Origem: Revista O Cristão – Água
A Água na Palavra de Deus
Um irmão mais velho, há muito tempo com o Senhor, certa vez comentou que seria muito difícil expor todos os significados da água na Bíblia. Isto certamente é verdade, mas como a água é mencionada tantas vezes na Escritura e simboliza tantas coisas diferentes, é importante que tenhamos pelo menos algum entendimento básico de como ela é usada na Palavra de Deus.
A água forma, em grande medida, a maior parte da nosso planeta, especialmente aquela parte dela contida nos oceanos. De fato, se os oceanos fossem esvaziados e os vários rios da Terra continuassem a fluir, estima-se que levaria 40.000 anos para os oceanos serem reabastecidos. Deus fez quase toda a vida na Terra ser dependente da água, e todos estamos conscientes de quão necessária ela é para a vida humana. O pensamento da água traz à nossa mente refrigério e limpeza, bem como um meio de transportar a nós mesmos e nossos bens de um ponto para outro.
A Palavra de Deus
Na Palavra de Deus, descobrimos que a água é geralmente uma figura da Palavra de Deus em si. O próprio Senhor Jesus disse a Nicodemos que “aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3:5). Essa mesma verdade nos é dada no Velho Testamento, pois lemos: “Eu espargirei água limpa sobre vós… e Eu porei Meu Espírito em vós, e farei com que andem em Meus estatutos” (Ez 36:25-27 – JND). Está claro no contexto e de outras Escrituras que a água aqui não se refere ao batismo, como alguns ensinam, mas sim que a nova vida que é transmitida pelo Espírito de Deus, usando a Palavra de Deus. Isso é verdade hoje e era verdade desde o início da história do homem. Deus precisa começar Sua obra pelo Seu Espírito, usando a Sua Palavra, se for para o homem pecador receber nova vida.
Limpeza
Entretanto, esta não é a única obra que a Palavra de Deus realiza. Em Efésios 5:26 lemos: “com a lavagem da água, pela Palavra”. Isto é mostrado em figura no Velho Testamento pela água da purificação usada com as cinzas da bezerra ruiva em Números 19, e também pela pia, na qual o sacerdote deveria lavar suas mãos e pés antes que entrasse para servir no tabernáculo. Aqui a água purifica os crentes (não os incrédulos), que figuradamente estão em contato com a imundície enquanto estão passando pelo deserto deste mundo pecaminoso. O próprio Senhor está ocupado com essa obra e também temos o privilégio de fazer nossa parte um pelo outro, como lemos em João 13:1-17. Embora nunca precisemos de uma segunda aplicação do sangue de Cristo, é muito importante que os santos tenham essa aplicação diária da Palavra de Deus, purificando nossos pés da contaminação deste mundo, mesmo que não tenhamos nos envolvido em pecado conhecido.
O Espírito de Deus
Isso nos leva a outro significado simbólico muito importante da água. Se há água dentro algum recipiente (a pia, o vaso que é aludido em Números 19 e a bacia de João 13) isso geralmente fala da Palavra de Deus, já quando se fala da água fluindo normalmente se está referindo ao Espírito de Deus. Isto é claramente mostrado em João 4, onde o Senhor Jesus diz à mulher que estava junto ao poço: “a água que Eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (Jo 4:14) Aqui claramente vemos que é o Espírito de Deus que está sendo retratado, não dando vida por meio da Palavra neste momento, mas como sendo o gozo e a energia da nova vida que já é possuída pelo crente.
Contudo, este gozo não deve ser meramente apreciado pelo crente. Em João 7:38 lemos: “Quem crê em Mim, como diz a Escritura, rios de água viva correrão do seu ventre”. Uma vez que tenhamos apreciado as coisas de Cristo e meditado nelas (figurado pelo ventre), o Espírito de Deus Se deleita em um transbordamento de bênçãos para os outros, tanto incrédulos quanto crentes. Deus é um Doador e Ele deseja que o crente tenha o mesmo coração para com os outros.
