Origem: Revista O Cristão – Revelação Progressiva

Abraão e Moisés

É apropriado considerarmos Abraão e Moisés juntos, visto que ambos estão intimamente ligados à nação de Israel. Em ambos os casos, podemos considerar a revelação divina a eles como indivíduos, e também em um sentido mais amplo, por se relacionarem com os propósitos de Deus para com Israel.

Abraão e sua família se destacam claramente como o fundamento da nação de Israel, mas dentro da família há progresso na revelação de Deus. Em Abraão, vemos o chamado, em Isaque, a filiação, em Jacó, a disciplina e em José, a glória. Em cada membro da família, vemos uma figura da verdade do Novo Testamento. O espaço não nos permite aprofundar em todos os principais membros da família abraâmica; devemos nos contentar em considerar Abraão.

Como o primeiro membro da família, Abraão demonstra uma fé extraordinária, pois Deus o chamou, quando ainda idólatra (veja Josué 24), para deixar sua casa em Ur dos Caldeus, “sem saber para onde ia”. O que caracterizou Abraão no início, e de fato durante toda a sua vida, foi sua fé inabalável em Deus. É verdade que ele ocasionalmente falhou nisso, mas é notável que não há repreensão direta de Deus por essas falhas. A comunhão com o Senhor resolveu a questão em cada caso. Ele desfrutava de um relacionamento com Deus que poucos tinham no Velho Testamento e foi chamado de “amigo de Deus” (Tg 2:23). É verdade que ele se tornou um homem rico, mas nunca possuiu nenhuma terra, exceto um lugar de sepultura e, embora interagisse ocasionalmente com outros na terra de Canaã, viveu uma vida separada em comunhão com Deus. Ele abraçou plenamente as promessas que Deus lhe fez e se contentava em viver uma vida simples neste mundo, contando com Deus para bênçãos futuras.

Essas bênçãos futuras incluíam não apenas Israel, mas também os gentios, pois Deus lhe disse: “Em ti serão benditas todas as famílias da Terra” (Gn 12:3). Isso nos leva à revelação do Novo Testamento, pois, quando a questão de guardar a lei se tornou um problema entre as assembleias da Galácia, Paulo escreveu a elas, usando Abraão como exemplo de fé sem obras. Dessa forma, mesmo aqueles que são salvos nesta dispensação da graça são “filhos de Abraão”, e “os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gl 3:7, 9 – ARA). É verdade que, depois de Abraão, a lei foi introduzida como um teste para o homem, mas sempre foi o propósito de Deus abençoar o homem por meio da graça que era apropriada pela fé. Vemos isso demonstrado primeiro em Abraão, e seria abraçado por outros em anos futuros.

Mais do que isso, Cristo foi introduzido como a Fonte dessas bênçãos, pois Deus disse a Abraão: “E em tua Descendência serão benditas todas as nações da Terra” (Gn 22:18). Isso é explicado em Gálatas 3:16: “Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua Descendência, que é Cristo” É digno de nota que essa promessa só foi feita a Abraão depois da oferta (em figura) de Isaque, uma figura de Cristo na morte e ressurreição.

Quando chegamos a Moisés, vemos mais revelações do caminho de Deus com o homem e, novamente, particularmente em conexão com Israel. Como homem, Moisés também foi notável, pois conheceu a Deus face a face. Davi registra que o Senhor “fez conhecidos os Seus caminhos a Moisés, e os Seus feitos aos filhos de Israel” (Sl 103:7). Ele foi o primeiro dos escritores inspirados da Bíblia e, por inspiração, diz de si mesmo: “E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o SENHOR conhecera face a face” (Dt 34:10). Ele é o primeiro na Escritura a ser especificamente designado como “homem de Deus”.

A história de Moisés foi incomum, pois, ainda bebê, ele começou sua vida sob a condenação da morte, mas pela providência de Deus acabou sendo criado na corte de Faraó como filho adotivo da filha de Faraó. No entanto, ele desistiu de tudo isso, apenas para acabar cuidando de ovelhas por 40 anos – uma experiência verdadeiramente humilhante. Mas tudo foi ordenado por Deus, de modo que, quando chamado para liderar o povo de Deus para fora do Egito, ele aprendeu a confiar no Senhor e não em si mesmo. Apesar de sua falha no final de sua vida, ele nunca vacilou em seu amor pelo Senhor e também em seu amor pelo povo de Deus. Nisso, Moisés se destaca como talvez nenhuma outra figura do Velho Testamento.

Em um sentido mais amplo, foi a Moisés que Deus Se revelou pela primeira vez como “EU SOU” – o Deus que guarda a aliança. Foi sob Moisés que Israel se tornou uma nação soberana, e sob ele receberam a lei – uma lei dada diretamente por Deus. Embora nós, neste tempo da graça de Deus, não estejamos mais sob a lei, a lei de Moisés nos dá muitos princípios importantes relacionados aos caminhos de Deus com o homem nesta Terra e como uma nação deve ser governada. “E que nação há tão grande, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que hoje ponho perante vós?” (Dt 4:8). De Moisés em diante, no que diz respeito ao governo e ao relacionamento de Deus com a Terra, Seu nome – aquele pelo qual Ele deve ser continuamente lembrado – é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó. Isso deu, e continua a dar, à nação de Israel um lugar importante e peculiar, pois Israel será para sempre o centro e a chave para os propósitos de Deus na Terra. É nessa época que nos é dito que Deus havia estabelecido outras nações em seus determinados lugares tendo Israel como referência. “Quando o Altíssimo distribuía as heranças às nações, quando dividia os filhos de Adão uns dos outros, estabeleceu os termos dos povos, conforme o número dos filhos de Israel” (Dt 32:8).

Foi também por meio de Moisés que Deus começou a habitar coletivamente entre Seu povo, primeiro no tabernáculo, depois no templo sob Salomão. Foi por meio de Moisés que os sacrifícios específicos foram instituídos e, embora certamente não fossem completamente compreendidos por Israel na época, eles prefiguram em detalhes os vários aspectos da obra de Cristo.

Em suma, vemos em Moisés que Israel, como povo escolhido de Deus, é colocado em seu lugar e é visto também como um povo redimido. É significativo que a primeira ocasião de cântico registrado na Bíblia tenha sido após a libertação de Israel do exército de Faraó no Mar Vermelho. Verdadeiramente somos levados a dizer de Deus, como o apóstolo Paulo: “Quão insondáveis são os Seus juízos, e quão inescrutáveis os Seus caminhos!” (Rm 11:33).

W. J. Prost

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