Origem: Revista O Cristão – O Caráter Moral dos Últimos Dias
Absolutos e Relativismo
Nas últimas décadas, o pluralismo religioso do Extremo Oriente influenciou cada vez mais as pessoas na Europa Ocidental e na América do Norte. O declínio do Cristianismo coincidiu com uma explosão de interesse no misticismo oriental e nas religiões orientais, e tudo isso resultou em uma perspectiva que diz, na prática, que não importa muito em que acreditamos, desde que sejamos sincero nisso. O pensamento é que, como todos os rios correm para o mesmo oceano, todas as religiões levam à mesma realidade final. Essa visão tem sido comum na Ásia há séculos, mas agora até mesmo os Cristãos professos adotam essa crença pluralista e veem Jesus como apenas um dos muitos deuses.
Para o crente, os aspectos destrutivos dessa abordagem não são difíceis de perceber, embora às vezes seja difícil caracterizar e explicar esse pensamento “pós-modernista”, pois há muitas variações dele. Mas, implícita em sua perspectiva, há a desconfiança quanto a toda verdade absoluta e a rejeição da Palavra de Deus como sendo a única divinamente inspirada. Qualquer reivindicação à verdade é relegada simplesmente ao fato de ser relativa, e qualquer base para a verdade é descartada por não ter autoridade final. A consequência prática dessa filosofia é uma verdadeira miscelânea de “verdades”, que permite ao indivíduo escolher o que mais lhe convém. Sem uma maneira absoluta de julgar as “verdades” concorrentes, ficamos com uma ampla diversidade de pontos de vista e uma atmosfera de “tolerância”.
Pensamento distorcido
No final isso leva a um pensamento distorcido nas questões morais do certo e do errado, pois, se não houver absoluto, o certo e o errado podem ser julgados pelo indivíduo. E isso resulta em homicidas e terroristas valerem tanto quanto aqueles que tentam impedi-los. No nível mais pessoal da vida cotidiana, o certo e o errado são definidos pelas consequências e as pessoas agem de acordo com uma “ética situacional”. Recentemente um clérigo na Inglaterra aconselhou publicamente os pobres a roubar, se necessário, para satisfazer sua fome, mas estipulou que eles deveriam roubar apenas de grandes corporações, não de pequenos negócios familiares.
Esse modo de ver a vida é muito atraente para o homem natural, pois lhe permite definir sua própria moralidade. Como o homem tem consciência, existe certo senso de certo e errado em todo indivíduo, mas sem revelação divina e verdade absoluta, o seu senso está invariavelmente distorcido. O resultado final é o que encontramos em Israel na época dos juízes – “cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos”. Alguém pode ser considerado “espiritual” sem ter sua consciência alcançada, e ele pode professar ter uma “experiência religiosa” sem ter que defini-la. O conceito de pecado é raramente mencionado, e algumas coisas (como imoralidade sexual) são consideradas questões particulares deixadas novamente para o indivíduo decidir.
A Palavra de Deus
Como então os crentes devem responder a esse tipo de pensamento? Em primeiro lugar, devemos levar a sério a ordem de Paulo a Timóteo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina” (1 Tm 4:16). Antes de tudo, devemos tomar cuidado para que nós mesmos não caiamos nessa maneira de pensar. A Palavra de Deus deve ser nossa única autoridade, e devemos compreender que o Espírito Santo está aqui para interpretá-la para nós. “A Tua Palavra é a verdade” (Jo 17:17). Nossos próprios caminhos como crentes devem ser “inculpáveis”, pois estamos “no meio duma geração corrompida”. Não podemos brilhar como “luzeiros no mundo” (ARA) sem isso, pois o homem natural é rápido em julgar o comportamento do crente, mesmo que arranjando desculpas para o seu. A tolerância e a pluralidade têm um certo apelo ao homem natural e certamente contribuem para um caminho mais fácil também para o Cristão. O mundo não teria condenado o Senhor Jesus, exceto porque Ele expôs o pecado deles. “O mundo não vos pode odiar, mas ele Me odeia a Mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más” (Jo 7:7). Portanto, o crente que é tolerante com aquilo que é contrário à Palavra de Deus não sofrerá a mesma reprovação. Devemos estar dispostos a sofrer a reprovação e o isolamento que certamente virão se mantivermos as reivindicações de Deus, pois “todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2 Tm 3:12).
Somente Deus é absoluto
Em segundo lugar, devemos perceber em nossa própria alma a completa irracionalidade do pluralismo e do relativismo. Como alguém já disse, não pode haver conhecimento absoluto no homem por sua própria razão, mas apenas relativo. Somente Deus é absoluto, e se o homem abandona Deus, seu conhecimento, necessariamente, será apenas relativo. No entanto, quem insiste que não existe verdade universal está realmente dizendo: “A única verdade universal é que não existe verdade universal”. Ele está sendo tão absoluto quanto o crente que afirma que “nenhum outro Nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4:12). Ele está realmente usando o que considera uma verdade absoluta para ensinar que toda verdade é relativa. Com um pensamento distorcido semelhante, lembro-me de uma mulher que me disse que era tolerante a tudo, exceto com a intolerância! A verdade, por definição, exclui o que não é a verdade e, portanto, não podemos logicamente insistir que todas as verdades religiosas e morais são igualmente válidas, se elas se contradizem umas às outras.
Não estar andando com astúcia
Em terceiro lugar, e mais importante, não devemos estar “andando com astúcia”, mas “nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade” (2 Co 4:2). A arrogância e a condescendência não têm lugar em nosso testemunho; antes, devemos procurar alcançar consciências manifestando a verdade e usando a Palavra de Deus. Como Cristãos, lidamos com pessoas, não com a lógica, e procuramos alcançar o coração e a consciência. Ocasionalmente, há um tempo para “responde ao tolo segundo a sua estultícia” (Pv 26:5), mas mais importante do que vencer a discussão é ganhar a alma para Cristo. Um argumento lógico pode silenciar o oponente, mas apenas uma obra de Deus na alma o mudará. O homem pode argumentar contra a verdade, mas sua consciência está sempre do lado da verdade.
Em resumo, “não nos cansemos de fazer o bem” (Gl 6:9), pois o evangelho ainda é “o poder de Deus para a salvação”. Muitos estão cansados do vazio do pluralismo e do pensamento relativista e anseiam por algo sólido. Se crermos e pregarmos a verdade absoluta – “como está a verdade em Jesus” (Ef 4:21) – poderemos ter opositores e sermos ridicularizados, mas a verdade terá a vitória no final. O mundo crucificou o Senhor Jesus, Aquele que é a Verdade, mas Deus vindicou a verdade na ressurreição. Aquele que agora é “o Caminho, a Verdade e a Vida” um dia estará no trono de Sua glória, e a verdade será vindicada publicamente.