Rios
Isto nos faz pensar no significado dos Rios na Escritura. De maneira geral, um rio na Escritura fala de continuidade, de um fluir contínuo de bênçãos. Podemos ver isso sendo trazido à tona no rio do Éden (Gn 1:10-14), que se dividia em quatro braços e fluía em benção para o mundo daquela época. Dois destes rios existem ainda hoje, que são: Hidéquel (o rio Tigre) e o Eufrates, que nos mostra que mesmo que o jardim do Éden tenha sido banido, Deus ainda pensa nas bênçãos e refrigério de Sua criação. Depois vemos o rio terrenal no Milênio relatado em Ezequiel 47, que será um rio de verdade, com dois braços, e que trará bênçãos para o mundo durante o dia do Milênio. Finalmente, temos o “rio de água da vida” de Apocalipse 22, que, saindo do trono de Deus, sustenta a árvore da vida em ambos os lados dela. Sem dúvida, Cristo é a árvore da vida e, portanto, Ele está em ambos os lados deste rio de bênção celestial. Este glorioso rio simboliza o desfrute de Cristo e o eterno desfrute da vida no poder do Espírito de Deus, a porção dos santos celestes. Enquanto apenas as folhas da árvore são necessárias para a cura das nações, o fruto é sem dúvida figura da porção superior dos santos celestiais, que compartilham a glória de Cristo manifestada naquele dia.
Há outros significados ocasionais e menos proeminentes dos rios na Escritura. Por exemplo, o rio Eufrates tem sido frequentemente considerado como a fronteira entre o oriente e o ocidente neste mundo, de modo que Apocalipse 16:12 fala do “sexto anjo” que “derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente”. Em outra Escritura, lemos sobre “uma nação que mede e pisa aos pés, cuja terra está dividida pelos rios” (Is 18:2 – TB), sem dúvida referindo-se a como outras nações se aproveitaram de Israel durante seu tempo em que ela foi rejeitada pelo Senhor.
Julgamento
Mas há outro significado da água como figura sobre o qual não falamos. Deus usa a água para falar de julgamento. O “abismo” mencionado em Gênesis 1:2 pode representar um julgamento antes da criação atual, mas a primeira menção verdadeira da água em julgamento na Escritura é o dilúvio de Noé, onde o Senhor disse: “Eu trago um dilúvio de águas sobre a Terra, para desfazer toda carne” (Gn 6:17). Este tema percorre toda a Palavra de Deus, incluindo o terrível julgamento na cruz, onde nosso Senhor poderia dizer profeticamente: “Livra-Me, ó Deus, pois as águas entraram até à Minha alma” (Sl 69:1) e novamente no Salmo 42:7, “Um abismo chama outro abismo, ao ruído das Tuas catadupas: todas as Tuas ondas e vagas têm passado sobre Mim”. No entanto, nos é dito em Cantares de Salomão: “As muitas águas não poderiam apagar esse amor nem os rios afogá-lo” (Ct 8:7), pois certamente na cruz: “onde o pecado abundou, superabundou a graça” (Rm 5:20). No entanto, em um dia vindouro, muitos entrarão sob os julgamentos que cairão sobre este mundo depois que a Igreja for chamada para casa, e estes são anunciados pela voz do Senhor Jesus – “Sua voz, como a voz de muitas águas” (Ap 1:15).
Morte
Esse mesmo tema é usado no assunto do batismo e, especialmente, no batismo Cristão. Nosso Senhor foi para a morte (figurado pela água) e ressuscitou. Por isso Ele “uma vez morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus” (Rm 6:10). Somos vistos como “sepultados com Ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4). Ao passar pelo batismo Cristão, somos vistos em posição como estando em terreno de ressurreição com Cristo e nos consideramos mortos para o pecado – aquilo que nos caracterizava como filhos de Adão. A água sob a qual nos batizamos é novamente uma figura de julgamento – a justa estimativa de Deus que o homem na carne não merece nada além da morte.
Outras aplicações da água poderiam ser mencionadas, como as nações deste mundo, que são frequentemente caracterizadas pelo mar em incessante movimento – “bramido do mar e das ondas” (Lc 21:25). Além disso, lemos em Apocalipse 17:1 da “grande prostituta que está assentada sobre muitas águas”. Isso é explicado no versículo 15 dizendo: “As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas”.
O assunto da água nas Escrituras – e seus significados como figura – é amplo, mas um estudo disso mais profundamente nos recompensará, em nosso entendimento da Palavra de Deus.
