Origem: Revista O Cristão – Autoridade

A Autoridade da Assembleia

Toda autoridade depende dos direitos soberanos de Deus sobre a Sua criação, e assim a submissão e a obediência é o lugar apropriado para cada indivíduo e cada instituição estar diante de Deus. Deus estabeleceu toda autoridade, incluindo as autoridades no governo, no lar e na assembleia.

Cristo é “Filho, sobre a Sua própria casa”, e a assembleia é responsável por seu comportamento como “a casa de Deus”. Consequentemente, Cristo delegou autoridade à assembleia para tratar, em Seu nome, com o que é inconsistente com o caráter santo da Igreja como Sua representante neste mundo. Conforme declarado em Mateus 18:18, a responsabilidade que foi assim dada à assembleia é imensa: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na Terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na Terra será desligado no céu”.

Em nenhuma outra esfera de autoridade delegada por Deus encontramos uma investidura tão solene e abrangente da autoridade divina como encontramos aqui! Estas palavras (assim como 1 Coríntios 5:4-5 e outras Escrituras) dão à assembleia a autoridade para manter a ordem, para lidar com alguém que peca, por meio da exortação e da repreensão, e em um caso extremo pelo afastamento do malfeitor de seu meio.

O assunto da autoridade da assembleia é grande, e está além do escopo deste artigo entrar em detalhes sobre tudo o que a Escritura nos dá sobre os usos e abusos da autoridade da assembleia, mas os pontos seguintes cobrem alguns princípios importantes relativos a este assunto.

O Senhor no meio 

O próprio Senhor está no meio da assembleia, e Ele está lá para dirigir pelo Seu Espírito, por meio da Sua Palavra. Assim, a assembleia, propriamente falando, não é um corpo judicial, mas sim um lugar onde a vontade do Senhor é buscada e realizada de acordo com a Sua Palavra. É o lugar onde Sua glória deve ser primordial.

A presença do Senhor no meio da assembleia e o fato de ela agir em Seu nome torna o exercício de sua autoridade mais solene. Em vista de Sua presença ali, a assembleia deve exercer sua autoridade de acordo com os princípios de Sua Palavra, na dependência d’Ele, e sempre com referência a Ele.

Agir em nome do Senhor Jesus Cristo é muito importante, pois quando uma expressão local do corpo age em Seu nome, suas ações não são meramente vinculantes naquele lugar, mas em todo lugar – tanto no céu como na Terra – onde a autoridade e a liderança do Senhor são reconhecidas.

O âmbito da autoridade da Assembleia 

Como em toda esfera de autoridade delegada, a assembleia tem uma área de responsabilidade prescrita, e as instruções para cumprir suas responsabilidades são dadas na Palavra de Deus. Deus estabeleceu o escopo de responsabilidade para cada autoridade que Ele estabeleceu de tal maneira que elas não estejam em conflito umas com as outras. Por exemplo, suponha que um jovem, vivendo na casa de seu pai e na mesa do Senhor, roube um banco. Para esse ato, o governo local, o pai e a assembleia, cada um de acordo com sua respectiva área de responsabilidade dada por Deus, terão que lidar com aquele jovem em disciplina ou punição, mas nenhum pode tomar o lugar de interferir com a responsabilidade das outras autoridades envolvidas.

Quando a assembleia age dentro da esfera que a Palavra de Deus lhe atribui e sobre aqueles que estão “dentro” de sua esfera, deve haver submissão a ela, como para o próprio Senhor. Como com toda autoridade dada ao homem, ela não é infalível. Sua autoridade pode ser abusada, erros podem ser cometidos e a carne pode entrar em suas ações, mas Deus nunca anula Sua autoridade delegada simplesmente por causa disso. Como dito acima, a Palavra em Mateus 18:18 dá à assembleia sua autoridade, e somente a Palavra pode tirá-la. É claro que, se a Palavra de Deus foi violada, então Sua Palavra deve ser mantida, pois Deus nunca permite um indivíduo ou a autoridade da assembleia colocar de lado Sua Palavra. Embora esteja além do escopo deste artigo considerar esse aspecto do assunto, é importante notar que Deus, em Seus caminhos governamentais, pode remover uma autoridade que Ele estabeleceu. Ele pode remover uma pessoa em um lugar de autoridade. Ele pode remover uma assembleia ou transferir autoridade de um poder para outro, como fez ao colocar o governo nas mãos de Nabucodonosor.

