Origem: Revista O Cristão – Ofertas de Cheiro Suave
Adoração: Sobretudo em Relação à Oferta Pacífica
A oferta pacífica representa para nós a comunhão dos santos com Deus, com o sacerdote que a ofereceu por nós, uns com os outros e com todo o conjunto dos santos como sacerdotes de Deus. Ela vem depois daquelas que nos apresentam o próprio Senhor Jesus – tanto em Sua dedicação à morte (o holocausto) como também em Sua devoção e graça em vida, com a prova do fogo (a oferta de manjares) – para que possamos entender que toda comunhão é baseada na aceitabilidade e no cheiro suave deste sacrifício.
A gordura
O animal era morto à porta do tabernáculo, e toda a gordura era queimada no altar do holocausto para o Senhor. O uso deste símbolo, a gordura, é familiar na Palavra de Deus, como, por exemplo, no Salmo 17:10: “Na sua gordura se encerram e com a boca falam soberbamente.” É a energia e a força da vontade interior, o interior do coração de um homem. Logo, onde Cristo expressa toda a Sua mortificação, Ele declara que poderiam contar todos os Seus ossos (Sl 22), e no Salmo 102: “Por causa da voz do Meu gemido os Meus ossos se apegam à Minha pele” (ACF).
Mas, em Jesus, tudo o que era de energia e força era oferecido a Deus por cheiro suave – o alimento da oferta pertencente a Deus. Nisto o próprio Jeová encontrou Seu deleite, pois era muito bom – bom em perfeita obediência.
A excelência de Cristo
Se os olhos de Deus passassem pela Terra, só poderiam descansar em satisfação e paz quando Jesus pudesse ser visto nela. No momento em que Ele Se apresentou em serviço público, o céu se abriu, o Espírito Santo desceu para habitar neste Seu único lugar de repouso aqui, e a voz do Pai declarou desde o céu: “Este é o Meu Filho amado, em Quem Me comprazo” (Mt 3:17). Este Objeto perderia Sua excelência em meio a um mundo de pecado? Não, foi ali que se provou a Sua excelência.
Ele aprendeu a obediência pelas coisas que padeceu, pois tudo que brotava de Seu coração era consagrado a Deus. Jeová encontrou contínuo prazer n’Ele e, sobretudo, em Sua morte: o manjar (ou alimento) da oferta estava ali. Com a gordura sendo queimada como holocausto, a consagração a Deus prossegue até seu ponto máximo de aceitação e graça.
A lei das ofertas
Voltando à lei das ofertas (Lv 7:28-34), descobrimos que o restante era comido. O peito era para Arão e seus filhos – figura de toda a Igreja; a espádua direita era para o sacerdote que aspergia o sangue – mais especialmente uma figura de Cristo – como o Sacerdote da oferta. O restante do animal era comido por quem o apresentava e por seus convidados. Dessa forma, havia identidade e comunhão com o deleite d’Aquele a Quem a oferta era oferecida, e com o sacerdócio e o altar, que eram os instrumentos e meios da oferta. De fato, devemos comer em nome do Senhor Jesus, oferecendo nossos sacrifícios de ação de graças, e, assim, consagrar tudo de que participamos, e a nós mesmos, em comunhão com o Doador.
Assim, a oferta de Cristo como holocausto é o deleite de Deus: é de cheiro suave para Ele. Diante do Senhor, em Sua mesa, por assim dizer, os adoradores, vindo também por este sacrifício perfeito, também se alimentam dele e têm comunhão perfeita com Deus no mesmo deleite do sacrifício perfeito de Jesus. Assim como os pais têm um gozo comum em seus filhos, os adoradores têm uma só mente com o Pai em Seu deleite na excelência de um Cristo que foi oferecido. E o Sacerdote que ministrou tudo isso também tem a Sua parte. Além disso, toda a Igreja de Deus está incluída nela.
Tal, então, é toda a verdadeira adoração dos santos. No céu, Ele Se cingirá, os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá (Lc 12).
O gozo da adoração
O gozo da adoração necessariamente se associa também a todo o conjunto dos remidos, visto como nos lugares celestiais. Arão e seus filhos, figura da Igreja, têm direito de entrar nos lugares celestiais e oferecer incenso, uma vez que foram constituídos sacerdotes para Deus. Logo, a verdadeira adoração não pode separar-se de todo o corpo dos verdadeiros crentes. Não posso ir com meu sacrifício ao tabernáculo de Deus sem encontrar lá os sacerdotes do tabernáculo. Sem o Sacerdote tudo é vão, mas não posso encontrá-Lo sem todo o Seu corpo de pessoas manifestadas. Não posso me aproximar d’Ele senão em associação com todo o corpo daqueles que são santificados em Cristo. Aquele que não anda nesse espírito está em conflito com a ordenança de Deus e não tem uma verdadeira oferta pacífica de acordo com a instituição de Deus.
