Origem: Revista O Cristão – Tristeza e Alegria
Alegria Misturada com Tristeza
Durante a minha infância, houve várias vezes em que uma ocasião feliz era planejada e, então, quando estava bem próximo de se realizar, inesperadamente um triste evento se apresentava. Nosso pai nos dizia que, nos caminhos de Deus, Ele às vezes permite que essas duas (isto é, ocasiões de alegria e tristeza) estejam justapostas uma à outra. Na época, lembro-me de ficar me perguntando por que deveria ser assim, por parecer que isso impediria alguém de entrar totalmente na alegria como resultado de ela estar temperada com a tristeza. Talvez, no pequeno livro de Habacuque, tenhamos uma resposta.
Habacuque é um tanto singular como um dos profetas menores, visto que a ele não é dado tanto um peso do Senhor para transmitir a um certo povo, mas, antes, escreve sobre uma obra que Deus fez em sua própria alma como Seu servo. Na abertura do livro, Habacuque está clamando ao Senhor, angustiado pela violência, disputa e contenda que estão se acumulando entre o povo de Deus. A “lei” (Escritura) parecia não ter nenhum peso, e a justiça não estava sendo executada, mas os ímpios estavam prevalecendo sobre os justos. Quando um reto juízo era buscado, ele era “pervertido”. Isaías 59:13-15 (JND) diz, “Concebendo e proferindo do coração palavras de falsidade. E o direito se tornou atrás, e a justiça se pôs longe; porque a verdade anda tropeçando pelas ruas, e a retidão não pode entrar. E a verdade desfalece; e quem se afasta do mal faz de si mesmo uma presa”. Não vivemos em uma época em que falar a verdade parece não ter valor e, em vez disso, o engano e a mentira aberta parecem estar na ordem do dia? Se alguns clamam contra essa injustiça, tornam-se um alvo.
Os “pavorosos e terríveis”
Deus responde à aflição de Habacuque quanto ao estado de Seu povo informando-o de que Ele fará uma incrível obra. Ele levantaria ao poder um povo amargo e imprevisível que confiscaria aquilo que não era seu. Ele os descreve como “pavorosos e terríveis” (ARA) – um povo que agiria sem qualquer referência a Deus. Por causa de seu êxito, por serem levantados por Ele, mas não tendo temor d’Ele, seu poder torna-se o seu deus. Isso soa familiar? Ao saber disso, Habacuque fala ao Senhor: “Não és Tu desde a eternidade, Jeová, meu Deus, meu Santo? Não morreremos. […] Por que razão olhas Tu para os que procedem traiçoeiramente e te conservas em silêncio quando o ímpio traga aquele que é mais justo do que ele?” (Hc 1:12-13 – TB). Quando tal injustiça e impiedade parecem prosperar e avançam sem controle, a fé e a confissão do crente são testadas. Habacuque se perguntou a mesma coisa: “Tu fazes os homens como os peixes do mar, […] que não têm quem os governe. Ele […] apanha-os com a sua rede, e os ajunta na sua rede varredoura” (Hc 1:14-15 – JND).
Designado para correção
Ao contemplar isso, Habacuque chega à conclusão de que Deus permitiu esse empoderamento do mal para deter Seu povo em seu curso e ganhar sua atenção. “Tu, Jeová, puseste este povo para juízo; e Tu, Rocha, o puseste para correção” (Hc 1:12 – TB). Em resposta a isso, Habacuque diz: “Sobre a minha guarda estarei, e sobre a torre me colocarei, e vigiarei para ver o que Ele dirá a mim e o que eu responderei quanto à minha repreensão” (Hc 2:1 – JND). Com as dramáticas mudanças e desenvolvimentos que estão ocorrendo atualmente, é fácil nos encontrar pesquisando as diferentes fontes de notícias e ficando cada vez mais perturbados com o que ficamos sabendo. Habacuque entendeu a importância de estar isolado em solidão (“minha guarda”), bem como num ponto elevado de separação para o Senhor (a torre), se era para ele aprender a mensagem específica do Senhor no que Ele estava permitindo. Habacuque também entendeu, assim como Jó, a importância de responder ao Senhor ao receber Sua repreensão. “Depois disto, o SENHOR respondeu a Jó […] Agora cinge os teus lombos como homem; e perguntar-te-ei, e, tu, responde-Me” (Jó 38:1,3). Foi quando Jó, quebrantado, respondeu à repreensão do Senhor que ele ganhou a grande bênção que Deus tinha para ele.
O Senhor ensina a Habacuque que sua preservação será viver pela fé. Em seguida, relata solenemente a atitude e as ações por causa das quais Ele julgará este mundo, cada qual precedida pela palavra “Ai”. Elas são as seguintes: (1) Endividar-se profundamente a fim de obter aquilo que está além de seus meios. (2) Adquirir riqueza por vias injustas a fim de ganhar imunidade em tempos de escassez. (3) Sacrificar o que é de real valor para edificar o que será queimado. (4) Comer e beber com o bêbado. (5) Idolatria em todas as suas formas sutis.
Intercessão e avivamento
Na seriedade de tudo isso e sabendo que o povo de Deus havia sido afetado por essas mesmas coisas, Habacuque começa a interceder diante de Deus por Seu povo (Hc 3:1-2,13). Então, uma mudança maravilhosa ocorre na alma de Habacuque, embora nada tenha mudado em suas circunstâncias. Tendo levado sua tristeza ao Senhor e, em serena solidão, ouvido Sua voz e conhecido Seu coração e mente, ele encontrou “descanso no dia da angústia”. A mesma obra de Deus que antes o afligia, ele agora pede para Deus “avivar”, conhecendo seu glorioso resultado. E, enquanto aguarda sua conclusão certa (Hc 2:3), ele é emancipado do medo de perder tudo aquilo que habitualmente buscava para o seu sustento. Ele encontra sua alegria e regozijo no Senhor e em tudo o que foi assegurado para ele pelo Deus da [sua] salvação (Hc 3:17-19).
Habacuque começa clamando em angústia e termina cantando. Na verdade, Deus não coloca a tristeza ao lado da alegria para diminuir a nossa alegria, mas antes para que nosso coração naturalmente contraído possa ser expandido para entrar mais na “plenitude d’Aquele que a tudo enche em todas as coisas” (Ef 1:23 – ARA). A porção de Habacuque está aberta a todo crente!
“Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. Porque estou certo de que, nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor.” (Rm 8:37-39)
R. Klassen Jr.