Origem: Revista O Cristão – O Chamado de Deus
Abraão – O Chamado da Promessa
O que vemos na Palavra de Deus antes deste notável relato do chamado de Abrão (Gn 12-13) é humilhante, pois vemos o que Deus nos disse sobre o pecado e a ruína do homem, ao trazer o dilúvio, e o que se seguiu a ele. O que deveria ser feito, então? Deus havia colocado um sinal nos próprios céus de que não visitaria mais a iniquidade da raça humana como fizera no dilúvio. Havia um princípio secreto de graça com Deus no qual Ele sempre agiu, mas agora esse princípio deveria ser trazido à tona manifestamente. O que fez a diferença no caso de Abel, Enoque ou mesmo Noé? Foi a graça que fluiu para eles e operou neles tudo o que era bom, santo e verdadeiro. Mas há uma coisa nova que surge na história agora diante de nós.
Um fundamento para a ação
A promessa seria, a partir de então, um fundamento público de ação por parte de Deus. Deus não estava mais contente em agir secretamente. Ele agora faria o chamado distinto e claro, chamando a atenção de amigos e inimigos. Era o chamado de Deus, não mais secreto, mas evidente para todos.
Assim foi dito: “Ora, o Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei” (Gn 12:1). Abrão foi chamado por Deus a um lugar de separação, e isso para se manifestar como o grande princípio que Deus quer que pesemos agora com toda seriedade, ao lermos Sua Palavra.
O povo de Israel, no Sinai, tomou o terreno da lei. A consequência foi que, por mais divino que fosse o princípio, ele falhou em relação à nação escolhida. Assim, novamente, Deus então aplicou o mesmo princípio ao chamado da Igreja. Não é mera misericórdia para com a alma, pois isso sempre foi verdade, mas Deus tem um corpo chamado publicamente neste mundo, composto dos que se destinam a ser testemunhas de Sua graça em Cristo nas alturas.
Mas o Senhor em Suas tratativas começa antes de tudo com um indivíduo, e havia grande sabedoria nisso. Por qual motivo foi assim? Não só para que o próprio Abrão fosse abençoado, mas para ele ser uma bênção, e isso não só para sua própria semente, mas para outros em toda parte. “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12:3).
Esse é o único caminho possível de bênção, na Terra e com os homens. Se deve haver bênção em um mundo que está arruinado, ela deve estar no terreno de alguém que sai em obediência ao chamado de Deus, não ficando onde está, nem tentando reformar o mal no meio do qual ele possa estar. Deus tornou isso particularmente manifesto nesta época, pois o mundo não seria mais como antes do dilúvio; ele foi separado em suas distintas nacionalidades. O governo também já havia sido instituído.
Idolatria
Mas agora que a idolatria havia entrado (Js 24:2), a separação para Deus surge como o lugar reconhecido. Em vez de ter almas que andem individualmente com Ele, Deus, desde aquele dia até hoje, adota o que seria então uma coisa totalmente nova para o homem: se Ele deve ser satisfeito ou engrandecido, isso precisava ser como separado para Ele mesmo. Deus procura por mais agora, Ele chama para fora. Daí a força da palavra aqui: “Sai-te da tua terra”.
Não é simplesmente “crer”; esta não era, de modo algum, a questão colocada. Não se trata aqui de o evangelho sendo enviado, nem de Cristo sendo apresentado pessoalmente. É Deus que separa para Si mesmo pela Sua própria Palavra – um homem que estava no meio de tudo o que é mau, com sua própria família adorando falsos deuses como os demais. O fato solene era que a família de Sem havia caído em idolatria tanto quanto as outras. Apesar do propósito anunciado por Deus, os filhos de Sem, tinham se mostrado sem fé. Assim, o que se poderia fazer? Não haveria como garantir a honra de Deus? Este foi o caminho: O chamado de Deus vai, em soberana graça, separando para Si um homem que não era melhor do que seus semelhantes, mas declaradamente envolvido nas idolatrias de seus pais. “Sai-te da tua terra… para a terra que Eu te mostrarei”.
Assim, a primeira coisa que eu gostaria de enfatizar é que a fé é demonstrada quando cremos no que Deus traz para nossa própria alma e para nosso próprio caminho. Deus tem uma vontade sobre cada etapa sucessiva em todas as diferentes fases da vida, à medida que o próprio mal cresce e opera no mundo. Satanás não se limita às mesmas armadilhas da falsidade e do pecado, mas torna-se cada vez mais sutil e determinado em seus planos. E, de acordo com isso, Deus procura por fé em Sua Palavra. Portanto, nesse caso, a própria família (Sem), o que quer que seja que esperasse, estava fatalmente envolvida em suas redes, assim como os outros homens. Mas Deus tem uma maneira de Se vindicar, e esta é uma maneira que dá toda a glória a Si mesmo. A fé reconhece isso como sendo o que deve ser.
O chamado foi pela graça
O chamado aconteceu sem que houvesse o menor fundamento para isso no próprio Abrão. Vemos como isso é perfeitamente consistente com os tratamentos de Deus. Ele pretendia que a bênção estivesse nessa linhagem, mas Abrão era evidentemente um filho dos infiéis e, sem dúvida, uma criança infiel. O chamado foi, portanto, de acordo com a graça: O próprio Deus chamou, e Deus, ao mesmo tempo, estava preparando esse homem para o lugar de bênção. Deus tinha, antes de Abrão estar preparado para isso, pronunciado o que estava em Seu coração lhe dar para que não fosse pelo merecimento de Abrão, mas de Deus que o chamou. Isso era a graça. “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome” (Gn 12:2).
Todo o princípio da bênção que flui do chamado de Deus foi manifestado em um homem distintamente separado para Ele e chamado sem perturbar os arranjos do mundo. Não havia como colocá-lo com a mais poderosa espada em sua mão para destruir os que praticavam a iniquidade. O mundo foi deixado, organizado sob a providência de Deus em famílias, nações e línguas separadas, mas não até que o governo pelo homem fosse consentido por Deus. Mas ali, tendo a honra de Deus sido completamente colocada de lado e falsos deuses adorados, Ele separa sob Sua promessa de abençoar o homem que sai ao Seu chamado para a terra que Ele lhe mostraria.
O chamado e a promessa
Esse, então, é o abençoado caminho de Deus – um dos mais eficazes, pois também é peculiar a Ele mesmo, e com base nele, de fato, Deus tem agido em nosso próprio chamado, seja para Si mesmo ou para a Igreja. Foi muito para Deus dizer: “E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome”. Mas havia outra palavra, e ela era especialmente preciosa ao coração de alguém tão abençoado. “E tu serás uma bênção”. Isso o tornaria não apenas o objeto da graça, mas o instrumento dela. Era para conceder a Abrão comunhão com o próprio Deus na atividade de Sua própria bondade. “E tu serás uma bênção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra”.