Mas havia outras circunstâncias que devemos observar. Primeiro, apenas aqueles que estavam limpos podiam participar, entre os convidados. Os israelitas então participavam das ofertas pacíficas, e, se um israelita fosse imundo, ele não poderia comer enquanto sua contaminação perdurasse. Somente os Cristãos cujos corações são purificados pela fé podem adorar diante de Deus, e, se o coração estiver contaminado, a comunhão é interrompida. Nenhuma pessoa visivelmente contaminada está habilitada para participar da adoração e comunhão da Igreja de Deus. Os verdadeiros adoradores devem adorar o Pai em Espírito e em verdade, pois o Pai procura a tais que assim O adorem (Jo 4:23-24). Se a adoração e a comunhão são pelo Espírito, somente aqueles que têm o Espírito de Cristo e que não tenham entristecido o Espírito podem participar.
No entanto, havia outra parte dessa figura que parecia contradizer isso, mas que de fato lança luz adicional sobre ela. Com as ofertas que acompanhavam este sacrifício, foi ordenado (Lv 7:13) que se oferecessem bolos levedados. Embora aquilo que é imundo deva ser excluído, sempre há uma mistura de mal em nós e em nossa adoração. O fermento está ali; pode não vir à mente quando o Espírito não está entristecido, mas está ali onde o homem está. O pão asmo também estava ali, pois Cristo está ali.
O voto e a ação de graças
Havia uma outra direção muito importante nessa adoração. No caso de voto, podia ser comido no segundo dia após a queima da gordura; no caso de ação de graças, era para ser comido no mesmo dia. Isso identificava a pureza do serviço dos adoradores com a oferta da gordura a Deus. É impossível separar a verdadeira adoração e comunhão espiritual da oferta perfeita de Cristo a Deus. No momento em que nossa adoração se separa disso, ela se torna carnal e uma forma ou um deleite da carne. Se a oferta pacífica fosse comida separadamente desta oferta da gordura, ela era apenas uma festividade carnal e era na verdade iniquidade. Quando o Espírito Santo nos leva à verdadeira adoração espiritual, esta nos leva a toda a infinita aceitabilidade, para Deus, da oferta de Cristo. Fora disso, então, nossa adoração cai de volta na carne; nossas orações tornam-se um ensaio fluente de verdades e princípios conhecidos, em vez da expressão de louvor e ação de graças no gozo da comunhão. Nosso canto se torna um prazer para os ouvidos, gosto musical e expressões pelas quais simpatizamos – tudo um arranjo na carne e não comunhão no Espírito.
É bom notar que podemos começar no Espírito e passar para a carne, na adoração. A mente espiritual descobrirá isso imediatamente quando acontecer. O Senhor nos mantém perto de Si para julgar todas as coisas em Sua presença, pois fora dela nada podemos julgar!
Para o Senhor
É bom ter fortemente em mente esta expressão: “que pertence ao Senhor” (Lv 7:20 – AIBB). A adoração não é nossa; é do Senhor. O Senhor a colocou ali para nosso gozo, para que possamos participar de Seu gozo em Cristo, mas, no momento em que a tornamos nossa, nós a profanamos. Logo, o que restava era queimado no fogo; logo, o que era imundo não tinha nada a ver com ela. Daí a necessidade de associá-la à gordura queimada ao Senhor, para que seja realmente Cristo em nós e, portanto, verdadeira comunhão.
Lembremo-nos de que toda a nossa adoração pertence a Deus – que ela é a expressão da excelência de Cristo em nós e, portanto, é nosso gozo, como em um só Espírito, com Deus. Ele no Pai, nós n’Ele, e Ele em nós é a maravilhosa cadeia de união que existe tanto na graça quanto na glória: Nossa adoração é a erupção e o gozo do coração fundada nisto, para Deus, por meio de Cristo. Assim, enquanto Ele próprio está ministrando nisso, o Senhor diz: “Anunciarei o Teu nome a Meus irmãos, cantar-Te-ei louvores no meio da congregação” (Hb 2:12). Que experiência perfeita do que é aceitável diante de Deus deve ter Ele, que, na redenção, apresentou tudo de acordo com a mente de Deus! Sua mente é a expressão de tudo o que é agradável ao Pai e nos conduz, ensinados por Ele próprio, ainda que imperfeitos e fracos nisso, na mesma aceitabilidade. “Nós temos a mente de Cristo” (1 Co 2:16).