Origem: Revista O Cristão – O Amor de Cristo nos Constrange
Aceito e Aceitável
“Nos fez agradáveis [aceitáveis – KJV] a Si no Amado” (Ef 1:6 – ARC). “É por isso que também nos esforçamos, quer presentes, quer ausentes, para Lhe sermos agradáveis [aceitáveis – KJV]” (2 Co 5:9 – ARA).
As duas palavras que formam o título deste artigo, embora traduzidas pela mesma palavra em nossa versão da Bíblia – Bíblia King James [também na João Ferreira de Almeida] – não são as mesmas. A primeira diz respeito à pessoa do crente, já a última tem a ver com os seus caminhos práticos. Uma coisa é ser aceito e outra completamente diferente é ser aceitável. A primeira é o fruto da livre graça de Deus para conosco como pecadores. A segunda diz respeito ao fruto do nosso trabalho fervoroso como santos, embora, certamente, é somente pela graça que podemos fazer qualquer coisa.
Aceito
É importante entender a distinção entre estas duas coisas, pois nos preservará do legalismo por um lado e da frouxidão do outro. Isso permanece como verdade imutável que Deus nos fez agradáveis no Amado. Nada pode mudar isso. A ovelha mais fraca do rebanho se mantém aceita no Cristo ressurreto. Não há nenhuma diferença. A graça de Deus colocou a todo o rebanho neste elevado e bendito terreno. Nós não trabalhamos para ser aceitos. Tudo isso é fruto da Graça de Deus. Ele encontrou a todos nós igualmente mortos em ofensas e pecados. Nós éramos moralmente mortos, longe de Deus, sem esperança, impiedosos, sem Cristo, filhos da ira, sendo judeus ou gentios. Mas Cristo morreu por nós e nos deu uma nova vida, ressurretos e estabelecidos em Cristo, nos fez aceitos n’Ele.
Esta é a inalienável e eterna posição de todos os que creem no nome do Filho de Deus. Cristo em Sua infinita graça colocou a Si mesmo judicialmente onde estávamos moralmente, e tendo afastado nossos pecados e perfeitamente satisfeito, em nosso favor, às reivindicações da justiça divina, Deus O ressuscitou dentre os mortos e com Ele todos os Seus membros. Em Seu próprio propósito eterno, no devido tempo, eles serão trazidos para a posse e desfrute do maravilhoso lugar de bênção e privilégio, pela operação eficaz do Espírito Santo.
Podemos muito bem pegar as primeiras palavras da epístola aos Efésios e dizer: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, como também nos elegeu n’Ele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em caridade, e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a Si no Amado”. Todo o louvor ao Seu nome por toda a eternidade!
Aceitável
Mas todos os crentes são aceitáveis em seus comportamentos práticos? Será que todos eles estão se comportando de tal forma que suas atividades e ações suportarão a luz do tribunal de Cristo? Todos estão trabalhando para serem agradáveis a Ele?
Estas são questões sérias; deixe-nos solenemente pesá-las. Não nos afastemos da espada afiada da verdade simples e prática. O apóstolo Paulo sabia que ele era aceito. Isso o tornava negligente, descuidado ou indolente? Bem longe disso. “Nos esforçamos”, diz ele, para Lhe sermos agradáveis. A doce garantia de que somos aceitos n’Ele é o fundamento pelo qual nossos esforços são aceitáveis para Ele. “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).
Tudo isso é proeminentemente prático. Somos chamados, por todos os argumentos que podem governar o coração e a consciência, a trabalhar diligentemente para sermos aceitáveis ao nosso bendito e adorável Senhor. Existe alguma coisa de legalismo nisso? Nem um pouco, mas sim o contrário. É a santidade de uma vida devota, erigida sobre este fundamento sólido de nossa eleição eterna e perfeita aceitação em um Cristo ressuscitado e glorificado à destra de Deus. Como poderia haver o menor átomo de legalismo aqui? Totalmente impossível. É todo o fruto puro da graça livre e soberana de Deus, do primeiro ao último.
A diligência devida
Mas não devemos nos despertar para atender às reivindicações de Cristo quanto à justiça prática? Não deveríamos zelosamente e amorosamente procurar dar prazer a Ele? Devemos nos contentar em falar sobre nossa aceitação em Cristo, enquanto, ao mesmo tempo, não há um verdadeiro cuidado sério quanto à aceitabilidade de nossos caminhos? De modo nenhum! Em vez disso, que nos debrucemos sobre a rica graça que brilha na nossa aceitação para que possamos ser levados a um esforço diligente e fervoroso e sermos considerados aceitáveis em nossos caminhos.
Há muito a temer porque existe entre nós um grande número de antinomianismo, uma adulteração na graça de Deus, sem qualquer cuidado piedoso, sem qualquer aplicação dessas doutrinas à nossa conduta prática. Certamente é necessário que todos os que professam ser aceitos em Cristo, trabalhem fervorosamente para serem aceitáveis para Ele. (Antinomianismo literalmente significa “sem lei” e representa uma doutrina que leva a preciosa verdade da justificação pela fé a uma conclusão antibíblica, afirmando que não há necessidade de guardar a lei moral ou de sermos cuidadosos com a nossa conduta, porque a obra de Cristo lidou com todos os nossos pecados. Isso é usar a graça de Deus como uma desculpa para pecar).