Origem: Revista O Cristão – Alimento Espiritual e Exercício

Apetite, Comida e Exercício

Alguns aspectos de dietas e exercícios parecem estar na capa de quase todas as revistas de hoje em dia! As pessoas estão muito preocupadas com sua saúde e seu bem-estar natural. Com a grande variedade de alimentos disponíveis nos países ocidentais hoje, muitos estão se voltando para dietas incomuns e às vezes bizarras, pensando que elas são o segredo para uma boa saúde. O exercício também tem um lugar cada vez maior na vida de muitos, seja correndo na rua ou em uma esteira todos os dias ou algo mais sério, como musculação ou maratonas.

No entanto, lemos em 1 Timóteo que “o exercício corporal para pouco [tempo se] aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” (1 Tm 4:8). É importante cuidar do nosso corpo natural, mas ainda mais importante para nós é nos mantermos em boa saúde espiritual.

Apetite 

Um indivíduo com uma boa saúde natural tem um apetite por comida, e isso se aplica ainda mais para alguém que se exercita regularmente. Um corpo saudável tem um apetite saudável e o mesmo acontece espiritualmente. Um crente saudável também tem um bom apetite espiritual. De acordo com Pedro, o crente em Cristo deseja “o genuíno leite espiritual” (1 Pe 2:2 – ARA), assim como um bebê saudável quer leite natural. Precisamos de alimento para crescer naturalmente e precisamos de alimento espiritual para crescer espiritualmente. Mas há uma grande diferença entre comer do natural e comer do que é espiritual. Nas coisas naturais, comer satisfaz; nas coisas espirituais, quanto mais você come, mais você quer!

Há três razões pelas quais um indivíduo pode não ter apetite pelo alimento espiritual. Em primeiro lugar, ele pode não ser um verdadeiro crente de forma alguma. Um incrédulo pode se disfarçar como sendo um crente por um longo tempo e pode até mesmo ler a Palavra de Deus intelectualmente, mas não há interesse real nela. “O homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co 2:14). Não pode haver crescimento se não houver uma nova vida.

Segundo, um crente pode não ter apetite por uma boa comida espiritual por estar espiritualmente doente. Ele pode ter se afastado do Senhor e se entregou a algo que destruiu seu apetite. Neste caso, ele precisa de remédio, e isso é encontrado na Palavra de Deus, assim como nossa comida é encontrada lá. Mas ele pode precisar de alguém para administrá-la a ele, pois pode não perceber exatamente o que precisa. Como um médico bem treinado pode administrar remédios a alguém que está doente no sentido natural, alguém com o dom de pastor pode administrar remédio espiritual a um crente que precise dele. O remédio não nutre nem produz crescimento, mas restaura a saúde, de modo que quem a recebe pode voltar a ser capaz de ingerir alimentos.

Em terceiro lugar, um crente pode estar cheio de alimento espiritual de má qualidade e, portanto, não tem apetite pelo alimento bom. Ceder à uma leitura superficial ou que promova a má prática ou a má doutrina, ou ambas, são exemplos de má alimentação. É triste dizer que muitos crentes hoje estão saciados com comida ruim e, portanto, não têm apetite por boa comida. “E ninguém, tendo bebido o vinho velho, quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho” (Lc 5:39).

Alimentos 

Nós já falamos da Palavra de Deus como sendo nosso alimento, e também sobre alimento bom e ruim. Entretando, também podemos mencionar que enquanto nosso alimento é encontrado por meio da Palavra de Deus, o próprio Cristo é a nossa comida. Nosso Senhor pôde falar de Si mesmo como sendo o Pão da vida em conexão com a Salvação, “Eu Sou o pão da vida” (Jo 6:35), mas Ele também fala de Si mesmo como sendo a comida do Cristão em sua vida aqui, “Assim como o Pai, que vive, Me enviou, e Eu vivo pelo Pai, assim quem de Mim se alimenta também viverá por Mim” (Jo 6:57). Alimentando-nos constantemente de Cristo, alimentamos a nova vida e isso é absolutamente essencial para o crescimento espiritual.

Nós nos alimentamos de Cristo em mais de uma maneira, e isso é representado pelos israelitas em sua jornada, saindo do Egito até Canaã. Eles se alimentaram de Cristo como o cordeiro assado no Egito, em conexão com a salvação deles. Então, se alimentaram d’Ele no deserto como sendo o maná, falando de Sua perfeita Humanidade, e assim Ele é nosso alimento perfeito para o deserto. Finalmente, eles se alimentaram d’Ele como o “o trigo da terra, do ano antecedente” quando entraram na terra de Canaã. Poderíamos chamar isso de alimento para o conflito, pois, para gozar da terra, eles deveriam se engajar na guerra. Assim, se quisermos desfrutar de nossas bênçãos celestiais, devemos estar preparados para o conflito espiritual, alimentando-nos de um Cristo ressuscitado e glorificado.

