Origem: Revista O Cristão – O Apóstolo João e Seu Ministério
Os Escritos de João
Há uma conexão entre o evangelho de João, suas epístolas e o Apocalipse. A mesma verdade é proeminente em cada um desses três livros, mas cada um olha para essa verdade de uma perspectiva diferente.
João não foi o escolhido para comunicar a nós o chamado celestial, nem o Mistério, nem a organização das igrejas no deserto. Tais assuntos fluíam da caneta de um Paulo. João também não nos apresenta os efeitos da ressurreição do Senhor Jesus sobre aqueles dentre Israel que eram crentes, como fazem Pedro e Tiago. O assunto de João é a vida eterna e o que flui dela. A vida eterna que estava em Jesus é o assunto encontrado em toda parte nos escritos de João, mas cada uma de suas obras tem algo pelo qual se distingue das demais. No entanto, em todas elas há, como verdade governante, a vida eterna que estava em Cristo.
O evangelho
No Evangelho, temos a vida eterna que estava em Cristo Jesus, e a história dos sofrimentos que eram necessariamente Seus, já que Ele iria comunicar vida eterna a pobres pecadores. No momento em que tudo isso termina, Ele parte. Ele deixou a Terra para Se assentar, como Filho do Homem, à direita de Deus, na Majestade das alturas. As cortinas se fecham sobre as cenas de Sua carreira terrenal, e Ele é perdido de vista daqueles que são apenas homens sobre a Terra.
As epístolas
Nas epístolas, temos a corrente dessa vida eterna, que é vista fluindo d’Ele como sua fonte – uma fonte de água viva, colocada no meio do trono nas alturas. À medida que flui, ela traz à luz um povo celestial aqui embaixo e os enche, como santos do Deus vivo, durante sua peregrinação pelo deserto.
Apocalipse
No livro de Apocalipse, são os efeitos dessa vida eterna. Não é a vida manifestada no evangelho em Jesus em humilhação, nem, como nas epístolas, concedida pela fé a um povo celestial que está na Terra, mas o resultado desses dois testemunhos. Ele trata dos efeitos da vida eterna, segundo Deus, tanto sobre aqueles que não estão sujeitos a ela como sobre aqueles que estão, seja na Terra ou no céu. O Senhor, que tinha a vida eterna em Si mesmo, é o primeiro a manifestá-la aqui embaixo; Ele fez e sofreu tudo o que era necessário, seja para a comunicação dessa vida por parte de Deus, ou para o recebimento dela por parte de pobres pecadores. Sem aquilo que Cristo fez e sofreu, a santidade mantinha fechado o caminho da bondade divina, por um lado, e, por outro, o pobre pecador nunca poderia ser livre diante de Deus. Quando tudo foi feito, Sua graça começou em Jerusalém. Rejeitado ali, Ele deu a bênção a Seus santos propriamente ditos, um povo preparado para os lugares celestiais. Finalmente, devem ser manifestados o que é a glória de Sua Pessoa e qual é o julgamento que Deus formou a respeito d’Ele. Ele deve reinar sobre a Terra sobre um povo terrenal, a quem Ele Se manifestará na glória celestial que Ele deu à Sua noiva celestial. O resultado final da humilhação do Filho será que tudo o que não se humilhar sob Ele será julgado, pois convém a Deus fazer brilhar a luz dessa vida eterna; é necessário que Ele torne manifesto, tanto na Terra como no céu, qual o Seu julgamento a respeito da obra de Seu Filho. Se o Filho de Deus Se tornou Filho do Homem, Ele é a ressurreição e a vida, e, como tal, tudo relacionado ao homem deve ser apresentado à luz de Sua glória.
A glória divina deve ser plenamente manifestada, aquela glória que a vida eterna, manifestada em Jesus como Filho do Homem, vindicou, até mesmo no momento em que Ele foi rejeitado.
Tudo confiado ao Filho
O que temos em Apocalipse parece estabelecido naquilo que encontramos apresentado em João 5: “E o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo, para que todos honrem o Filho, como honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai, que O enviou… Porque, como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu também ao Filho ter a vida em Si mesmo. E deu-Lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem”. Assim também em Atos 10:42: “E nos mandou pregar ao povo e testificar que Ele é o que por Deus foi constituído Juiz dos vivos e dos mortos”. Em Atos 17:30-31, lemos: “Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia [manda – TB] agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam, porquanto tem determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo, por meio do Varão que destinou; e disso deu certeza a todos, ressuscitando-O dos mortos”. A mesma doutrina é encontrada em outras partes da Escritura.
O Filho de Deus tornou-Se Filho do Homem, a fim de revelar a graça de Deus a pobres pecadores. Portanto, Deus dá, na Terra, testemunhos d’Ele, mas os resultados de tais testemunhos em graça devem ser totalmente manifestados. As igrejas, o estado da Terra como um todo, o estado dos Judeus, o estado das nações, o poder de Satanás, licenciado pela natureza carnal dos homens deste mundo, que negaram a Deus tanto em Seu governo quanto em Sua adoração – todas as coisas devem ser manifestadas em seu verdadeiro caráter por Jesus, e, depois de manifestadas, Ele as julgará – colocando-as de lado para estabelecer o reino milenar. Assim, temos a vida eterna claramente expressada: primeiro, em Jesus, perfeitamente e de acordo com as reivindicações de Deus e o estado de coisas na Terra (como no evangelho de João); segundo, por meio do Seu Espírito em um povo fraco (como nas epístolas); e terceiro, o triunfo dela sobre todas as coisas, independentemente de seu caráter (como em Apocalipse). Tais são a verdade que governa e os pensamentos que distinguem os escritos de João.