Autoridade e poder 

Deus formou diferentes relacionamentos de autoridade e submissão, tais como homem–animais, marido–esposa, pais–filhos, governo–homem e Cristo–Igreja. Para cada relacionamento, Deus estabeleceu os deveres e responsabilidades que devem governar esses relacionamentos. Por “autoridade” queremos dizer que esses relacionamentos, deveres e responsabilidades não são voluntários, mas são ordenados por Deus. Nesses relacionamentos, há a responsabilidade de comando ou governo e uma responsabilidade correspondente de submissão e obediência.

Em vista da carne naqueles sob autoridade, Deus deu “poder” àqueles em autoridade para cumprir suas responsabilidades. Deus entregou a espada nas mãos do governo para respaldar sua autoridade, enquanto aos pais Ele deu a vara. Da mesma forma, um mestre tem pelo menos o poder legal para impor sua autoridade. No entanto, o poder da assembleia é diferente do de outras autoridades. O poder da assembleia em ação coletiva é “o poder do Senhor Jesus Cristo”, sua Cabeça, que age pelo Espírito Santo de acordo com a Palavra.

Enquanto em todo relacionamento aquele que tem autoridade sobre outros pode falhar, devido à ignorância, falta de dependência de Deus ou atividade carnal nele, Cristo, a Cabeça da assembleia, nunca falha. Sua direção é sempre perfeita e de acordo com a mente e a vontade de Deus. Se a assembleia falhar, é sempre sua própria falha em seguir a direção da Cabeça, que lidera e age por meio do Espírito.

Hoje a assembleia alcançou um estado de tamanha desordem e confusão que, como um todo, não mantém mais a “unidade do Espírito” no “vinculo da paz”. Como resultado, existem dentro da casa muitos “vasos de desonra”, e, também, há muitos que se recusam a se separar de tais vasos. Enquanto o todo está em um estado de ruína exterior e uma desonra coletiva ao nome do Senhor Jesus Cristo, Deus não deixou de lado a autoridade de até mesmo “dois ou três” reunidos em Seu nome agindo em obediência à Palavra concernente à responsabilidade de assembleia. A promessa de que o próprio Senhor estará no meio deles ainda é válida, e decisões “de ligar ou desligar” ainda podem ser tomadas em Seu nome.

Obediência e consciência 

A assembleia hoje deve obedecer a vontade de Deus comunicada a ela pela Palavra, e Sua vontade é dada especialmente pela doutrina dos apóstolos. Uma ação de assembleia é um ato de obediência à vontade de sua Cabeça, comunicada pela Palavra de Deus. É ter o caráter da obediência do Cristo – aquela obediência na qual a vontade de Deus é tudo e a vontade do homem não é nada.

Em sua operação normal, quando a obediência do Cristo está operando na alma (isto é, quando a vontade própria e a carne não estão ativas), então o Espírito Santo toma a Palavra de Deus e dá a cada indivíduo Sua mente, Sua vontade, Seu coração em determinado assunto. Isso age sobre o espírito, o coração e a consciência como uma palavra vinda do Senhor.

O caso do malfeitor em Corinto nos fornece instruções divinas sobre como a assembleia deve lidar com o mal em seu meio e como Deus trabalha para exercitar a consciência de cada um e fazer com que a assembleia aja em obediência. Quando Paulo escreveu pela primeira vez, os santos estavam ambos em um estado precário e ignorantes da mente de Deus. Paulo teve primeiro de repreendê-los sobre o mal no meio deles, dizendo: “Estais inchados e nem ao menos vos entristecestes”. Por uma palavra vinda do Senhor, ele ilumina suas consciências obscurecidas com a verdade de Deus.

