Origem: Revista O Cristão – A Administração do Dinheiro

A Parábola do Mordomo Injusto

O mordomo injusto é uma figura do homem que, quando lhe é confiada a mordomia dos bens de seu senhor, falha em todos os aspectos de sua responsabilidade. Ele os desperdiçou e deve perder sua posição como mordomo. Mas os bens estão em suas mãos no momento, e o ponto da parábola é o presente uso (prudente, ainda que sem escrúpulos) que ele faz dessa sua oportunidade, tendo em vista o futuro.

Havia vários devedores do seu senhor; ele, então, reduziu a dívida que eles tinham com seu mestre, pela metade em um caso, por um quinto em outro, e assim fez amizade com eles para seu próprio benefício futuro, quando fosse removido da administração. “E louvou aquele senhor [aqui não é o Senhor Jesus, mas o senhor do mordomo na parábola] o injusto mordomo por haver procedido prudentemente [não sabiamente, mas prudentemente, que é uma palavra mais adequada à sabedoria mundana], porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz”. No versículo 9, temos a aplicação da parábola: “E eu vos digo: granjeai amigos com as riquezas da injustiça, para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos” (Lc 16:9).

As riquezas da injustiça 

Mas por que se chamam “as riquezas da injustiça”? Porque todo acúmulo de propriedades nas mãos de um homem, mais do que nas de outro, pertence ao estado decaído do homem neste mundo, desde que o pecado entrou nele – uma condição de injustiça. Mas pode o Cristão tirar proveito da “riqueza injusta”? Pode; ele pode usá-la em vista da eternidade, muito embora ela seja aquilo que é “mínimo” (v. 10) na estimativa de Deus. Mas quantos descobriram na posse de riquezas o teste mais crucial! Somente com toda a graça revelada no capítulo anterior (Lc 15) é que qualquer um de nós pode saber como “ter abundância” e ser fiel nisso. As posses aqui tendem a envolver o coração, muitas vezes dando ao homem um falso lugar entre seus companheiros, ministrando ao seu orgulho e excluindo Deus. Por isso (v. 13), é impossível fazer de ambos, Deus e as riquezas, o objeto do coração – impossível ter o melhor dos dois mundos; ou um ou outro, mas não ambos. A graça nos ensina a sacrificar um em vista do outro, o presente em vista plena do eterno.

O que pertence a outro 

“Pois, se nas riquezas injustas não fostes fiéis, quem vos confiará as verdadeiras? E, se no alheio não fostes fiéis, quem vos dará o que é vosso?” (Lc 16:11-12). No que diz respeito às nossas posses neste mundo, aqui está o significado moral da parábola. Elas não são nossas. Elas são aquilo que é “alheio” – os bens do Mestre, que estão em nossas mãos antes que nossa mordomia seja finalmente removida. Se vistas como nossas, podemos ser tentados a gastá-las conosco ou acumulá-las. Mas, se elas são de Outro, podemos usá-las generosamente em cada um de Seus interesses, tendo em vista aquela cena em que receberemos nossas próprias coisas. Tudo, então, que temos aqui é d’Ele, para ser usado em vista da eternidade; nossas próprias coisas estão lá com Ele, onde esperamos ser recebidos, quando nossa senda terrenal se encerrar. Para falar de uma maneira clara, somente com um pensamento assim sobre o dinheiro é que podemos ser libertos da influência daquilo que governa tão poderosamente o coração do homem.

A graça de Deus nos ensina 

Ao dizer isso, não estamos sugerindo que, de alguma forma, a fidelidade aqui dê algum direito de ser recebido lá. Esse direito é encontrado apenas na graça que recebe pecadores. Mas a mesma graça produz um caráter adequado a si mesma nos objetos dessa graça – para que, tendo sido fiéis naquilo que era de Outro, possamos receber nossas próprias coisas em Sua bendita presença para sempre. Deve-se observar que, longe de tolerar a desonestidade do mordomo, ele é chamado de “mordomo injusto” (v. 8), e que, quando os versículos 10-12 aplicam a instrução da parábola aos discípulos, não é prudência, mas fidelidade, na utilização das coisas terrenais o que o Senhor recomenda.

A conexão dos ensinamentos do Senhor nesses capítulos (Lc 14-16) é muito clara, não apenas na revelação da graça, mas também na incredulidade. Em Lucas 14, o convite da graça é recusado, e isso é exemplificado em Lucas 15 no filho mais velho cheio de justiça própria, que é capaz de fingir que “nunca transgrediu o teu mandamento”. Na verdade, ele reduziu as justas reivindicações do mandamento, assim como o mordomo injusto, a fim de prosperar neste mundo, como fez o homem rico na última parábola em Lucas 16, mas apenas para encontrar seu fim em um lugar de tormento. É o mesmo caráter de orgulhosa incredulidade que permeia toda a narrativa.

J. A. Trench (adaptado)

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