Origem: Revista O Cristão – Árvores e Videiras

A Árvore da Vida

Na Palavra de Deus, uma árvore pode ser uma figura de algo negativo, mas também daquilo que é positivo. Em um sentido negativo, é um lugar onde o mal pode florescer, escondendo-se entre seus galhos e folhagens, e assim temos a árvore de mostarda (Mt 13:31-32; Lc 13:18-19). Foi “debaixo de toda árvore verde” (e em outros lugares!) que os pagãos colocaram seus ídolos e, segundo a lei mosaica, qualquer homem pendurado “num madeiro” (Dt 21:22-23) era maldito. Mas de uma maneira positiva, ela nos indica aquilo que fornece abrigo e proteção, e também produz frutos. Assim, encontramos Nabucodonosor e o império babilônico comparado a uma grande árvore, descrita a seguir: “A sua folhagem era formosa, e o seu fruto, abundante, e havia nela sustento para todos” (Dn 4:12). Abraão convidou seus convidados a descansarem “debaixo desta árvore” (Gn 18:4), quando eles chegavam no calor do dia. Quando consideramos a árvore da vida, é claro que é com essa aplicação positiva que estamos ocupados.

A árvore da vida é mencionada onze vezes na Palavra de Deus. Além disso, é de notar que é mencionada no início da Bíblia, no seu meio e no final. Encontramos a expressão três vezes no livro de Gênesis (Gn 2:9, 3:22, 24), quatro vezes em Provérbios (Pv 3:18, 11:30, 13:12, 15:4) e quatro vezes no Apocalipse (Ap 2:7, 22:2, 22:14, 22:19).

Soberania de Deus 

Em Gênesis, a árvore da vida é uma das duas árvores destacadas para reconhecimento e instrução especiais no Jardim do Éden. Ambas estavam evidentemente “no meio do jardim”; o homem foi proibido de comer da “árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gn 2:17). A árvore da vida foi mencionada e isso chama a atenção do homem, mas não parece que eles foram proibidos de comer dela. O Livro do Gênesis tem sido chamado de “o canteiro de sementes da Bíblia”, e essas duas árvores são outro exemplo dessa verdade. A árvore da vida traz diante de nós a soberania de Deus e o próprio Cristo, pois todos os propósitos de Deus estão centrados n’Ele. Sem dúvida, é por isso que a árvore da vida é mencionada antes como estando no meio do jardim.

A responsabilidade do homem 

Mas a responsabilidade do homem também aparece, representada pela árvore do conhecimento do bem e do mal. Também estava no meio do Jardim, pois a soberania de Deus e a responsabilidade do homem andam lado a lado, embora sempre distintas. O homem seria testado quanto à responsabilidade, e Deus sabia que ele falharia nisso, mas a entrada do pecado no mundo seria o meio pelo qual Deus revelaria Seu coração de amor, Seu maravilhoso plano de redenção e Sua bênção para o homem – muito mais do que se o pecado nunca tivesse entrado no mundo.

Sabemos que primeiramente Eva e depois Adão comeram do fruto da árvore proibida e perderam não apenas o Jardim do Éden, mas também qualquer direito à árvore da vida. Isso não foi um castigo da parte de Deus, mas sim graça, pois se o homem naquele momento tivesse comido da árvore da vida, ele teria vivido para sempre em seu estado pecaminoso. Não, a graça de Deus tinha algo muito melhor em vista.

Comentários práticos 

Quando chegamos aos Provérbios, encontramos comentários muito práticos sobre a árvore da vida, escrita por Salomão em sua sabedoria dada por Deus, pois Provérbios nos dá sabedoria celestial para um caminho em um mundo cercado pelo pecado. Ao falar em sabedoria, Salomão a personifica, dizendo que ela “é árvore da vida para os que a seguram” (Pv 3:18). Mais de uma vez em Provérbios, a linguagem usada refere-se ao fato de que a sabedoria é, afinal de contas, encontrada apenas no próprio Cristo, e que Cristo é a personificação da sabedoria de Deus. (Isso é especialmente verdadeiro no capítulo 8.) Isso certamente está de acordo com a verdade do Novo Testamento, onde lemos que Cristo é feito para nós “sabedoria, e justiça, e santificação e redenção” (1 Co 1:30).

A segunda referência está em Provérbios 11:30: “O fruto do justo é árvore de vida, e o que ganha almas sábio é”. Embora o evangelho como o conhecemos não tenha sido pregado no Velho Testamento, a graça de Deus alcançou aqueles que O buscavam. Nos dias de Salomão, vemos a rainha de Sabá se achegando para ouvir a sabedoria de Salomão, enquanto muitos de outras nações fizeram o mesmo – veja 1 Rs 4:34. Mas, em última análise, Salomão era apenas uma pobre figura d’Aquele que viria depois dele – o próprio Cristo. Qualquer fruto da demonstração da sabedoria de Salomão e da conquista de almas só poderia apontar para Cristo, que é realmente aquela árvore da vida.

