Origem: Revista O Cristão – Nascentes, Fontes e Rios
Água Doce e Amarga
Há mais de 50 anos, um irmão que viajava na obra do Senhor estava visitando uma determinada localidade. Durante a visita, um irmão em Cristo que morava naquela região convidou o irmão visitante para almoçar com ele. Como o irmão local tinha seu próprio negócio, o irmão visitante combinou de encontrá-lo em seu local de trabalho, e, juntos, eles iriam almoçar num restaurante próximo.
Quando o irmão visitante chegou na hora marcada, a secretária do irmão local o informou que seu chefe estava com um sócio e estaria disponível em alguns minutos. Ela indicou ao irmão visitante um assento para aguardar. Durante o tempo em que esperou, ele não pôde deixar de ouvir a conversa entre o irmão local e seu sócio. Vozes se elevaram e palavras desagradáveis foram trocadas de ambos os lados. Obviamente, uma discussão acalorada estava acontecendo. Depois de alguns minutos, o sócio saiu, e o irmão local saiu e ficou surpreso e constrangido ao perceber que o irmão visitante tinha ouvido a conversa. No entanto, ele se desculpou dizendo: “Nosso Cristianismo é uma coisa, mas negócios também são negócios, não é mesmo, irmão?” Sua conduta foi um bom exemplo do que lemos em Tiago 3:11-12: “Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa? Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce”.
Histórias como essa são muito comuns entre os crentes em Cristo, e talvez alguns de nós já tenhamos sido culpados por comportamento semelhante. É fácil parecer semelhante a Cristo quando tudo está indo bem, mas é mais difícil quando interagimos com pessoas deste mundo (e talvez, às vezes, com outros Cristãos?), que podem ser irracionais e difíceis de tratar. Além disso, nós mesmos podemos estar num estado de espírito errado e contribuir para a “água amargosa”. Como Cristãos, temos uma nova vida que ama a justiça e, quando aqueles com quem convivemos neste mundo às vezes demonstram injustiça, podemos reagir fortemente contra ela. Qual é então a resposta? Como podemos produzir consistentemente “água doce”?
Não espere justiça
Em primeiro lugar, devemos reconhecer que os incrédulos neste mundo não têm uma nova vida em Cristo; eles têm apenas aquela velha natureza que não pode fazer nada além de pecar. No mundo dos negócios, como em outros aspectos da vida aqui na Terra, as pessoas geralmente são ensinadas a serem agressivas, usando qualquer tática possível para obter vantagem. Quando eu era jovem, um irmão mais velho costumava nos lembrar: “Não esperem justiça em suas relações com um mundo injusto”. O mundo não mudou moralmente desde os dias de Caim, e, embora possamos ser gratos pela influência que o Cristianismo teve em algumas partes do mundo, devemos continuamente perceber que ele continua sendo o mundo de Caim. Embora possamos e devamos buscar alcançar a consciência dos homens, devemos lembrar que não é tarefa do Cristão endireitar este mundo. Mas então alguns talvez perguntem: Como podemos evitar ser vítimas constantes da injustiça ou, como o mundo diria, “ser transformados em capachos o tempo todo”?
Eu diria que estar em comunhão com o Senhor seria a resposta, e perceber três coisas. Primeiro, é mais importante honrar o Senhor do que vencer a discussão ou obter vantagem em qualquer questão. Vencer a discussão ou “levar a melhor” sobre quem está contra nós pode render um ganho temporário, mas honrar o Senhor nos renderá uma recompensa que durará por toda a eternidade. Estamos dispostos a abrir mão da vantagem presente em troca de ganho futuro? Vai valer a pena.
Uma resposta calma e cuidadosa
Segundo, uma resposta calma e cuidadosa vinda do Senhor tocará a consciência de outra pessoa muito mais do que palavras fortes. Devemos lembrar que “a ira do homem não opera a justiça de Deus” (Tg 1:20). Eu soube de outra situação em que um sócio mentiu deliberadamente para um irmão. Quando o irmão o confrontou, o sócio defendeu sua mentira, insistindo que havia dito a verdade. Mas o irmão persistiu com calma, apontando que na ocasião ele havia escrito o que o outro havia dito e lembrando-o de que “os lábios mentirosos são abomináveis ao SENHOR” (Pv 12:22). A consciência foi tocada, e o sócio, embora não estivesse disposto a usar o termo “mentiu”, admitiu que sua conduta “não tinha sido muito profissional”. A Palavra de Deus tem poder, e, quando a usamos, o Senhor recebe a glória.
O Senhor está acima do resultado
Terceiro, em qualquer interação com as pessoas deste mundo, devemos reconhecer que o Senhor está acima de todos os resultados. Podemos manter com calma e firmeza o que achamos certo, mas ocasionalmente descobriremos que os outros não cederão e que teremos que ceder. No entanto, se honrarmos o Senhor, Ele nos compensará, e, se não nesta vida, na eternidade. Ele sabe como cuidar dos Seus, e devemos lembrar que “aos que Me honram honrarei” (1 Sm 2:30). Embora não busquemos recompensa neste mundo, o Senhor frequentemente Se agrada em reconhecer e honrar aqueles que O honram, mesmo nesta vida.
Cada um de nós, como crentes, ainda possui a velha natureza pecaminosa, e todos sabemos como ela pode facilmente se levantar quando provocada. Podemos pensar que estamos operando a “justiça de Deus” quando na verdade é apenas a “ira do homem”. Esse tipo de situação não ocorre somente no mundo dos negócios; pode acontecer em qualquer situação em que haja atrito. Sim, há lugar para a justa indignação, pois nos é dito: “Irai-vos e não pequeis” (Ef 4:26). Mas tenhamos certeza de que nossa indignação é por causa do insulto feito ao Senhor, e não por causa de perda ou inconveniência pessoal. Busquemos sempre que nossa fonte dê água doce!