Origem: Livro: Breves Meditações sobre os Salmos
Salmo 102
Algo muito diferente é ouvido agora. Este Salmo começa com a queixa do “Homem de dores”. Ele Se vê abandonado por Seus seguidores, reprovado pelo inimigo e sustentando a justa ira de Deus – a indignação e a ira devidas a outros que caem sobre Ele (vs. 1-11). Ouvimos então a resposta de Deus a isso; e essa resposta promete a Ele vida e um reino, e uma manifestação em Sua glória, relatando também o tema do louvor com o qual Israel e as nações O celebrarão (vs. 12-22). Então o Messias é ouvido pela segunda vez meditando solitariamente sobre Suas aflições, (vs. 23-24,); e Deus, da mesma maneira, novamente respondendo-Lhe – lembrando-O, por assim dizer, de Suas antigas glórias na criação, e prometendo-Lhe, como antes, vida, um reino e uma semente (vs. 25-28).
A citação em Hebreus 1 deste Salmo parece dar a ele essa estrutura e caráter; pois nos diz que os versículos 25-27 é a linguagem de Deus para o Filho, e isso nos leva a concluir que os versículos 12-22 também são. E assim a estrutura acima do Salmo é determinada.
Mas, em conexão com isso, podemos notar uma coisa. O Senhor Jesus Cristo é o Construtor. Isso nos dá o direito de ver o Cristo como o Cabeça de cada dispensação – o grande poder ativo em todas elas – seja na Criação, entre os Patriarcas, no monte Sinai ou como o Deus de Israel em toda a sua história. Ele fez os mundos ou ordenou as eras (Hb 1:2). Ele edificou a casa de Moisés e todas as casas de Deus (Hb 3:3). E é o Cristo a Quem Deus Se dirige neste Salmo como tendo lançado os fundamentos da Terra e sobrevivido, em Sua glória, a todas as coisas que são feitas – o Cristo que uma vez foi o Pisado e o Ferido. Mistério maravilhoso!
É um Salmo de beleza e grandeza muito tocantes.
É como Jesus no Getsêmani, extremamente triste até à morte, indo adiante e orando novamente, dizendo as mesmas palavras, e ainda assim, sendo ouvindo repetidas vezes – o anjo do céu O fortalecendo lá, a resposta de Jeová assegurando-O aqui (veja Lucas 22:43).
Eu poderia observar ainda que este Salmo também nos permite ler, nessas expressões de Jesus e nas respostas divinas a elas, o que aprendemos de outras Escrituras doutrinárias simples – que as glórias de Jesus vêm de Seu sofrimento. “Se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, fica ele só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Mostra-nos “os sofrimentos que a Cristo haviam de vir e a glória que se lhes havia de seguir”. Pois o Cordeiro no trono é o Cordeiro que havia estado antes no altar. É o arco d’Aquele que uma vez foi atingido pelos arqueiros e cuja força permanece. Toda a Escritura nos mostra isso; e temos isso nesses clamores de Jesus, e nas respostas tão abençoadamente dadas a eles.
E quanto à nossa bênção. Tudo depende dos mesmos sofrimentos de Cristo. Nenhum pensamento sobre o amor de Deus deve ser permitido que interfira nas exigências de Sua justiça. O amor é sem medida. Isso é verdade. Mas não é uma simples emoção. É o que, a um custo indescritível, proporcionou redenção para o culpado. E se pensarmos no amor sem crer na provisão que foi feita para as reivindicações e exigências da justiça, estamos lidando com um simples sentimento de nossa própria mente, e não com a revelação de Deus. E pobres são as melhores concepções da religião do homem – algo realmente diferente da grandeza moral e perfeições do Evangelho de Cristo, onde Deus é Justo enquanto justifica o pecador, onde aprendemos que Ele trouxe de volta Seus banidos e recebeu Seus pródigos, sempre sustentando as glórias plenas de Seu trono de justiça e fornecendo em Si mesmo uma resposta a todas as Suas exigências. A Cruz de Cristo é o segredo e o centro de tudo isso.