A esperança em Cristo 

A próxima referência está em Provérbios 13:12: “A esperança adiada deixa o coração doente; mas o desejo que é realizado é uma árvore da vida” (JND). Embora Provérbios realmente nos dê sabedoria celestial para uma senda terrenal, ainda assim, no final, tudo o que podemos esperar aqui embaixo – tudo o que acontece – é temporário. Multidões de corações ficaram “doentes” ao longo dos séculos, quando certas esperanças não foram realizadas, mas há uma esperança na qual nunca ficaremos desapontados – a esperança que temos em Cristo. Novamente, essa esperança não era conhecida da mesma maneira no Velho Testamento, mas o Espírito de Deus Se deleita em descrever uma esperança cumprida como uma árvore da vida, pois essa é a única esperança cumprida que durará por toda a eternidade.

Uma língua saudável 

Por fim, lemos: “Uma língua saudável é árvore de vida, mas a perversidade nela quebranta o espírito” (Pv 15:4). A palavra “saudável” também pode ser traduzida como “gentileza”, mostrando-nos a importância de nosso discurso. Isso é reforçado em Tiago, onde lemos que “Se alguém não tropeça em palavra, o tal varão é perfeito e poderoso para também refrear todo o corpo” (Tg 3:2). Embora alguns sejam mais naturalmente dados a conversas pacíficas, ainda somos lembrados em Tiago 3:6 de que “A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade e é inflamada pelo inferno”. Nosso próprio Senhor poderia lembrar Seus ouvintes de que “do que há em abundância no coração, disso fala a boca” (Mt 12:34), e o homem mais refinado naturalmente mostrará “perversidade” em seu discurso, se algo o provocar. Somente em Cristo vemos perfeição absoluta em tudo o que Ele disse, que em algumas ocasiões assumiu a forma de severa repreensão. Mas sempre foi como Paulo nos lembra em Colossenses 4:6, “sempre agradável, temperada com sal”. Tal perfeição foi encontrada apenas n’Aquele que era a árvore da vida.

Ao vencedor 

No final da Bíblia, vemos a árvore da vida em sua perfeição, não agora em uma cena terrenal, mas na celestial. Antes de tudo, a árvore da vida é prometida como recompensa aos vencedores, na carta escrita para a assembleia em Éfeso. A Igreja estava começando a falhar em seu testemunho, e o Senhor podia dizer: “Deixaste o teu primeiro amor” (Ap 2:4). A recompensa por retornar ao Senhor seria simples – o gozo de Cristo como a árvore da vida por toda a eternidade, no paraíso de Deus. O homem havia perdido o Jardim do Éden como um paraíso, mas a obra de Cristo havia aberto um paraíso muito melhor para o homem, e mais do que isso, o gozo do próprio Cristo.

Então, em Apocalipse 22:2, vemos a árvore da vida “de uma e da outra banda do rio” – um rio de bênção associado às ruas da cidade celestial, bem como à árvore da vida. O fruto da árvore da vida surgia mensalmente – fruto agora disponível gratuitamente para aqueles que estavam na cena celestial, enquanto as folhas da árvore eram para a cura das nações na Terra. Quão difundida é a bênção! Mas, mais uma vez, Deus nos lembra da responsabilidade do homem, não como no Jardim do Éden, mas agora para aceitar a Cristo e “lavar suas vestes” (Ap 22:14 – JND). São apenas eles que “terão direito à árvore da vida”, pois o pecado não pode entrar naquele lugar de bênção eterna. Aqueles que não beberam “a água da vida” (v. 17) e cujas vidas ainda são caracterizadas pelo pecado estarão “fora” para sempre.

Acesso à árvore 

Finalmente, um aviso solene é dado, no final da Bíblia, a qualquer um que ousar se afastar da Palavra de Deus, que “vive e permanece para sempre”. Para quem fizer isso, lemos: “Deus tirará a sua parte da árvore da vida e da cidade santa” (Ap 22:19). Aqueles que são meros professos do Cristianismo, mas sem nova vida, terão seus nomes apagados “do livro da vida” (Ap 3:5). Aqui em Apocalipse 22, o resultado final é dado; aqueles que corrompem e tiram a Palavra de Deus perderão qualquer acesso à árvore da vida, o centro de bênçãos para o céu e a Terra por toda a eternidade. Por esse motivo, sai um apelo final, pois no versículo 17, mais uma vez, “quem quiser” é instado a vir e beber a água da vida.

W. J. Prost

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