Origem: Revista O Cristão – O Apóstolo João e Seu Ministério

A História do Apóstolo João

O nome oficial “apóstolo” significa “enviado”. “Jesus enviou estes doze” (Mt 10:5). Esse nome foi dado a eles pelo próprio Senhor. “E, quando já era dia, chamou a Si os Seus discípulos, e escolheu doze deles, a quem também deu o nome de apóstolos” (Lc 6:13). Um conhecimento pessoal de todo o curso ministerial do Senhor era a qualificação original e necessária de um apóstolo. Isso foi afirmado por Pedro antes da eleição de um sucessor para o traidor Judas. “É necessário, pois, que, dos varões que conviveram conosco todo o tempo em que o Senhor Jesus entrou e saiu dentre nós, começando desde o batismo de João até ao dia em que dentre nós foi recebido em cima, um deles se faça conosco testemunha da Sua ressurreição” (At 1:21-22). Por essa comunhão íntima e pessoal com o Senhor, eles eram particularmente adequados para serem as testemunhas de Seu caminho terrenal. Ele mesmo os descreve como “os que tendes permanecido comigo nas Minhas tentações” (Lc 22:28).

Os três escolhidos 

Pedro, Tiago e João, e ocasionalmente André, sempre foram os companheiros mais íntimos do bendito Senhor. Apenas os três primeiros foram admitidos na ressurreição da filha de Jairo (Marcos 5; Lucas 8). Somente os mesmos três apóstolos foram autorizados a estar presentes na transfiguração (Mateus 17; Marcos 9; Lucas 9). Foram os mesmos três que testemunharam Sua agonia no Getsêmani (Mateus 26; Marcos 14; Lucas 22). Mas os quatro, Pedro, Tiago, João e André, se juntam quando perguntam ao Senhor, em particular, sobre a destruição do templo (Marcos 13).

Assim como a mudança no nome de Pedro, ou a adição a ele, os filhos de Zebedeu recebem o sobrenome Boanerges, ou “filhos do trovão” (ARA). Grande ousadia e fidelidade podem ter levado Tiago a ser escolhido por Herodes como o primeiro a ser preso e silenciado. Não é de admirar que “o filho do trovão” e “o homem pedra” sejam os primeiros a serem presos. Mas Tiago tem a honra de ser o primeiro dos apóstolos a receber a coroa do martírio, no ano 44 d.C. Pedro foi resgatado por um milagre.

O zelo de uma mãe e a ambição de seus filhos levaram Salomé a pedir lugares muito distintos no reino para seus dois filhos. O Senhor permitiu que a petição passasse com uma repreensão bem branda, mas disse aos irmãos que eles deveriam beber de Seu cálice e serem batizados com Seu batismo. Tiago foi chamado cedo para realizar essa afirmação. Após a ascensão, ele é visto em companhia dos outros apóstolos em Atos 1, e então ele desaparece da sagrada narrativa até sua prisão e morte em Atos 12. E ali nos é dito simplesmente, na breve linguagem do inspirado historiador, que o rei Herodes matou Tiago, irmão de João, à espada.

A família de Zebedeu 

João era filho de Zebedeu e Salomé e o irmão mais novo de Tiago. Embora seu pai fosse pescador, parece, pela narrativa do evangelho, que eles estavam em boas circunstâncias. Alguns dos antigos falam da família como sendo rica e até mesmo como tendo conexões com a nobreza. Mas essas tradições não são conciliáveis com os fatos da Escritura. Lemos, no entanto, sobre seus “empregados”, e eles podem ter possuído mais de um barco. E Salomé, não duvidamos, era uma daquelas mulheres honradas que ministravam ao Senhor com os seus bens. E João tinha uma casa própria (Lc 8:3; Jo 19:27). Assim, podemos inferir com segurança a partir desses fatos que eles se situavam consideravelmente acima da pobreza. Como muitos já foram ao extremo de falar dos apóstolos como pobres e analfabetos, achamos por bem notar as poucas indicações da Escritura sobre esses assuntos.

Nada sabemos a respeito do caráter de Zebedeu. Ele não fez nenhuma objeção a seus filhos o deixarem ao chamado do Messias. Mas não ouvimos mais nada sobre ele depois. Frequentemente vemos a mãe em companhia de seus filhos, mas nenhuma menção ao pai. É provável que ele tenha morrido logo após o chamado de seus filhos.

Os filhos do trovão 

O evangelista Marcos, ao enumerar os doze apóstolos (cap. 3:17), quando menciona Tiago e João, diz que nosso Senhor a eles “pôs o nome de Boanerges, que significa: Filhos do trovão”. Sem dúvida, em uma ou duas ocasiões, seu zelo foi intemperante, mas isso foi antes de eles entenderem o espírito de seu chamado. Mais provavelmente nosso Senhor tenha dado a eles esse nome como profético do seu ardente zelo em proclamar aberta e corajosamente as grandes verdades do evangelho, depois que se familiarizaram completamente com elas. Temos certeza de que João, em companhia de Pedro, nos primeiros capítulos de Atos, demonstrou uma coragem que não temia ameaças e não se intimidava com nenhuma oposição.

A julgar pelos seus escritos, João parecia possuir uma disposição singularmente afetuosa, branda e amável. Ele foi caracterizado como “o discípulo a quem Jesus amava”. Em várias ocasiões, ele foi admitido em comunhão íntima e livre com o Senhor (João 13).

“O que distinguia João”, diz Neandro, “era a união das mais opostas qualidades, como frequentemente observamos em grandes instrumentos do avanço do reino de Deus – a união de uma disposição inclinada à meditação silenciosa e profunda, com um zelo ardente, porém não impelido a uma grande e diversificada atividade no mundo exterior, não um zelo apaixonado, como aquele que, supomos, enchia o peito de Paulo antes de sua conversão. Mas havia também um amor, não brando e flexível, mas que agarrava com toda a sua força e retinha firmemente o objeto ao qual era direcionado, repelindo vigorosamente qualquer coisa que pudesse desonrar esse objeto ou tentar arrancá-lo de sua posse, e essa era a principal característica de João”.

Na crucificação 

A história de João está intimamente ligada às histórias de Pedro e Tiago. Esses três nomes raramente estão separados na história do evangelho. Mas há uma cena em que João fica sozinho e que deve ser observada. Ele foi o único apóstolo que seguiu Jesus até o local de Sua crucificação. E lá ele foi especialmente honrado com a consideração e a confiança de seu Mestre. “Ora, Jesus, vendo ali Sua mãe e que o discípulo a quem Ele amava estava presente, disse à Sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (Jo 19:26-27).

Os últimos anos 

Após a ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, João se tornou um dos principais apóstolos da circuncisão. Mas seu ministério vai até o final do primeiro século. Com sua morte, a era apostólica naturalmente se encerra.

Na Ásia Menor, ele plantou e cuidou de várias Igrejas em diferentes cidades, mas fez de Éfeso seu centro. Dali ele foi banido para a Ilha de Patmos, perto do fim do reinado de Domiciano. Lá, ele escreveu o Apocalipse (cap. 1:9). Ao ser libertado do exílio, pela ascensão de Nerva ao trono imperial, João retornou a Éfeso, onde escreveu seu evangelho e epístolas. Ele morreu por volta de 100 d.C., no terceiro ano do imperador Trajano, com cerca de cem anos de idade.

A. Miller

Compartilhar
Rolar para cima