Origem: Revista O Cristão – Arrependimento e Restauração
Arrependimento e o Evangelho
O arrependimento envolve o julgamento moral de nós mesmos sob a ação da Palavra de Deus pelo poder do Espírito Santo. É a descoberta de nossa total pecaminosidade, culpa e ruína, nossa falência sem esperança, nossa condição imperfeita. Ela se expressa nestas palavras brilhantes de Isaías: “Ai de mim, que vou perecendo!”, e naquela comovente expressão de Pedro: “Ausenta-Te de mim, por que sou um homem pecador”. O arrependimento é uma necessidade permanente para o pecador, e quanto mais profundo melhor. É o arado entrando na alma e revirando o solo não cultivado. O arado não é a semente, mas quanto mais profundo o sulco, mais forte é a raiz. Deleitamos-nos em uma profunda obra de arrependimento na alma.
Tememos que haja muito pouco disso no que é chamada obra de reavivamento. Os homens estão tão ansiosos para simplificar o evangelho e facilitar a salvação que eles falham em impor à consciência do pecador as reivindicações de verdade e justiça. Sem dúvida, a salvação é tão livre quanto a graça de Deus pode fazê-la. Além disso, ela é toda de Deus do início ao fim. Deus é sua fonte, Cristo, seu canal e o Espírito Santo, seu poder de aplicação e desfrute.
Deus ordena que os homens se arrependam
Mas nunca devemos esquecer que o homem é um ser responsável – um pecador culpado – chamado imperativamente para se arrepender e voltar-se para Deus. Não é que o arrependimento tenha alguma virtude salvadora nele. Também podemos afirmar que os sentimentos de um homem que está se afogando poderiam salvá-lo do afogamento. A salvação é inteiramente por graça; é do Senhor em todos os seus estágios e em todos os aspectos. Não podemos ser muito enfáticos na afirmação de tudo isso, mas ao mesmo tempo devemos lembrar que nosso bendito Senhor e Seus apóstolos instaram constantemente aos homens, tanto Judeus como gentios, o solene dever de arrependimento (At 17:30).
Sem dúvida há uma grande quantidade de maus ensinamentos sobre o assunto, muita legalidade e nebulosidade, por meio dos quais o bendito evangelho da graça de Deus é tristemente obscurecido. A alma é levada a edificar sobre seus próprios exercícios, em vez de sobre a obra consumada de Cristo – ocupar-se com um certo processo cujas profundezas dependem de seu título para vir a Jesus. Em suma, o arrependimento é visto como uma espécie de boa obra, em vez de ser a dolorosa descoberta de que todas as nossas obras são más e nossa natureza incorrigível. Ainda assim, devemos ser cuidadosos ao guardar a verdade de Deus e, enquanto repudiamos totalmente o falso ensino sobre o importante assunto do arrependimento, não cairmos no pernicioso extremo de negar sua necessidade permanente e universal.
