Origem: Revista O Cristão – Vida e Morte
Amar a Vida e Perdê-la
Betty Walton vendia chapéus da moda numa grande loja de departamentos. O contato diário com o mundo do estilo mantinha sua mente ocupada com as coisas terrenais, e as coisas de Deus não tinham lugar em seus pensamentos.
Mas Deus, que deu Seu querido Filho por pessoas como ela, tinha Seus olhos em Betty. Por meio de uma amiga Cristã, Betty foi convidada a participar de um curso bíblico organizado especialmente para jovens empresárias.
Festiva e descuidada, apaixonada por roupas e diversões mundanas como era, Betty só ia à aula de vez em quando. Era mais comum ela estar ausente do que presente. Depois de uma ausência mais longa do que o habitual, a professora da turma soube que ela estava doente e foi vê-la.
A pobre Betty não gostou. Seria ela pior do que qualquer outro jovem a ponto de se achar necessário visitá-la e falar de religião com ela? No entanto, sua visitante assegurou-lhe gentilmente que a visita não vinha de nenhuma ideia de que ela era pior do que os outros. Assim acalmada, ela ouviu em silêncio enquanto alguns versículos da Palavra eram lidos.
Betty logo conseguiu voltar ao trabalho por um tempo, mas não compareceu às aulas, pois não estava bem o suficiente para sair à noite. Sua professora a visitava de vez em quando e, embora a jovem enferma não se opusesse mais, ela recebia sua interlocutora mais por educação do que por prazer.
Sua saúde se deteriora
Por fim, sua saúde se deteriorou completamente, e logo ficou evidente que uma doença mortal estava rapidamente realizando sua obra fatal. Ainda assim, não havia evidências de que sua consciência tivesse sido alcançada pela Palavra, e aqueles que velavam por sua alma ficaram duplamente ansiosos.
A primeira evidência de interesse que ela mostrou foi um dia quando Romanos 4 estava sendo lido para ela. A leitora fez uma pausa no versículo 3, que foi repetido lentamente: “Creu Abraão em Deus, e isso lhe foi imputado (ou levado em conta) como justiça”. Com uma seriedade que demonstrava surpresa, Betty de repente perguntou: “Onde está isso?”
Ela não disse mais nada, mas sua visitante teve certeza de que um raio de luz da Palavra de Deus a alcançara. Essa certeza foi confirmada na visita seguinte. O mesmo assunto estava diante delas, e a interlocutora observou que Abraão não tinha nada além da Palavra de Deus para se apoiar; ele estava restrito à fé. Fora isso, tudo era uma impossibilidade sem esperança.
A visitante olhou para o rosto da jovem. Ela estava deitada com os olhos fechados, e duas grandes lágrimas saíram sob as pálpebras fortemente comprimidas e rolaram pelas bochechas emagrecidas. Uma profunda, porém silenciosa, ação de graças subiu a Deus do coração da visitante.
Feliz em ouvir a Palavra
Após essa visita, as reservas que Betty até então mantinha gradualmente cederam, e agora ela recebia de bom grado qualquer um que viesse falar com ela sobre o Senhor. Agora ela estava feliz em ouvir a Palavra de Deus e logo estava se regozijando em Jesus como seu Salvador.
Apenas uma vez depois a alegria dela pareceu ser interrompida. Na ocasião, seu semblante e maneiras jamais poderiam ser apagados do coração da jovem Cristã que testemunhou o exercício pelo qual sua alma estava passando. O contraste com o rosto geralmente feliz e pacífico e a radiante saudação era muito aparente para não ser notado.
A visitante perguntou: “Qual é o problema, Betty? Satanás tem tentado você a duvidar do Senhor?”
“Não”, ela respondeu. “Não tenho dúvida nem medo. Não é isso.”
“O que é, então? Tem alguma coisa errada.”
Ela ainda estava com um olhar cabisbaixo, mas então, ao levantá-los, ela disse, com um olhar inesquecível e um tom de profunda tristeza: “Ah, Srta. Gray, eu perdi a minha vida”.
Imediatamente a amiga entendeu o que ela queria dizer. Não era que ela estivesse morrendo; não era que ela estivesse sendo cortada em sua juventude. Não; era que a breve vida que lhe fora confiada havia sido vivida para seu próprio prazer, e agora estava quase no fim. Era uma VIDA PERDIDA.
Uma vida perdida
Houve um silêncio. Nenhuma palavra foi dita entre as duas – uma prestes a ser chamada para partir logo que entrou no caminho do deserto; a outra com o caminho estendido à sua frente ainda a ser vivido.
Foi um momento solene. Deus estava exercitando cada coração, e aquela que parecia ter muitos anos ainda pela frente pensou: “Se alguém que se converteu recentemente, ao morrer, se sente assim, como deve ser com aqueles que há muito conhecem o Senhor como seu Salvador, mas viveram para si mesmos, e não para Aquele que deu a vida para salvá-los!”
“Não sois de vós mesmos. Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1 Co 6:19-20).
“E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:15).
A nuvem passou, e o sorriso ensolarado voltou. Pode ser que o Deus de toda a graça tenha permitido aquela nuvem para o cumprimento de Sua própria vontade e para que a vida da querida Betty não tenha sido uma vida totalmente perdida.
“Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-Me” (Lc 9:23).
Young Christian, Vol. 12