Origem: Revista O Cristão – Oração

A Aparente Contradição da Oração

Nesta dispensação da graça, os crentes no Senhor Jesus tem sido levados a uma posição de proximidade com Deus que não foi conhecida nas eras passadas. Em vez de terem que passar por um sacerdote ou profeta como intermediário, todo crente pode agora se aproximar de Deus em oração e entrar diretamente em Sua presença. Somos encorajados a “orar sem cessar” (1 Ts 5:17), e: Não estejais inquietos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças” (Fp: 4:6).

Muitas outras Escrituras poderiam ser citadas para mostrar a ênfase colocada na oração no Novo Testamento, neste tempo da graça de Deus.

No entanto, às vezes a pergunta é feita: Deus já não sabe o que Ele fará? Ele não tem Seus propósitos já estabelecidos, seja no mundo como um todo ou com cada um de nós individualmente? Nós realmente mudamos a mente de Deus quando oramos? Alguns podem achar essas perguntas difíceis de responder, tendo em vista a soberania de Deus.

Interesses comuns com Deus 

Sugiro que a resposta seja encontrada em uma observação feita por um irmão há muitos anos, no sentido de que “a oração se baseia no imenso privilégio de termos interesses comuns com Deus”. Assim, encontramos versículos muito pontuais que se referem à certeza de que nossas orações são respondidas: “tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar” (Jo 16:23). Além disso, temos estas palavras: “Se pedirdes alguma coisa em Meu nome, Eu o farei” (Jo 14:14). Mas, então, temos outras escrituras que as equilibram, como: “E esta é a confiança que temos n’Ele: que, se pedirmos alguma coisa, segundo a Sua vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que alcançamos as petições que Lhe fizemos” (1 Jo 5:14-15). Da mesma forma, lemos: “Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança para com Deus; e qualquer coisa que Lhe pedirmos, d’Ele a receberemos, porque guardamos os Seus mandamentos e fazemos o que é agradável à Sua vista” (1 Jo 3:21-22).

Assim, vemos que mais uma vez estamos na esfera da soberania de Deus e da responsabilidade do homem – duas verdades paralelas que não podem ser conciliadas na mente humana. Em vez de tentar conciliá-las, devemos aceitá-las como sendo ensinadas na Palavra de Deus, e assim elas podem ser mantidas em equilíbrio adequado apenas andando em comunhão com o Senhor.

Os propósitos de Deus 

Sim, Deus realmente tem Seus próprios propósitos, seja com o homem coletivamente ou com indivíduos. Seus propósitos serão cumpridos, porque Deus é soberano, e Ele “faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1:11). Nós damos graças a Deus por isso, e em conexão com a mesma coisa, lemos: “E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E Aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é Ele [o Espírito] que segundo Deus intercede pelos santos” (Rm 8:26-27). Quão agradecidos devemos estar por nossas orações nem sempre serem respondidas de acordo com nossos próprios desejos! Quantas vezes de fato “pedimos mal” e desejamos aquilo que não seria de todo bom para nós! Mas temos a certeza de que nossas orações sobem a Deus, não com o entendimento imperfeito de nossas necessidades, mas com a intercessão do Espírito, feita de acordo com a vontade de Deus. Mesmo que a oração seja imperfeita, a resposta é sempre perfeita, porque é de acordo com Deus.

Uma vida sem oração 

Mas isso deveria nos reduzir a uma atitude fatalista, onde descansamos nos propósitos de Deus e negligenciamos a oração? Absolutamente não; pois, se o fizermos, não apenas perderemos um grande privilégio, mas descobriremos inevitavelmente que uma vida sem oração é uma vida sem poder. É um grande privilégio ir ao Senhor com Seus interesses em nosso coração e pedir o que Deus deseja fazer. Como criaturas, dependência e obediência nos convêm; a oração nos leva à presença de Deus, expressando nossa dependência d’Ele, e como isso é necessário! Além disso, quando somos levados à presença de Deus, nosso estado de alma se manifesta e logo descobriremos se estamos em uma condição correta para orar. Então o Espírito de Deus, em vez de estar pronto para nos guiar em oração, pode ter que nos ocupar com algum pecado que o Senhor deseja que julguemos. Assim, um querido crente, quando perguntado por um cético se ele (o crente) realmente pensou que havia mudado a mente de Deus quando orava, respondeu: “Você está segurando a bengala pelo lado errado; quando eu oro, sou eu quem muda, não Deus”! Ao entrar na presença de Deus, somos levados a julgar o que não está de acordo com Sua mente, e nossos pensamentos são alinhados com os de Deus. Isso é muito necessário e, portanto, a oração deve ser uma coisa diária para nós, e talvez várias vezes durante o dia.

Iniquidade no coração 

Finalmente, temos a palavra solene: “Se eu atender à iniquidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá” (Sl 66:18). Posso reconhecer no meu coração o pecado que preciso confessar ao Senhor, mas na teimosia posso me recusar a fazê-lo. Então não posso andar em comunhão com o Senhor, e o resultado será que “o Senhor não me ouvirá”. Descobrirei que não posso orar corretamente, embora possa fazer as petições e dizer as palavras. Mas tais orações não serão respondidas, exceto para que o Espírito de Deus coloque ainda com mais força, em minha consciência, a necessidade de arrependimento e confissão.

Assim, vemos que devemos orar, tanto em ações de graças quanto em petições, reconhecendo ao mesmo tempo a bem-aventurança da intercessão do Espírito de Deus e a soberania de Deus em responder à oração. É um recurso que não precisaremos na eternidade, mas a bênção de uma caminhada em comunhão com o Senhor e a memória de como Ele respondeu às nossas orações permanecerão conosco.

W. J. Prost

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