos: – primeiro, declarar o nome de Deus a Seus irmãos; segundo, louvá-Lo na “congregação” (de Israel) e na “grande congregação” (de todas as nações). O primeiro Ele começou a pagar imediatamente ao ser libertado da morte (Jo 20:17), e ainda está cumprindo em todos os santos (Rm 8:15); o segundo Ele pagará no reino quando Israel e as nações estiverem reunidos, a semente de Jacó glorificando a Deus e as famílias das nações adorando diante d’Ele. Pois então, como Jesus aqui promete, o reino e todas as suas ofertas serão do Senhor.

Mas sobre este Salmo devo observar ainda que, enquanto o Senhor Jesus, nos dias de Sua vida e ministério na Terra, estava salvando e não julgando, inclinando-Se e escrevendo com o dedo na terra como se Ele não tivesse ouvido, em vez de atirar uma pedra em alguém culpado, ainda assim Ele submeteu o mundo, em sua maldade, ao olhar judicial e à observação de Deus. Em João 17 Ele faz isso, quando diz: “Pai justo, o mundo não Te conheceu”. Esse mesmo ato parece-me estar presente neste Salmo muito peculiar e comovente.

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