Origem: Revista O Cristão – O Amor de Cristo nos Constrange

Anseios por Deus

A nova natureza que Deus deu a Seus filhos anseia pelo próprio Deus, Aquele que é sua origem, sua força e sua alegria. Na presença de Deus, a nova natureza tem prazer perfeito. Na criação, a felicidade da criatura depende de sua vida ser vigorosa e em ter liberdade. É o mesmo com os filhos de Deus. A vida sob restrição é sempre difícil. Um filho de Deus estar sobrecarregado com preocupações mundanas ou embriagado com prazeres mundanos, é uma contradição com sua nova natureza e uma negação de seus anseios.

O filho de Deus, em bom estado de alma, olha para o futuro, quando todo obstáculo será retirado e quando ele em espírito, alma e corpo, será como o Senhor na liberdade da glória. Ele também anseia pelo favor consciente da presença de Deus no dia a dia e anseia por conhecer mais de Cristo e viver em Sua comunhão até a glória chegar. Isso, embora varie em intensidade e seja interrompido pelas influências do mundo, é verdade para todos aqueles que têm vida divina. A medida do desejo pode mudar, mas a própria vida eterna, que age por meio da habitação do Espírito, ascende em direção ao Pai e ao Filho.

Vida eterna 

A vida natural continua independentemente de quem são nossos pais, mas a vida eterna, que é possuída por cada Cristão, está imediatamente ligada à sua fonte e origem. Não está em nós separado de sua fonte, mas está no Filho. “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no Seu Filho” (1 Jo 5:11). Apesar dos desvios dos filhos de Deus e seus tristes resultados, não devemos esquecer a verdade imutável de que eles têm a vida eterna em Cristo.

O verdadeiro desejo Cristão pode ser resumido nestas poucas palavras: “Para conhecê-Lo” (Fp 3:10), palavras que são a expressão do apóstolo diante do Filho de Deus. Davi ansiava por Jeová no santuário. Paulo ansiava por Jesus em glória. Ele O viu em glória. Ele conheceu Jesus no céu, e sua alma se firmou na energia divinamente dada para alcançar o objetivo das afeições do Cristão. Quando esta meta for alcançada por todos nós, a esperança realizada da vida eterna será a alegria dos filhos de Deus.

Cristo é a nossa vida 

Paulo dá o único princípio verdadeiro da vida piedosa em uma palavra: “Porque para mim o viver é Cristo” (Fp 1:21). Cristo é a nossa vida e o crente deseja viver Cristo. Deus Pai dá o poder para fazer isso, fortalecendo nossas afeições, por meio de Seu Espírito, de tal maneira que Cristo possa ser a contínua ocupação deles. “Corroborados com poder pelo Seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé” (Ef 3:16-17). Na proporção em que Cristo habita em nosso coração, pela fé, nosso coração é verdadeiramente levado a Ele como seu objetivo, e assim Cristo se torna o princípio da vida Cristã. Se muitas coisas estão enchendo nosso coração, o mundo é o objeto que temos em vista. Quando esse é o caso, o Cristão é como um homem sobrecarregado tentando correr em uma corrida.

Se quisermos prosperar, o próprio Cristo deve estar preenchendo nosso coração, e não apenas a verdade sobre Cristo. É um cuidado necessário em dias em que o conhecimento das verdades mais sagradas pode ser obtido intelectualmente por um esforço tão pequeno. É uma coisa feliz para nós entender a Palavra de Deus, mas, com essa Palavra entesourada em nosso coração, o objetivo das afeições do Cristão deve ser: “Para que eu possa conhecê-Lo”. Desejar viver na terra o que Cristo é e viver com Ele no céu, separa o Cristão do mundo e o separa em direção ao Senhor. A prática flui do afeto. Se o coração dorme, o Cristão, como um motor sem combustível, está parado. Os outrora ardentes efésios deixaram seu primeiro amor por Cristo e, a partir do centro das afeições mornas, a decadência espiritual se espalhou, até que por fim o privilégio deles como luz em Cristo foi removido.

Cristo morreu por nós e ressuscitou, não para vivermos para nós mesmos, mas para vivermos para Ele. Seu amor desperta o nosso. Seu amor é o nosso motivo, e nossas lâmpadas são iluminadas pela chama de Seu amor por nós. “Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E Ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para Aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2 Co 5:14-15).

Decadência 

A decadência é, infelizmente, tão comum a todos nós, que devemos falar sobre isso. Há filhos de Deus que, sobrecarregados pelos seus pecados, foram absorvidos por desejos avassaladores de descanso de sua consciência. Deus em graça deu a eles o conhecimento do perdão e da libertação, e por um curto período eles correram bem. O que os impediu e onde eles estão agora? Dormindo entre os mortos! Houve uma época em que parecia quase impossível que esses que buscavam ansiosamente a Deus fossem encontrados nas fileiras dos Cristãos comuns, que dificilmente se distingue do mundo. Mas a verdade tomou o lugar na mente que Cristo deveria ocupar no coração. Os fatos da vida e da liberdade foram aceitos, enquanto continuar com o Senhor no coração passou a ser falho, e eles não brilham mais como luzes brilhantes no mundo.

Como com uma nação, assim é com um indivíduo. A paz e a liberdade, não raramente, induzem a frouxidão e ao descuido, e de fato, como é solene expressar isso, muitos crentes abandonaram sua seriedade pouco depois de terem sido libertos das dúvidas e temores quanto à sua salvação. “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não useis, então, da liberdade para dar ocasião à carne” (Gl 5:13). Não é demais dizer que, para muitos, parece mais fácil chegar ao Senhor como Salvador no início e morrer confiando n’Ele como Amigo no final do que continuar insistindo, dia após dia, na dependência d’Ele. O começo e o fim da vida de muitos Cristãos são mais brilhantes do que o meio. Será que isso é porque nos dois extremos existe um sentimento de vazio tão grande que Cristo se torna necessariamente tudo?

Nós andamos por fé 

Nós não passamos a fazer parte de um mecanismo no dia de nossa conversão, para nos movermos como os ponteiros de um relógio até que deixemos este mundo. Somos responsáveis por Aquele que nos ama, e a única maneira de viver a vida cotidiana de um verdadeiro Cristão é vivendo e caminhando cada dia pela fé e seguindo em direção a Deus, momento após momento, mesmo enquanto respiramos a cada segundo.

O que a obra de Cristo efetuou deve ser compreendido, mas não podemos deixar Cristo de lado no nosso coração. Conhecer tudo o que Cristo fez por nós não é suficiente, pois devemos tê-LO habitando em nosso coração pela fé. Que seja verdade para cada um de nós, como disse o apóstolo: “Para mim, o viver é Cristo”!

H. F. Witherby (adaptado)

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