Origem: Revista O Cristão – A Administração do Dinheiro
Bons Despenseiros da Multiforme Graça de Deus
Em outro artigo desta edição, é enfatizada a importância de uma administração cuidadosa de nossos recursos materiais. No entanto, essas não são as únicas coisas das quais fomos feitos mordomos. É-nos dito em 1 Pedro 4:10 que “cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. Do mesmo modo, Paulo (e aqueles a ele associados) procuraram ser considerados “despenseiros [ou mordomos] dos mistérios de Deus” (1 Co 4:1). A raiz da palavra traduzida como “mordomo” tem o sentido de “distribuidor doméstico” e também é usada em conexão com o mordomo injusto de Lucas 16, bem como para descrever um bispo ou supervisor – “o despenseiro da casa de Deus” (Tt 1:7). Em outra forma, a palavra também pode ser traduzida como “mordomia” ou “dispensação”, e Paulo usa a palavra várias vezes dessa maneira. “Uma dispensação me é confiada” (1 Co 9:17); “na dispensação da plenitude dos tempos” (Ef 1:10); “segundo a dispensação de Deus” (Cl 1:25). A partir dessas e de outras porções da Escritura, vemos que Deus deu dons aos homens e também confiou Sua verdade aos homens, mas como mordomos de quem se espera que sejam fiéis na administração do que receberam.
Fidelidade
Há várias coisas a serem notadas nessa mordomia [administração]. Antes de tudo, o Espírito de Deus usa a expressão “cada um” quando esses dons são mencionados. Não é uma questão de grandeza de dons, pois existem “diversidades de dons”, mas de fé para usar o que nos foi confiado. Na parábola dos talentos de Mateus 25, o Senhor era livre para dar a um servo cinco, dois ou um talento. Era esperado que cada um negociasse com o que havia recebido. Portanto, Deus não nos responsabiliza pelo que não nos foi dado, mas espera que usemos para Ele qualquer dom que tenhamos recebido.
Segundo, é uma coisa séria quando algo é confiado a nós para usar com sabedoria e distribuir aos outros. Paulo evidentemente sentiu isso muito profundamente, como sendo o vaso a quem a verdade da Igreja foi especialmente comunicada de um Cristo ressuscitado em glória. Ele tinha a opção de pregar o evangelho de bom grado, mas, mesmo que não o fizesse, percebeu o fato solene de que “uma dispensação me é confiada” (1 Co 9:17). Embora não tenhamos recebido revelações da mesma maneira que Paulo recebeu, ainda assim o princípio permanece o mesmo, e Deus espera que exerçamos nosso dom e ministremos a verdade de Deus como a recebemos.
Quando o homem com um talento o escondeu na terra (Mt 25:25) e o servo com uma mina simplesmente a guardou num lenço (Lc 19:20), o Espírito de Deus descreve os dois como “maus servos”. Se era algo sério o mordomo em Lucas 16 desperdiçar os bens de seu senhor, quanto mais quando realidades eternas nos foram confiadas! O mordomo injusto em Lucas 16 é, sem dúvida, uma figura de Israel, que havia sido infiel como testemunho de Deus na Terra. Como resultado, a mordomia lhes foi tirada e entregue à Igreja. Os “ramos naturais” do testemunho (retratados pela oliveira – Romanos 11:17) foram quebrados, e os gentios, como de uma “oliveira brava”, foram enxertados. Mas a Igreja foi mais fiel que Israel? Não, pois, como testemunho, ela também falhou. Como resultado, Deus removerá a Igreja deste mundo quando o Senhor vier e trará Israel de volta à bênção novamente.
Enquanto isso, Deus nos deixou aqui, e, até sermos chamados para casa, nossa responsabilidade como mordomos permanece. Se a Igreja falhou coletivamente como testemunho, é mais uma razão para sermos fiéis como indivíduos. Como Cristo foi uma Testemunha fiel quando Israel falhou e tudo estava contra Ele, assim deveríamos ser.
Nosso duplo ministério
O ministério confiado a nós é duplo. Paulo podia dizer a Timóteo que “Deus, nosso Salvador… quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade” (1 Tm 2:3-4). Antes de tudo, então, é um grande privilégio, e também uma responsabilidade solene, para cada crente pregar o evangelho. Pode não ser publicamente, ou nem sempre de forma audível. Antes, devemos procurar viver Cristo e estar “sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3:15). No mundo incerto e estressante de hoje, o coração dos homens está de fato “desmaiando de terror” quando contemplam o futuro. Que privilégio poder dar esperança além deste mundo e falar-lhes de Cristo e de Sua salvação!
Mas, mais do que isso, Deus agora nos revelou Seus propósitos em Cristo – propósitos que estavam ocultos em Deus antes da fundação do mundo. “Todo o conselho de Deus” nos foi dado agora, relacionado aos Seus propósitos a respeito de Seu Filho. Assim, quando Paulo pregou o evangelho, Ele começou, não com a necessidade do homem, mas com os propósitos de Deus em Cristo. Quando Paulo falou do “meu evangelho”, ele estava se referindo a muito mais do que simplesmente a salvação da pena de nossos pecados. Quando um indivíduo recebe o evangelho hoje, ele aprende que não é apenas salvo do juízo, mas que faz parte da Igreja, a joia dos propósitos de Deus que tem um chamado celestial. A verdade conectada a tudo isso é infinitamente preciosa para Deus e para Cristo, e nos foi dada, não para guardar, mas para disseminar. Se nos for dado um entendimento maior da verdade do que outros, podemos usá-lo de duas maneiras. Ou podemos usá-lo para obtermos reconhecimento e destaque, ou podemos procurar agir como mordomos, usando-o para a bênção de todo o corpo de Cristo.
O natural e o espiritual
A mordomia espiritual é única. Nas coisas naturais, se as damos aos outros, então as perdemos. Se damos dinheiro ou coisas materiais, normalmente ficamos mais pobres como consequência. Mas sabemos que Deus não é Devedor de homem algum. Se dermos para Sua glória o que nos foi confiado como mordomos – o que é realmente “alheio” – Deus não nos recompensará? De fato, Ele nos recompensará! Quando os filipenses, que eram pobres, deram algo a Paulo, ele podia assegurar-lhes que “meu Deus, segundo as Suas riquezas, suprirá todas as vossas necessidades em glória, por Cristo Jesus” (Fp 4:19). Quando ele exortou os coríntios a darem liberalmente, ele também lhes disse que Deus “dá… pão para comer” e que eles teriam “em tudo, toda suficiência” (2 Co 9:8, 10).
Nas coisas espirituais, a maravilhosa realidade é que, ao compartilharmos tudo o que temos com os outros, nós não perdemos. Antes, ao distribuir como mordomos fiéis, nosso gozo nisso é aumentado e nosso coração é revigorado pelo privilégio de dar a outros. Em um sentido, como vimos, somos mordomos de coisas espirituais, mas, em outro sentido, Deus chama essas coisas de “o que é vosso” (Lc 16:12). O que temos como coisas materiais deixaremos para trás quando deixarmos este mundo, mas o que temos como riquezas espirituais será nosso por toda a eternidade. Não temos muito mais tempo para agir como mordomos, e, por essa razão, lembremos que “requer-se nos despenseiros que cada um se ache fiel” (1 Co 4:2).