Maneiras adequadas de comer 

Assim como há maneiras adequadas de comer o alimento natural, também existem maneiras adequadas para comer espiritualmente. Primeiramente, a alimentação deve ser regular, em quantidades razoáveis, e não apressadamente. Devemos também meditar no que comemos, como os animais chamados ruminantes, que mastigam o alimento que retorna do seu estômago.

Segundo, é bom comer com outras pessoas e não comer sempre sozinho. Outros podem prover ajuda e alimento para nós e o desfrute de Cristo juntos não apenas aumenta nosso apreço por Ele, mas também aumenta nosso crescimento espiritual.

Em terceiro lugar, a oração é muito importante, pois nos leva à presença de Deus e, entre outras coisas, nos permite desfrutar do alimento espiritual que temos comido. Também nos dá forças para colocar em prática o que temos aprendido.

Finalmente, devemos lembrar que é necessário esforço para se obter boa comida espiritual. Nós apreciamos mais o que exigiu algum esforço para conseguir. Para termos boa comida, precisamos de disciplina e diligência, assim como os israelitas precisavam dessas coisas para obter o maná. Também podemos aproveitar o que outra pessoa juntou, assim como é bom experimentar o que outras pessoas prepararam nas coisas naturais. Mas fazer isso continuamente não está certo nas coisas naturais nem nas espirituais; todos devemos procurar colher nosso próprio alimento. O clero desenvolveu-se, em parte, porque os crentes estavam com preguiça de procurar por sua própria comida; eles preferem pagar alguém para fazer isso por eles.

Exercício 

Nós todos sabemos que, nas coisas naturais, o crescimento é o resultado de uma boa dieta e exercício. No entanto, devemos lembrar que, nas coisas espirituais, o crescimento será mais visto naquilo que somos, e não no que fazemos. Se a nossa vida está em ordem, então o nosso serviço seguirá. Mas, para ser saudável, tanto natural como espiritualmente, o exercício é necessário. Falando em um sentido espiritual, não devemos apenas digerir o que comemos, mas devemos andar conforme o que comemos. Então somente assim o alimento é verdadeiramente nosso. Se não andarmos naquilo que aprendemos, vamos perdê-lo, pois Deus não permitirá que tenhamos a teoria da verdade em nossa cabeça sem sua prática em nossa caminhada.

O exercício espiritual não é tão visto nas grandes coisas, mas é visto nas decisões e ações cotidianas da vida. Muito do nosso Cristianismo será vivido em nossa caminhada diária onde estaremos preparados para grandes conflitos. Vemos isso em Davi, que primeiro teve que aprender a lutar contra o leão e o urso fora dos olhos do público antes que ele pudesse enfrentar Golias. Se em nossa caminhada diária estivermos em comunhão com o Senhor, estaremos em boa forma espiritual para os conflitos ocasionais que possam acontecer. Mas mesmo se, em algum momento particular, não estivermos enfrentando conflito direto, ainda assim descobriremos que “em razão do costume” teremos nossos “sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hb 5:14). Devemos também lembrar que é preciso muita força espiritual – e talvez mais – para sofrer por Cristo do que, talvez, fazer grandes coisas por Ele.

Finalmente, assim como a ingestão de alimentos deve ser regular, o mesmo deve acontecer com nosso exercício. Estamos todos familiarizados com aqueles que, em coisas naturais, ficam chateados por causa de sua condição física flácida e realizam um vigoroso programa de exercícios por algum tempo. Mas logo se cansam da disciplina necessária para mantê-la e voltam a um modo de vida sedentário. Nas coisas espirituais, assim como nas coisas naturais, é mais fácil observar os outros fazendo exercício, do que fazê-los nós mesmos. Um atleta que deseja se destacar em seu campo de atuação, subordina todo o resto de sua vida a esse objetivo; o crente deve fazer o mesmo se deseja correr “com paciência [perseverança], a carreira que nos está proposta” (Hb 12:1). Em um mundo de pecado e com o “pecado que tão de perto nos rodeia” (Hb12:1), precisamos de controle próprio em todas as áreas de nossa vida.

Nosso Senhor Jesus Cristo definiu o caminho para nós e, assim como o Seu caminho terminou em glória, também estamos destinados à glória eterna. O esforço vale a pena!

W. J. Prost

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