Origem: Revista O Cristão – Água
Águas do Julgamento
Vimos em outro lugar nesta edição que a água é usada várias vezes na Escritura como uma figura de julgamento. Às vezes é usada em conexão com o julgamento de Deus contra o homem, mas em outras ocasiões, traz diante de nós o julgamento de Deus contra o pecado na cruz. Pelo menos uma vez isso é figura do ódio do homem por Cristo.
O dilúvio
Se deixarmos de lado, por um momento, o que quer que tenha feito com que a Terra estivesse coberta de água em Gênesis 1:2, então encontramos a primeira menção real do julgamento pela água no dilúvio de Noé. A água em juízo tem dois caráteres na Escritura – sua profundidade e sua violência. No dilúvio de Noé, é a profundidade da água que é proeminente, pois lemos que “E as águas prevaleceram excessivamente sobre a terra; e todos os altos montes que havia debaixo de todo o céu foram cobertos. Quinze côvados acima prevaleceram as águas; e os montes foram cobertos” (Gn 7:19-20). Estas águas foram o julgamento direto de Deus sobre o homem por sua maldade – por encher a Terra com violência e corrupção (Gn 6:11). Toda a carne morreu: “Tudo o que tinha fôlego de espírito de vida em seus narizes” (Gn 7:22). Ele não apenas destruiu o mundo daquele dia, mas Deus o fez como uma advertência para o homem hoje, pois lemos em 2 Pedro: “Eles voluntariamente ignoram isto: que pela Palavra de Deus… pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio… Mas os céus e a Terra que agora existem pela mesma Palavra se reservam como tesouro e se guardam para o fogo” (2 Pe 3:5-7). Mas, como nos dias de Noé, havia uma arca preparada para aqueles que tinham fé, então hoje os homens podem se voltar para Cristo para obterem a salvação; não há necessidade de cair naquele terrível julgamento que virá sobre este mundo.
A profundidade do julgamento
Mas se Deus, em Sua santidade, tivesse que julgar a iniquidade do homem no dilúvio de Noé, havia, em figura, uma profundidade nas águas de outro julgamento – uma profundidade que não podia ser medida. Na cruz, todas as profundezas do julgamento de Deus contra o pecado se levantaram contra o Senhor Jesus. Lemos em Josué 3:15: “O Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da sega”. Mais tarde, no Salmo 42:7, lemos profeticamente sobre os sofrimentos de nosso Senhor: “Um abismo chama outro abismo, ao ruído das Tuas catadupas; todas as Tuas ondas e vagas têm passado sobre Mim”. Além disso, no Salmo 88:16-17: “A Tua ardente indignação sobre Mim vai passando; os Teus terrores fazem-Me perecer. Como águas Me rodeiam todo o dia”. Tudo isso nos lembra das palavras de um hino: “A profundidade de todos os Teus sofrimentos, nenhum coração poderia conceber.” Nunca conheceremos a profundidade dos sofrimentos de nosso Senhor durante as três horas de trevas, quando Deus lidou com Ele em relação a toda a questão do pecado. A melhor imagem que a linguagem humana pode usar é a das profundezas da água no mar.
Julgamento vindo do homem
Mas o Senhor Jesus também sofreu nas mãos do homem, pois lemos: “Livra-Me, ó Deus, pois as águas entraram até à Minha alma. Atolei-Me em profundo lamaçal, onde se não pode estar em pé; entrei na profundeza das águas, onde a corrente Me leva” (Sl 69:1-2). Aqui está o ódio do homem por Cristo, energizado por Satanás, que repreendeu e insultou Aquele que é Bendito – que ousou cuspir na Sua face, coroá-Lo com espinhos e oferecer-Lhe vinagre para beber quando estava com sede. O Senhor sentiu tudo isso intensamente, como qualquer homem sentiria. Mas queremos deixar claro que nada disso, apesar de ser terrível, teve algo a ver com o tirar o pecado. Não, foi somente nas três horas de trevas que a obra foi realizada, por meio da qual nossos pecados foram postos de lado. Seus sofrimentos nas mãos do homem nos mostraram o quanto Ele nos amou e permitiu que Ele fosse um Sumo Sacerdote misericordioso e fiel.
A violência da água
Além da profundidade, as águas do julgamento são frequentemente citadas como sendo violentas. Já vimos a expressão “ondas e as vagas” no Salmo 42. No Salmo 88, já referido, lemos: “Sobre Mim pesa a Tua cólera; Tu Me abateste com todas as Tuas ondas” (v. 7). Além disso, lemos em Jonas (que, entre outros significados simbólicos, é um tipo de Cristo), “todas as Tuas ondas e as Tuas vagas têm passado por cima de Mim” (Jn 2:3).
O homem está muito familiarizado com a violência da água, seja em um rio poderoso, durante uma tempestade em um lago ou no mar. Quantas histórias poderiam ser contadas sobre a ferocidade das ondas, contra as quais o homem não tem poder! Eventos recentes, como o tsunami no Oceano Índico em 2004 ou o terremoto e tsunami que atingiram o Japão em 2016, causaram danos incalculáveis e perda de vidas, enquanto furacões e tempestades atingiram as ilhas do Caribe e a costa dos EUA nos últimos anos e fizeram o mesmo. O homem só pode tentar sair do caminho e depois voltar para limpar o dano depois. Tudo isso, em figura, pode nos dar apenas uma pequena ideia do que aconteceu durante as três horas de trevas na cruz, quando a ira de Deus contra o pecado foi desencadeada contra Seu amado Filho.
Graça terminada
Mas Deus não terá uma resposta para tudo isso? Hoje é o dia da graça de Deus, mas como Ele pôde dizer nos dias de Noé: “Não contenderá o Meu Espírito para sempre com o homem” (Gn 6:3), da mesma forma o presente dia da Sua graça não continuará indefinidamente. Está chegando o dia em que nosso Senhor Jesus Cristo aparecerá como o Filho do Homem, pronto para o julgamento, e até mesmo o apóstolo João, que antes se reclinou sobre seio de Jesus, caiu a Seus pés como morto quando O viu naquele caráter. Naquele dia, lemos que Sua voz era “como a voz de muitas águas” (Ap 1:15) – as águas do julgamento prestes a cair neste mundo. Isto começará com distúrbios entre as nações da Terra, com “angústia das nações, em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas” (Lc 21:25). Então, mais tarde, a ira de Deus será derramada diretamente sobre aqueles que rejeitaram a Cristo e continuam a se rebelar contra Deus. Sem dúvida, o epicentro desse julgamento será a terra profética e, especialmente, a terra de Israel, pois lemos: “E regrarei o juízo pela linha e a justiça, pelo prumo, e a saraiva varrerá o refúgio da mentira, e as águas cobrirão o esconderijo” (Is 28:17).
“Como as águas cobrem o mar”
No entanto, quando esse julgamento termina, a água é usada finalmente em um sentido positivo. No dia milenar, quando nosso Senhor Jesus reinará em justiça, lemos: “Não se fará mal nem dano algum em todo o monte da Minha santidade, porque a Terra se encherá do conhecimento do SENHOR, como as águas cobrem o mar” (Is 11:9). Deus terá a vitória no final, e Seu amado Filho, que uma vez sofreu sob as águas do julgamento na cruz, será conhecido em todo o mundo em Sua glória, como as águas cobrem o mar.
