Origem: Revista O Cristão – Jardins
Adão e Eva – O Jardim do Éden
O ato completo da criação sob a mão de Deus é detalhado em Gênesis 1. A obra da criação é novamente apresentada no capítulo 2, mas de forma muito mais resumida. A narrativa então se limita ao Éden, ou ao jardim do Éden, porque era o cenário da grande ação prestes a ser realizada. Tudo aqui está sob a mão do Senhor Deus em um caráter de relacionamento de aliança com o homem e a criação. O jardim é particularmente mostrado para nós; é descrito como o lugar de toda produção desejável e como a fonte daqueles rios frutíferos que deveriam percorrer toda a Terra. O próprio Adão é colocado lá “para o lavrar e o guardar”.
O lugar de Adão no jardim
Assim, todas essas provisões eram para a felicidade do homem. Ele tinha todas as coisas desejáveis, via em sua habitação um manancial de bênçãos para a Terra, e ele próprio foi feito o principal naquele jardim, de onde ele obtinha seus prazeres. Ele foi feito tanto para dar como receber, e essas eram as diferentes características de uma feliz condição para uma mente bem ordenada como a de Adão. Tudo isso certamente era assim, mas com vantagens de uma ordem tão alta, ele precisava ser lembrado de que ainda era apenas uma criatura e que somente o Lavrador divino do jardim era Supremo. Assim, a voz de um Soberano foi ouvida no jardim; um mandamento foi dado: “da árvore da ciência [conhecimento – ARA] do bem e do mal, dela não comerás” (Gn 2:17). Mas essa voz não era uma dissonância. Tudo era uníssono no ouvido de uma criatura íntegra, pois, seja qual for a maneira ou esfera de atuação, Deus deve ser, e será, Deus – ocupando o principal lugar e não dando Sua glória a outro. Uma criatura que faz escolhas certas (neste caso, o homem) deve, portanto, se regozijar com qualquer testemunho da supremacia de Deus, confiando n’Ele para sua própria bênção. Tudo isso é felicidade harmoniosa e consistente, pois, no mandamento não há nada além do que é necessário. Não há imposição de nenhum outro fardo a Adão. Um mandamento é necessário e apenas um é dado. E este é, portanto, apenas mais um item no grande relato de sua felicidade. Lá, o Senhor Deus, para preencher a cena dessa felicidade, celebra para Adão um dia de coroação e um dia de desposório. A ordem da passagem é esta (Gn 2:18-22):
- O Senhor Deus primeiro Se aconselhou Consigo mesmo sobre o desposório de Adão.
- Ele então o apresentou aos seus domínios e soberania.
- Por fim, Ele celebrou seu desposório e apresentou Eva a ele.
Coroação e bodas
Esta é a ordem de sua coroação e de suas bodas, e é uma ordem que tem o seu significado. Acredito que o primeiro é o propósito mais rico de gozo no conselho de Deus, e o último em Sua manifestação. A Igreja estava na eleição e predestinação de Deus antes que o mundo começasse, mas outras eras e dispensações seguiram seu curso antes que o mistério “oculto em Deus” fosse feito conhecido (veja Efésios 3).
Há algo de singular beleza e significado na ordem dessa passagem. Não é o mero progresso de uma narrativa de fatos independentes, é o desígnio de um grande Mestre que sabia o fim desde o princípio. Mas não só isso, esse não é apenas o projeto de uma mente perfeita, mas também o bem conhecido caminho do amor. O primeiro pensamento do Senhor Deus foi sobre a melhor bênção de Adão. A companheira ajudante ao seu lado era para ser mais para ele do que as criaturas sujeitas a ele. O dia de seu desposório seria mais estimado para ele do que o dia de sua coroação. Assim, o Senhor o coroou, e isso foi feito imediatamente e resolvido. Mas, aquilo que seria o principal de seus prazeres era a imagem mais querida na mente de seu Senhor. Seu Senhor ponderou sobre ela. Ele a tornou familiar aos Seus pensamentos – falou sobre ela para Si mesmo, porque era para ser a imagem mais querida para Adão. Este era o caminho do amor. Entendemos que isso seja assim. Gostamos de pensar nas coisas que produzirão a felicidade de alguém que amamos; debruçamo-nos sobre elas em nossos pensamentos e, é assim que o Senhor Deus é representado aqui como comprometido com Adão. A maneira de formar o plano ou tomar o conselho foi assim bela, e o próprio plano, maravilhoso. Ele tinha o objetivo mais elevado: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma adjutora [companheira ajudadora – JND] que esteja como diante dele”.
Gozo para Jesus
Jesus, o Filho de Deus, descobriu que isso é assim. Seu gozo é proporcionado da mesma maneira que o Senhor Deus aqui proporcionou o gozo para Adão. Como lemos: “O Reino dos céus é semelhante a um certo rei que celebrou as bodas de seu filho” (Mt 22:2). Quão excelente propósito, portanto, era esse! Estava fazendo nada menos do que o gozo divino ser o padrão e a medida, estava dizendo à criatura: “entra no gozo de teu Senhor”. E não apenas no plano, mas na execução do plano, o original divino é copiado. Adão dormiu um sono profundo, e de seu lado cerrado foi tirada uma costela, da qual a companheira foi feita – como a companheira do Senhor saiu de Sua labuta, Sua tristeza e Sua morte – e Ele sentiu e valorizou tudo isso.
Adão viu o trabalho de sua alma, por assim dizer, e ficou satisfeito. “Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne”, disse seu coração satisfeito, examinando o fruto de seu cansaço e de sua morte mística, e, novamente, esse é gozo divino. Há Outro, sabemos, que verá assim o trabalho de Sua alma e ficará satisfeito. É o descanso do homem que trabalha duro que é doce. É o pão comido com o suor do rosto que é agradável. Adão não havia ajudado na formação de nenhuma besta do campo. Eles não tinham sido vivificados por meio de nenhum sono seu. Mas Eva foi tirada de seu lado aberto. Ela tinha sido fruto de seu sono semelhante à morte e, portanto, ele a valorizava. E disse Adão: “Esta é agora osso dos meus ossos, e carne da minha carne; esta será chamada mulher, porquanto do homem foi tomada” (Gn 2:23 – ACF). Não apenas como sua ajudadora, sua companheira, mas porque ele tinha sido tão necessário para ela, ele a valorizou; ela foi formada do seu lado, assim como foi formada para o seu lado. A execução do plano teve como resultado ligar seu coração a ela, bem como o resultado.
E esse era o gozo divino; é o gozo de Jesus. O gozo em Sua Igreja é Seu principal gozo; ela é tanto para o Seu lado como do Seu lado. Os anjos não são do trabalho da Sua alma. Mas aquilo que Seu esforço e tristeza conquistaram para Si e que está preparado para a comunhão de Seus pensamentos e Suas afeições – isso será o mais querido. Cada coisa redimida no céu e na Terra certamente será para Ele o descanso do homem que trabalha duro e o pão comido com suor do rosto, mas é a Igreja que está destinada para o Seu lado, como Eva, assim como foi tirada dele.