Origem: Revista O Cristão – Aves
Alimentado pelos Corvos
Em 1 Reis 17, o profeta Elias é visto sozinho com Deus no lugar secreto de oração. Todo servo de Deus tem o seu Querite (estar em um remanso) antes de chegar ao Carmelo (estar sob o olhar público). José, na estrada para o domínio universal, precisa ter o seu Querite. Ele precisa passar pelo caminho da cova e da prisão para chegar ao trono. Moisés precisa ter o seu Querite atrás do deserto antes de se tornar o líder do povo de Deus através do deserto. E não esteve o próprio Senhor sozinho no deserto por quarenta dias, tentado por Satanás, e com as feras, antes de sair em ministério público perante os homens? Não certamente, como é conosco, para descobrir nossa fraqueza e sermos despojados de nossa autossuficiência, mas, antes, para revelar Suas infinitas perfeições e nos mostrar Sua perfeita adequação para a obra que ninguém, exceto Ele, poderia realizar. As circunstâncias de prova que foram usadas para revelar as perfeições de Cristo são necessárias, em nosso caso, para trazer à luz nossas imperfeições, a fim de que tudo seja julgado na presença de Deus, e assim possamos nos tornar vasos adequados para o Seu uso.
De fato, esta foi a primeira lição que Elias teve que aprender em Querite – a lição do vaso vazio. “Vai-te daqui”, disse o Senhor, “e esconde-te” (1 Rs 17:3). O homem que vai testemunhar para Deus deve aprender a se manter fora de vista. A fim de ser preservado de fazer algo de si mesmo diante dos homens, ele deve aprender seu próprio nada diante de Deus. Elias precisa passar três anos e meio escondido, recluso com Deus, antes de passar um dia em proeminência diante dos homens.
Eu ordenei aos corvos
Mas Deus tem outras lições para Elias. É para ele exercitar sua fé no Deus vivo diante de Israel? Então, ele precisa primeiro aprender a viver por fé dia após dia em segredo diante de Deus. Deus proveu o ribeiro e os corvos para atender as necessidades de Seu servo, mas a confiança de Elias precisa estar no Deus vivo e invisível, e não em coisas visíveis. “Eu ordenei” (ARA), disse o Senhor, e a fé repousa na palavra do Senhor.
Além disso, para desfrutar da provisão de Deus, o profeta deve estar no lugar designado por Deus. A palavra para Elias é: “Ordenei aos corvos que ali mesmo te sustentem” (ARA). Não foi deixado para Elias escolher seu esconderijo; ele devia se submeter à escolha de Deus. Só ali ele desfrutaria das bênçãos de Deus. No lugar designado por Deus, os corvos agiriam de forma completamente contrária à natureza; eles trariam pão e carne para Elias duas vezes por dia. Deus pode ordenar à sua criação a qualquer hora e em qualquer lugar, mas, aqui, obediência da parte de Elias é importante.
A obediência sem reservas à palavra do Senhor é o único caminho de bênção. E Elias seguiu esse caminho, pois lemos, “foi […] e fez conforme a Palavra do Senhor”. Ele foi aonde o Senhor lhe disse para ir, ele fez o que o Senhor lhe disse para fazer. Quando o Senhor diz, “Vá e faça”, obediência imediata e sem questionar é o único caminho para a bênção.
O ribeiro secou
Mas o ribeiro Querite tinha uma lição ainda mais difícil e profunda para o profeta – a lição do ribeiro que secou. O Senhor havia dito, “beberás do ribeiro”; em obediência à palavra, ele “bebia do ribeiro”. Então lemos palavras que à primeira vista soam muito estranhas, “o ribeiro secou”. O que isso pode significar? Ele estava fazendo a coisa errada? Longe disso; sem dúvida alguma, ele estava no lugar certo e fazendo a coisa certa. Ele estava no lugar designado por Deus, porém o ribeiro secou.
Quão dolorosa é essa experiência – estar no lugar designado por Deus, e ainda assim, de repente, enfrentar o completo fracasso da provisão que Deus fez para as necessidades diárias. Que prova de fé! Mas se Deus vive, o que importa se o ribeiro secar? Misericórdias podem ser retiradas, mas Deus permanece. O profeta precisa aprender a confiar em Deus, e não nos dons que Ele dá. Que Aquele que dá é maior que Seus dons é a profunda lição do ribeiro que secou.
O lar de Betânia
Não é a história do ribeiro que secou contada em um cenário diferente quando, mais tarde, doença e morte invadiram a tranquila vida do lar em Betânia? Duas irmãs, de luto por seu único irmão, ficaram face a face com o ribeiro que secou. Mas sua provação se tornou para a “glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”. Aquilo que traz glória para o Filho traz bênçãos para os santos. Se Lázaro foi levado, Jesus, o Filho de Deus, permaneceu, aproveitando a falha das correntes terrenas para revelar uma fonte de amor que nunca falha, e uma fonte de poder que não tem limite. Assim, também, nos dias do profeta, o ribeiro que secou tornou-se a ocasião para revelar maiores glórias de Jeová e bênçãos mais ricas para Elias. Foi apenas um incidente usado por Deus para levar o profeta em sua jornada de Querite – o lugar do ribeiro que falha – para a casa em Sarepta, para lá descobrir a refeição que nunca faltava, o óleo que não acabava e o Deus que ressuscitava os mortos. Se Deus permite que o ribeiro seque, é porque Ele tem uma porção melhor e mais brilhante para o Seu amado servo.
Não é diferente com o povo de Deus hoje. Todos nós gostamos de ter algum recurso terrenal ao qual recorrer; contudo, quantas vezes, nos caminhos de um Pai que sabe que precisamos dessas coisas, temos que enfrentar o ribeiro que seca. De diferentes formas, ele cruza o nosso caminho: talvez por meio do luto, perda da saúde ou súbita falha de alguma fonte de suprimento. É bom se, em tais momentos, pudermos, pela fé no Deus vivo, aceitar tudo vindo d’Ele. A própria provação que então descobriremos ser o meio que Deus está usando para revelar-nos os vastos recursos do Seu coração de amor e conduzir nossa alma a bênçãos mais ricas e mais profundas do que jamais conhecemos.