Origem: Revista O Cristão – Adoração
Adoração Hoje
A adoração é o exercício mais alto possível da alma renovada, seja aqui ou em glória. A oração e as ações de graças são indizivelmente benditas em seu lugar, mas enquanto a oração leva em conta nossas necessidades e as coloca diante de Deus, e as ações de graças têm em vista as bênçãos de Sua graça, a adoração sobe ao próprio Deus, e o coração se perde na bem-aventurada contemplação de Suas excelências e profundas perfeições. A oração cessará quando alcançarmos o descanso de Deus; a adoração é interminável e, de fato, só será exercida em sua plenitude quando estivermos com o Senhor lá em cima.
As várias dispensações
A adoração varia em seu caráter, de acordo com o caráter das diferentes dispensações e a revelação de Deus sobre Si mesmo. Nos tempos patriarcais, por exemplo, Ele era adorado como Deus Todo-Poderoso. Contudo, notamos uma grande mudança na ordem em que Israel foi chamado para ser o povo de Deus na Terra. Deus habitou entre eles no tabernáculo, um privilégio inestimável e bênção desconhecida pelo homem anteriormente. Isso envolveu a instituição do sacerdócio, mas necessariamente colocou o povo à uma distância. Os sacerdotes agiam por eles; eles lidavam com o sangue dos sacrifícios e apresentavam o incenso aromático diante de Jeová no santuário.
Tudo isso mudou agora porque Cristo veio. Deus não está mais escondido atrás de um véu, mas Se revelou plenamente na Pessoa de Seu amado Filho, para que nós que cremos o conheçamos como Pai. Não apenas isso, a redenção sendo realizada, Cristo voltou a Deus e Se assentou à Sua destra no alto. Portanto, todo o caráter da adoração é alterado neste período de graça.
As palavras para a mulher samaritana
Em João 4, temos o Senhor Jesus tratando com a consciência e o coração da mulher junto ao poço. Sentindo-se tocada em sua consciência pela Sua palavra, ela procurou se desviar de seu corte afiado voltando-se ao assunto da adoração. A isto o Senhor respondeu graciosamente: “Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-Me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos Judeus. Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim O adorem. Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (Jo 4:21-24).
Várias coisas devem ser notadas aqui. Primeiro, o Senhor coloca de lado completamente a adoração samaritana. “Vós adorais o que não sabeis”. Em segundo lugar, ele justifica o Judaísmo como inteligente e proveniente de Deus: “Nós adoramos o que sabemos”. Ele então passa a mostrar que havia chegada a hora de colocar os dois de lado para que algo melhor pudesse ser estabelecido. Não há lugares santos no Cristianismo. Reconhecer e servir a um lugar santo na Terra agora é roubar a própria alma do desfrute de tudo o que é distintamente Cristão. Além disso, adoramos “o Pai”. Que proximidade e afeição estão implícitas nisso! Estamos agora no relacionamento de filhos por meio da obra de Cristo e podemos elevar nosso coração em adoração na consciente liberdade de filhos. Mas isso exclui todos os que não são filhos de Deus. Para tais, o evangelho é destinado; até que ele seja recebido por fé, ninguém tem direito de se unir à adoração ao Pai; é preciso ser filho de Deus para adorar a Deus como seu Pai.
O Pai procura adoradores
O Pai procura adoradores – pensamento precioso! Mas Ele procura aqueles que O adorarão em espírito e em verdade. Isso implica que o homem interior está envolvido sob a direção do Espírito Santo e que Sua verdade é conhecida e controla a alma. Isso contrasta diretamente com as meras formas, que não exigem a verdade de Deus nem o Seu Espírito, e nunca podem satisfazer Seu coração.
Além disso, não apenas o Pai procura adoradores espirituais, mas Seu solene “importa que” entra em cena – “importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade”. Sua natureza agora está totalmente revelada, e o que é adequado para Ele é agora declarado em consequência. Os homens que vêm diante d’Ele com meros ritos exteriores O tratam como se Ele fosse como as divindades dos pagãos; o Cristão que foi levado a conhecê-Lo entende que somente a adoração espiritual pode servir a um Deus como o nosso.
O santuário celestial
A epístola aos Hebreus nos apresenta outra linha da verdade. Nela somos vistos como no deserto, passando adiante para o descanso de Deus. Quanto à adoração, temos liberdade de acesso pela fé ao santuário celestial. Tudo isso é bem diferente da linha de instrução de João. Lá, como vimos, o relacionamento familiar é proeminente – somos vistos como filhos, adorando o Pai em espírito e em verdade.
Vamos examinar Hebreus 10:19-22. Sob a lei, os adoradores não podiam entrar na presença de Deus; o véu impedia o caminho. Mas não há impedimento agora. A obra de Jesus satisfez as reivindicações de Deus de tal maneira que o véu se rasgou, e o caminho para o santo dos santos é agora manifestado. Além disso, nossas consciências são purificadas, para que possamos permanecer em paz diante d’Ele. Temos a certeza de que o único sacrifício de Jesus removeu todos os nossos pecados e nos aperfeiçoou para sempre. Seu assento atual à destra de Deus é a gloriosa prova de que a questão do pecado foi resolvida de uma vez por todas. Se não tivéssemos essa confiança não poderíamos adorar. Um homem que é incerto e infeliz quanto à sua posição diante de Deus não está em condições de adorar, por mais retos e bons que sejam seus desejos.
Sendo consumada a obra de Cristo, o caminho para Deus está aberto, e todo crente pode se aproximar com santa ousadia. A “inteira certeza de fé” glorifica realmente a Deus. Se alguma coisa dependesse de nós mesmos, poderíamos muito bem estar cheios de medo e tremor, mas sabendo que nossos privilégios Cristãos são todos baseados na obra do Senhor Jesus, não ousamos desonrá-Lo, mantendo uma dúvida.
Nossas imperfeições
No entanto, fazemos bem em lembrar nossa atual condição imperfeita. Ser perfeito “quanto à consciência” não é necessariamente ser perfeito em todos os outros sentidos. De fato, enquanto estivermos no corpo, todo serviço ficará aquém do padrão de Deus e de nossos próprios desejos. Agora não falo aqui de pecado manifesto, mas da deficiência que se deve às nossas fraquezas. Aqui o sacerdócio de Cristo entra como nosso auxílio. “Tendo um grande sacerdote sobre a casa de Deus”, por meio d’Ele todos os nossos sacrifícios espirituais se elevam a Deus de maneira aceitável. Ele os apresenta a Deus por nós, acompanhado por toda a excelência e fragrância de Sua sempre bendita Pessoa e obra. Quanto dependemos d’Ele, não apenas para nossa necessidade geral no deserto, mas até mesmo para a adoração de nosso coração renovado!
Quando Paulo escreveu, as almas demoraram a abraçar a bem-aventurança da nova ordem de adoração que Cristo havia introduzido, por causa do poder ofuscante dos preconceitos religiosos antigos. A mesma coisa explica as trevas que cobre muitas mentes hoje. Os sistemas terrenais foram criados imitando uma forma de adoração de um judaísmo julgado, e a tendência de todos eles é manter a alma mais ou menos à distância de Deus. Que Ele estabeleça nossa alma mais completamente em Sua própria graça e verdade.
