Origem: Revista O Cristão – Adoração
Adoração
A Escritura está bem cheia de instruções sobre adoração, embora haja muita ignorância sobre o assunto entre muitos Cristãos. Por exemplo, alguns acham que ouvir sermões é uma das mais elevadas formas de adoração. É verdade que a apresentação da verdade pode nos levar à adoração, mas há uma grande diferença entre o ato de adorar e escutar a verdade. Na pregação (assumindo que seja a verdade de Deus sendo apresentada), o servo vem com uma mensagem de Deus para aqueles que o ouvem; na adoração, os santos são levados à presença de Deus para apresentar sua adoração e louvor. As duas coisas têm, portanto, um caráter totalmente diferente.
Oração
Oração não é adoração; alguém que suplica não é um adorador. Se vou ao rei com uma petição, sou apresentado diante dele com esse propósito. Mas se sou admitido em sua presença para prestar homenagem, não sou mais um peticionário. Portanto, quando me uno a outros crentes em oração e intercessão, estamos diante de Deus como aqueles que buscam misericórdias especiais. Porém, quando nos curvamos diante d’Ele em adoração, nós damos, em vez de recebermos. Estamos diante d’Ele sem necessitar de nada, mas com o coração transbordando de adoração a Seus pés.
Ação de graças
A ação de graças está intimamente ligada à adoração, embora não seja a essência da adoração. A ação de graças é a consequência das bênçãos recebidas, seja na providência ou na redenção. O senso da bondade e da graça de Deus ao ministrar a nós, ao nos abençoar com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, nos constrange a derramar nossas ações de graças em Sua presença. Assim, somos necessariamente levados a refletir sobre o caráter e os atributos de Deus, que Se deleita em nos cercar com os sinais de Seu amor e cuidado. Consequentemente, a ação de graças evolui para adoração.
Mas, na adoração, considerada em seu significado apropriado, perdemos de vista a nós mesmos e nossas bênçãos, e nos ocupamos com o que Deus é em Si mesmo e com o que Ele é para nós, como revelado em Cristo. Guiados pelo Espírito Santo, nos elevamos acima de nós mesmos e contemplamos Deus em todos os Seus variados atributos e glórias. Pois, embora “Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse O revelou” (Jo 1:18) e, completamente dominados pela manifestação de Sua santidade, majestade, amor, misericórdia e graça, não podemos deixar de nos prostrar a Seus pés, enquanto rendemos, em e por meio de nosso Senhor Jesus Cristo, a adoração de nosso coração.
Isso será visto com mais clareza se nos voltarmos para o ensino da Escritura. A mulher samaritana perguntou ao Senhor Jesus sobre o lugar de adoração, e em Sua resposta, Ele foi além do limite da pergunta: “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos Judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:21-24).
Não há lugar especial na Terra
Em primeiro lugar, nosso Senhor nos ensina claramente que, de agora em diante, não haveria mais um lugar especial para adoração na Terra. Jerusalém havia sido o lugar onde o templo de Deus havia estado, mas, em consequência da rejeição de Cristo, a casa deles, que até então era a casa de Deus, foi deixada a eles deserta (Mt 23:37-39), e nunca mais, desde aquele tempo, houve uma casa física de Deus sobre a Terra. A Igreja é agora a habitação de Deus por meio do Espírito (Ef 2:22), e nosso lugar de adoração agora é dentro do véu rasgado, na presença imediata de Deus.
Quem pode adorar
Em segundo lugar, Ele nos diz quem pode ser adorador – aquele que vai adorar o Pai em espírito e em verdade e é a esse que o Pai estava buscando. Ou seja, somente os crentes, a quem Ele traria para um relacionamento Consigo mesmo como Seus filhos, poderiam adorar o Pai em espírito e em verdade. O apóstolo afirma a mesma coisa quando diz: “porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito [ou, como alguns leem, ‘que adoram pelo Espírito de Deus’ (JND)], e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne” (Fp 3:3) – todas as características evidentes dos crentes. De fato, como ensina a epístola aos Hebreus (veja cap. 10), é impossível alguém se aproximar de Deus até que seus pecados tenham desaparecido da Sua vista. E, novamente, uma vez que ninguém, exceto os crentes, tem o Espírito de Deus (veja Rm 8:14-16; Gl 4:6), nenhum outro pode adorar em espírito ou pelo Espírito de Deus.
Em espírito e verdade
Terceiro, o Senhor define o caráter da adoração. Ela deve ser “em espírito e em verdade”. Adorar “em espírito” é adorar de acordo com a verdadeira natureza de Deus e no poder dessa comunhão que o Espírito de Deus proporciona. A adoração espiritual está, portanto, em contraste com as formas e cerimônias e toda a religiosidade da qual a carne é capaz. Adorar a Deus “em verdade” é adorá-Lo de acordo com a revelação que Ele mesmo deu de Si. Os samaritanos não adoravam a Deus nem em espírito nem em verdade. Os judeus adoravam a Deus em verdade, até onde se pode dizer de uma revelação imperfeita, mas em nenhum sentido eles O adoraram em espírito. Para adorar a Deus agora, ambos são necessários. Ele deve ser adorado de acordo com a verdadeira revelação de Si (isto é, “em verdade”) e de acordo com a Sua natureza (isto é, “em espírito”).
A Pessoa e obra de Cristo
Mas a revelação de Deus para nós está na Pessoa e conectada com a obra de Cristo, pois tudo o que Deus é se manifestou na cruz. A morte de Cristo é, portanto, o fundamento de toda a adoração Cristã, pois é pela eficácia de Seu precioso sangue que somos capacitados para entrar na presença de Deus. Visto que aquela morte é a revelação para nós de tudo o que Deus é – Sua majestade, santidade, verdade, graça e amor —, é por meio da contemplação desse maravilhoso sacrifício que nosso coração, operado pelo Espírito de Deus, é levado à adoração e louvor. Assim, a adoração está conectada de uma maneira muito especial à mesa do Senhor, porque é quando estamos reunidos em torno dela, como membros do corpo de Cristo, que anunciamos Sua morte. Para citar as palavras de outro: “É impossível separar a verdadeira adoração e comunhão espiritual da oferta perfeita de Cristo a Deus. Quando nossa adoração se separa de sua eficácia e da consciência dessa aceitação infinita de Jesus diante do Pai, ela se torna carnal e é uma formalidade ou simplesmente um deleite da carne”.
A degeneração da adoração
Onde quer que a mesa do Senhor tenha perdido seu verdadeiro caráter ou lugar, a fonte e o motivo da adoração são obscurecidos. Do que somos especialmente lembrados na mesa do Senhor? É da Sua morte, e é nessa morte que somos capazes de ver o que Deus é para nós e o que Cristo é para Deus, bem como a eficácia infinita de Seu sacrifício em nos levar sem mancha à presença imediata de Deus – à luz como Ele está na luz. A graça, o amor eterno de Deus e o amor inextinguível de Cristo são igualmente manifestados para a nossa alma. Ao lembrarmos d’Aquele que glorificou a Deus em Sua morte na cruz, onde Ele levou nossos pecados e tendo ousadia de entrar no Santo dos Santos pelo sangue de Jesus, nos inclinamos e adoramos diante de Deus.
