Origem: Revista O Cristão – Batalha Cristã
Abigail – Graça para o Conflito
É necessário que a alma seja estabelecida na graça para ter comunhão prática com a mente de Deus, enquanto o conflito permanece entre a carne e o Espírito. Satanás procura esconder a simplicidade dessa graça.
Lemos do apóstolo Paulo dizendo: “Mas pela graça de Deus sou o que sou; e a Sua graça para comigo não foi vã, antes trabalhei muito mais do que todos eles; todavia não eu, mas a graça de Deus, que está comigo” (1 Co 15:10). O Senhor deseja que O sirvamos abundantemente em meio ao mundo de Satanás – tendo, talvez, que batalhar não apenas com o mal em nós mesmos, mas com o mal nos outros. Nada além de Sua graça pode nos capacitar a fazer isso; é tanto a “graça de Deus” que nos deu para servir e a “graça de Deus” que fortalece o serviço, quanto foi a “graça de Deus” que nos salvou no princípio.
Davi
Davi era como muitos de nós quando algo surge inesperadamente; ele não estava preparado para enfrentar com firmeza de graça aquilo que Deus permitiu em seu caminho. Sem dúvida, ele considerou a afronta e desonra feita por Nabal “a mais desnecessária”, “a mais injusta”. Mas ele foi despertado de maneira errada. Quantas vezes isso acontece com os santos de Deus! Eles se detêm nas circunstâncias, em vez de se voltarem de suas circunstâncias para Deus e depois agirem nelas de acordo com Ele. Eles dizem: Que cruel! Que injusto! Assim, o lugar da graça é perdido. Dia após dia, mil coisas agem sobre nosso espírito de uma maneira ou de outra, calculadas para produzir efeitos tentadores e dolorosos. Agora, se estes forem enfrentados em comunhão com Deus, eles proporcionam uma ocasião para produzir frutos abençoados, mas se não, nós mesmos nos contaminamos e temos que confessar o pecado, de modo que, em vez de, como diz o hino, “Satanás tremendo e fugindo de nós em todos os conflitos”, ele muitas vezes ganha vantagem sobre nós. É uma coisa bendita poder louvar a Deus por nos ter capacitado a triunfar e a vencer de maneira prática, e isso devemos procurar alcançar. O apóstolo Paulo poderia dizer: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” e “em nada tenho a minha vida por preciosa”. Sempre podemos louvar a Deus pelo que Ele é em Si Mesmo e pelo que Ele fez de nós em Cristo, mas também podemos louvá-Lo por nossa própria vitória prática sobre Satanás e sobre o mundo.
Ao considerarmos Davi, vemos que ele estava em perigo, não apenas de não vencer, mas de ser vencido e cair em profundo pecado. Ele não agiu como o servo de Deus, suportando com mansidão as provocações de Nabal e sua afiada provocação. Davi agiu no espírito de seu orgulho ferido.
Abigail
Havia uma, no entanto, na casa de Nabal, de caráter completamente diferente do de Nabal; alguém que pertencia ao Senhor – uma mulher de fé. Abigail foi capaz de discernir em Davi, apesar de ser um enjeitado e andarilho necessitado, o ungido do Deus de Israel. Ela o viu como aquele a quem Deus estava prestes a trazer à grandeza, como o chefe escolhido de Seu povo. Abigail foi capaz de olhar o caminho de Davi com os olhos da fé e ver a hora de sua glória. Ora, isso mostra que sua alma foi profundamente ensinada por Deus.
Abigail, em seu lugar de sereno retiro, estava muito mais em comunhão com a verdade do que Davi. Ela foi capaz de conter o sentimento errado até mesmo do homem de fé. Enquanto Davi estava perdido, por assim dizer, na névoa de seus próprios pensamentos, Abigail trouxe a clara luz da verdade para influenciar suas ações. E Davi reconheceu e agradeceu a Deus por Seu conselho. “Bendito o SENHOR Deus de Israel, que hoje te enviou ao meu encontro. E bendito o teu conselho, e bendita tu, que hoje me impediste de derramar sangue, e de vingar-me pela minha própria mão” (1 Sm 25:32‑33). Estas foram as palavras de Davi, quando consciente do pecado em que seu orgulho o colocara.
Intercessão
Observe o ensino de Deus; Abigail tomou o lugar bem-aventurado de intercessão. Davi, em sua ira, estava prestes a dar o golpe, a se vingar com sua própria mão, em vez de deixar o caso na mão de Deus. Ora, isso teria eliminado uma das características mais abençoadas do caráter de Davi – deixar todas as coisas para Deus. Nas palavras de Abigail, vemos o forte poder da fé. Ela disse: “a vida de meu senhor será atada no feixe dos que vivem com o SENHOR teu Deus; porém a vida de teus inimigos Ele arrojará ao longe, como do meio do côncavo de uma funda. E há de ser que, usando o SENHOR com o meu senhor conforme a todo o bem que já tem falado de ti, e te houver estabelecido príncipe sobre Israel, então, meu senhor, não te será por tropeço, nem por pesar no coração, o sangue que sem causa derramaste, nem tampouco por ter se vingado o meu senhor a si mesmo; e quando o SENHOR fizer bem a meu senhor, lembra-te então da tua serva” (1 Sm 29‑31).
Se Davi tivesse olhado adiante para o tempo de sua glória, nunca teria pensado em levantar a mão para desferir o golpe. O lugar da fé é sempre olhar além das circunstâncias presentes, para o tempo do fim; então começamos a ver e julgar as coisas de acordo com Deus. Assim foi com Abigail. E quando percebermos nossa associação com Deus e o fim designado de glória, agiremos como ela fez. Nas coisas mais difíceis que acontecem conosco, se pela fé nos associarmos a Deus, se podemos vê-Lo conosco como nosso Amigo, Aquele que disse: “Minha é a vingança; Eu recompensarei”, nunca nos sentiremos dispostos a nos vingar ou pensar em qualquer coisa, a não ser a intercessão, no que diz respeito àqueles que podem ter nos entristecido e prejudicado. As ações atuais de Deus são em graça e misericórdia. Devemos procurar abater, subjugar e amolecer. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:21). Nada é mais adequado agora do que tomar o lugar da graça e desejar submeter ao seu poder tudo o que nos atinge individualmente.
The Christian Friend (adaptado)