Deus comunicou a Paulo o que a assembleia deve fazer em nome do Senhor e por Seu poder. Em obediência à Cabeça, eles deveriam retirar do meio deles aquela pessoa má. Como apóstolo, Paulo tinha autoridade e poder para “entregá-lo a Satanás”, mas ele sozinho não faria isso, pois a assembleia deve provar-se estar pura “neste assunto” por cada um ter sua consciência exercida pelo mal que estava no meio deles. Eles se purificam do mal agindo em obediência à Palavra do Cabeça dada ao apóstolo Paulo, e cada um se arrependendo – o malfeitor também. Quando a “massa” (o corpo em geral) assim o fez, ela retornaria praticamente ao seu estado correto como uma massa sem fermento.

Tirar o homem perverso do meio deles era um ato de obediência. Se o ato estava de acordo com a Palavra de Deus, o Espírito de Deus agiria sobre cada coração e consciência para se submeter e apoiar a vontade de Deus. Não é suposto quando o mal está presente que toda consciência responderia apropriadamente, pois a ação de uma consciência não pode ser separada do estado de uma alma. A princípio, as consciências de Corinto eram ignorantes. Então eles foram iluminados. Como mostrado por suas ações, o malfeitor não estava em comunhão com Deus – ele estava em um estado ruim de consciência. Além de ter uma má consciência, qualquer trabalho da vontade da carne em um santo leva à falta de vontade de se submeter à vontade do Senhor.

Liderança 

O apóstolo Paulo é um padrão para nós de liderança na assembleia. Ele ilustra como alguém em uma posição de autoridade ou liderança deve agir quando os membros da assembleia não estão em um estado apropriado. Ele não apenas aplica a verdade a eles, mas também a sua própria caminhada está em conformidade com a verdade e recomenda esta verdade “à consciência de todo homem, na presença de Deus” (2 Co 4:2). Ele os conduz, pelo exemplo moral, ao caminho da obediência à vontade de Deus.

O apóstolo Paulo também deu um exemplo correto no modo como ele usou a Palavra de Deus para trazer a consciência dos coríntios na mesma mente do Senhor e, ao mesmo tempo, reconhecer a autoridade do Senhor sobre eles. Ele escreveu aos Coríntios: “E a quem perdoardes alguma coisa também eu; porque o que eu também perdoei, se é que tenho perdoado, por amor de vós o fiz na presença de Cristo” (2 Co 2:10). Ele não usou sua própria vontade ou mesmo seu direito como apóstolo para governar suas consciências.

Por outro lado, quando alguém lidera com um espírito carnal, ele atrapalha muito a obra do Espírito de Deus. Embora não deixe de lado a responsabilidade da obediência à Cabeça, a ação da carne em alguém tende a agitar a carne nos outros, e o resultado pode ser confusão, discórdia e até mesmo divisão.

O julgamento próprio vem primeiro 

A Escritura nos exorta: “Por humildade, cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Fp 2:3). É da maior importância que todos nós nos lembremos disso, pois somos rápidos em encontrar falhas nos outros e tardios em reconhecer falhas em nós mesmos. Vamos, em primeiro lugar, sondar nosso próprio coração e caminhos para ver nossas próprias falhas. Se formos honestos diante de Deus e estivermos dispostos a entrar em Sua presença, Ele nos mostrará, em primeiro lugar, a verdade sobre nós mesmos e, então, nos permitirá ver claramente com respeito aos outros. Somente quando estamos bem com o Senhor, podemos fazer um julgamento correto em relação ao outro. Finalmente, lembremo-nos de que a verdadeira escravidão é estar sendo escravizado por nossa própria vontade, enquanto a verdadeira liberdade consiste em ter nossa própria vontade inteiramente colocada de lado.

Adaptado dos escritos de vários autores

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