Origem: Revista O Cristão – Nuvens

O Arraial e a Nuvem

“E no dia em que foi levantado o tabernáculo, a nuvem cobriu o tabernáculo sobre a tenda do testemunho; e à tarde estava sobre o tabernáculo com uma aparência de fogo até à manhã. Assim era de contínuo: a nuvem o cobria, e de noite havia aparência de fogo. Mas sempre que a nuvem se alçava de sobre a tenda, os filhos de Israel partiam; e no lugar onde a nuvem parava, ali os filhos de Israel se acampavam. Segundo a ordem do SENHOR se alojavam, e segundo a ordem do SENHOR partiam […] cumpriam o seu dever para com o SENHOR, segundo a ordem do SENHOR por intermédio de Moisés” (Nm 9:15-18, 23 – ACF).

É impossível conceber um quadro mais adorável de absoluta dependência da orientação divina do que o apresentado no parágrafo anterior. Não havia pegadas nem ponto de referência em todo aquele “grande e terrível deserto”. Eles foram totalmente comandados por Deus, em cada passo do caminho.

Confiança em Deus 

Aqui está a verdadeira essência de toda a questão. Será que Deus é conhecido, amado e tem nossa confiança? Se assim for, o coração se deleitará na mais absoluta dependência d’Ele. Do contrário, tal dependência seria perfeitamente insuportável. O homem não renovado adora pensar que é independente, mas isso é mera ilusão. O homem não está livre: Ele é o escravo de Satanás. Sim, Satanás mantém o homem natural em terrível escravidão. Ele o governa por meio de suas luxúrias, suas paixões e seus prazeres e, mais cedo ou mais tarde, essa escravidão se tornará evidente. Não há liberdade senão em Cristo, pois é Ele quem diz: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. E novamente: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo 8:32, 36).

Dependência 

Aqui está a verdadeira liberdade, é a liberdade que a nova natureza encontra em andar em Espírito e fazer as coisas que são agradáveis aos olhos de Deus. O serviço ao Senhor é liberdade perfeita, mas esse serviço envolve a mais elementar dependência do Deus vivo. Assim foi com o único Servo perfeito que já pisou nesta Terra. Ele sempre foi dependente. Cada ato, cada palavra, foi o fruto da mais absoluta dependência e sujeição a Deus.

Assim era Jesus quando viveu neste mundo, e somos chamados a seguir Seus passos e viver uma vida de simples dependência de Deus no dia a dia. Desta vida de dependência, temos um gráfico e um belíssimo tipo que a ilustra no final de Números 9. Israel seguiu o movimento da nuvem. Eles tinham que olhar para cima para buscar por orientação. O homem foi feito para virar seu rosto para cima, em contraste com o animal, que olha para baixo. Israel era inteiramente dependente do movimento da nuvem.

Assim deve ser conosco. Estamos passando por um deserto sem rastros, um deserto moral. Não saberíamos andar, não fosse por aquela preciosa frase que saiu dos lábios de nosso bendito Senhor: “Eu sou o caminho” (Jo 14:6). Aqui está a orientação divina e infalível. Devemos segui-Lo, pois “quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida” (Jo 8:12). Esta é uma orientação para a vida, é seguir um Cristo vivo. É manter os olhos fixos em Jesus, ter os traços de Seu caráter impressos em nossa nova natureza e reproduzidos em nossa vida e hábitos diários.

Não há lugar para nossas vontades 

Imediatamente, isso, certamente, envolverá a rendição de nossa própria vontade; devemos seguir a nuvem; devemos esperar apenas em Deus. Todos os nossos movimentos devem ser colocados sob o poder regulador daquela única sentença de comando, muitas vezes pronunciada levianamente por nós: “Se o Senhor permitir” (N. T.: ou, “Se Deus quiser”). Quantas vezes imaginamos em vão e afirmamos com segurança que a nuvem está se movendo exatamente na direção que se adapta à inclinação do nosso coração. Assim, em vez de sermos guiados divinamente, estamos enganados. O verdadeiro segredo de ser guiado por Deus é ter nossa própria vontade totalmente subjugada. “Guiará os mansos retamente; e aos mansos ensinará o Seu caminho” (Sl 25:9). E novamente: “Guiar-te-ei com os Meus olhos” (Sl 32:8).

