Origem: Revista O Cristão – O Apóstolo João e Seu Ministério

Filhos de Deus

É somente pelas abundantes riquezas da graça de Deus que qualquer um de nós somos Seus filhos, e, porque é totalmente por graça, deve ser, portanto, baseado no princípio da fé, e não das obras. No entanto, é algo muito abençoado saber disso pela autoridade da Palavra de Deus como uma certeza divina, mas ainda mais abençoado ter o gozo deste novo e eterno relacionamento pela verdade sendo trazida ao nosso coração no poder do Espírito Santo. “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus”. Outro apóstolo inspirado diz: “Amados, agora somos filhos de Deus” (Rm 8:16; 1 Jo 3:2). É praticamente impossível que algo possa ser mais simples ou dito de modo mais definitivo. Não existe “se” ou “mas” na frase; não há “na esperança de ser” ou espaço para sombra de “dúvida”. O fato é inconfundivelmente estabelecido que todos os que verdadeiramente creem no Senhor Jesus Cristo, o Filho de Deus, são “filhos de Deus”. Nunca nos esqueçamos de que isso é o que o Espírito de Deus ensina e é, portanto, a verdade de Deus, e não a opinião do homem.

Depois que ouvimos e cremos no evangelho da nossa salvação, recebemos o perdão dos pecados, e o Espírito Santo é dado para habitar em nós como o selo de Deus, Sua unção, o penhor da herança, para nos guiar também e nos ensinar, para que possamos conhecer e desfrutar, pela autoridade da Escritura, do nosso novo e eterno relacionamento de filhos. Ele testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus, e é uma fonte inesgotável de santo gozo, ação de graças e louvor. Dessa maneira a alma começa a conhecer Deus como Pai.

Herdeiros 

Isso não é tudo, pois somos instruídos ainda: “se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se é certo que com Ele padecemos, para que também com Ele sejamos glorificados” (Rm 8:17). Não deixemos isso passar levianamente, mas consideremos até que ponto conhecemos e desfrutamos desse abençoado relacionamento com Deus para o qual fomos trazidos. Lembremos que temos “gozo e paz em crer” (JND), não apenas em conhecer a doutrina, mas em receber a verdade dela em nosso coração como da boca de Deus. Assim, nos alimentando das palavras de Deus para nós, tornando-as nossas, vivemos dia após dia no conforto desse relacionamento imutável e eterno. Por mais piedosos que pareçamos, não podemos andar como filhos de Deus, a menos que saibamos que somos Seus filhos. Muitos dirão: “Sim, eu entendo” ou “Eu sei disso há alguns anos”, mas viver dia após dia desfrutando disso como uma realidade estabelecida e olhar para a bendita perspectiva que nos é apresentada produz alegria no coração e santa liberdade como nada mais pode. Não deixemos então de receber de Deus por Sua Palavra e desfrutar diante d’Ele a surpreendente verdade de que Sua própria graça insondável nos fez Seus filhos para cuidar e confortar para sempre para Seu próprio louvor e glória eternos.

O Espírito Santo 

Observe também que o Espírito que nos foi dado para nos fazer conhecer que somos filhos de Deus é mencionado como “o Espírito de Seu Filho”, para que possamos ter, em nossa medida, Seus próprios sentimentos e afeições, e que Ele também é chamado de “o Espírito de adoção”, para nos fazer perceber nossa posição e nos dar pensamentos, sentimentos e afeições adequados ao Aba, Pai. Nosso Senhor orou para que o amor com o qual o Pai O amava possa estar em nós, e Ele também Se referiu a um tempo em que o mundo saberá que o Pai nos amou como Ele O amava. Preciosa graça! O Espírito Santo também é nosso Guia. “Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus”. E que seja lembrado que Ele está aqui também para nos guiar a toda a verdade. Ele nunca é mencionado como nos dirigindo, mas com toda a ternura de uma ama amorosa guiando as crianças pequenas. Isso está em total consonância com o amor divino, e ser guiado por Ele é uma marca da filiação.

Quanto a esse guiar do Espírito de Deus, é fácil dizer: “Eu sou guiado pelo Espírito a fazer isso ou aquilo”, mas é certo que Ele nunca nos leva a ter confiança na carne ou a cobiçar uma posição no mundo, que crucificou o Senhor da glória, ou a fazer algo contrário à Sua Palavra. Sem dúvida, Sua maneira usual de guiar é pela Palavra escrita, embora, quanto ao tempo, lugar, circunstâncias e outros detalhes, se andarmos na verdade, observarmos Seus olhos e mãos, não tendo nossa vontade própria em atividade, mas com toda humildade tendo o olho para a Sua glória, Ele certamente guiará. O Espírito é Aquele que glorifica e testifica do Filho de Deus, e Ele toma das coisas do Pai e do Filho e as mostra para nós. Estes são marcos importantes para nunca se perder de vista. Separar, portanto, as operações do Espírito de Deus do testemunho da Palavra escrita e da Pessoa do Filho seria enganoso e não sadio.

Comunhão 

O Espírito Santo nos leva a uma associação consciente com Cristo. Mesmo que Ele nos ocupe conosco mesmos para nos reprovar por causa do pecado, é para nos levar com julgamento próprio à presença de Deus. Como somos chamados à comunhão do Filho de Deus, nos separar d’Ele é descer aos pensamentos da carne. A comunhão com o Pai e o Filho é o estado normal do filho de Deus, e ela é mantida apenas no poder do Espírito Santo. O mundo não recebe o Espírito Santo porque, como nosso Senhor disse, ele “não O vê, nem O conhece”. Aos Seus discípulos, no entanto, Ele acrescentou abençoadamente: “mas vós O conheceis, porque habita convosco e estará em vós” (Jo 14:17). Todos os crentes que sabem que são filhos de Deus conhecem, em alguma fraca medida, o Espírito Santo e algo de Suas graciosas operações e maneiras. Aqueles que têm o Espírito de Deus habitando neles têm uma consciência pessoal do amor de Deus, pois ele é derramado em seus corações; eles se deleitam em se curvar a Jesus como seu Senhor, bem como seu Salvador. Eles sabem que são filhos de Deus. Eles percebem também Seu poder em ministrar a eles as coisas preciosas do Filho de Deus, enquanto atrai seus corações para cima, para Cristo, e para fora, por Cristo.

The Christian Friend, 17:18

H. H. Snell

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