Mas vamos refletir sobre a admoestação: “Não sejais como o cavalo ou a mula, sem entendimento, os quais com freios e cabrestos são dominados; de outra sorte não te obedecem” (Sl 32:9 – ARA). Se nosso semblante estiver voltado para cima para captar o movimento do “olho” divino, não precisaremos de “cabresto e freio”. Mas muitas vezes não vivemos suficientemente perto de Deus para discernir o movimento de Seus olhos; a vontade está em atividade. Assim foi com Jonas. A Providência parecia apontar na direção de sua vontade, mas então ele teve que descobrir seu dever no ventre do grande peixe. Foi lá que ele aprendeu a amargura de seguir sua própria vontade. Ele teve que aprender o verdadeiro significado de “cabresto e freio”, porque ele não seguiu a orientação gentil do “olho”.

Orientação de Deus 

Contudo nosso Deus é tão gracioso, tão paciente! Ele quer ensinar e guiar Seus filhos errantes. Ele Se ocupa continuamente conosco, a fim de que sejamos afastados de nossos próprios caminhos e andemos em Seus caminhos.

Não há nada mais profundamente abençoado do que viver uma vida de dependência habitual de Deus e esperar n’Ele para tudo. Esse é o verdadeiro segredo da paz e nos eleva acima da independência de natureza humana. A alma que pode realmente dizer: “Todas as minhas fontes estão em Ti” (Sl 87:7), é elevada acima de toda a confiança e esperança humanas e expectativas terrenas. Não é que Deus não use a criatura para tratar conosco, mas se não nos apoiarmos n’Ele, mas na criatura, não teremos proveito para nossa alma.

Circunstâncias e coisas secundárias 

Devemos refletir profundamente sobre esta distinção. Muitas vezes, imaginamos estar apoiados em Deus, quando, na realidade, existe uma quantidade espantosa do fermento da autoconfiança. Quantas vezes falamos de viver pela fé e de confiar apenas em Deus, quando, ao mesmo tempo, se apenas olharmos para o fundo do nosso coração, encontraremos lá uma grande medida de dependência das circunstâncias e recorrendo a coisas secundárias.

Cuidemos para que nossos olhos estejam fixos somente no Deus vivo, e não no homem. Vamos esperar n’Ele. Se estamos desorientados em alguma coisa, podemos recorrer a Ele de forma direta e simples. Estamos sem saber o que fazer, para onde devemos ir, que passo devemos dar? Lembremo-nos de que Ele disse: “Eu sou o caminho” (Jo14:6); podemos segui-Lo. Não pode haver trevas, perplexidade ou incerteza, se o seguirmos, pois Ele disse: “Quem me segue não andará em trevas” (Jo 8:12). Nenhuma escuridão pode pousar no caminho bendito ao longo do qual Deus conduz aqueles que, com um olhar simples, procuram seguir Jesus.

Perplexidade e incerteza 

Mas alguns podem dizer: “Estou perplexo quanto ao meu caminho. Eu realmente não sei para que lado seguir ou que passo dar”. Se essa for a nossa situação, podemos nos perguntar: “Estou seguindo a nuvem?” Aqui está a raiz de todo o problema. A perplexidade ou incerteza muitas vezes é fruto da operação da vontade. Oramos sobre isso e não obtemos resposta, porque Deus quer que fiquemos quietos e simplesmente esperemos n’Ele.

Esse é o segredo da paz e elevação calma. Se um israelita no deserto tivesse pensado em fazer algum movimento independente da nuvem, podemos ver facilmente qual teria sido o resultado. E assim será sempre conosco. Se nos movermos quando devemos descansar, ou descansarmos quando devemos nos mover, não teremos a presença divina conosco. É uma realidade a ser conhecida, não uma mera teoria a ser falada. Que possamos provar isso durante toda a nossa jornada!

Things New and Old, Vol. 11 (adaptado)

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