Origem: Revista O Cristão – Batalha Cristã
Lições de Derrota
A derrota na batalha Cristã é frequentemente o resultado da falta de cuidado na hora do sucesso. Em Josué 7, considerações práticas essenciais à batalha Cristã se abrem para nós. A conduta de Israel diante de Jericó ensina qual deve ser o comportamento dos soldados de Jesus Cristo no mundo, enquanto as lições de Ai mostram, com muita frequência, o que é o conflito Cristão na sua prática. Antes da vitória, entre o povo de Deus, existe invariavelmente dependência a Deus e seguimento da Sua Palavra, em oração. Mas nosso coração é tal que, na própria vitória que Deus nos dá, estamos aptos a começar a confiar no “eu”. Essa falta de cuidado na hora do sucesso leva a derrotas.
A derrota em Ai
Na narrativa divina dos acontecimentos antes de Ai, Deus aponta o mal oculto no meio de Israel muito antes que eles descobrissem sua presença. Se eles estivessem andando humildemente, teriam procurado a Deus antes da batalha, e Ele teria indicado que o mal estava entre eles. Mas o orgulho deles impedia a dependência a Deus. Nenhum mal pode ser escondido em nosso coração ou entre uma companhia do povo de Deus, sem que Ele tenha conhecimento disso. Nenhum engano, nenhuma mentira, é compatível com a presença de Deus ou com a direção do Espírito Santo, e se não sentimos o mal entre nós, não estamos em comunhão com Deus. Na ausência desse piedoso estado de alma, Deus permite que o mal se desenvolva, pois Ele nunca altera Seus princípios de governo por causa de Sua graça. Finalmente, em sua miséria, Seu povo acaba sendo tão humilhado que é forçado a se humilhar. Então, mais uma vez, o espírito vigilante e de oração é encontrado, e Deus novamente permite a vitória.
Israel olhou para Ai como desprezível e foi em frente, sem saber que o pecado deles os havia separado de Deus. Na derrota, a coragem deles, construída sobre a confiança própria, desabou completamente: “e o coração do povo se derreteu e se tornou como água”.
Desespero na derrota
A confiança própria na batalha leva ao desespero após a derrota, enquanto aqueles que recorrem aos recursos divinos se fortalecem em Deus no dia da angústia. A adversidade e a angústia nas coisas naturais revelam a verdadeira grandeza moral nos homens; assim também, nas coisas divinas, o verdadeiro grande espírito se manifesta quando tudo parece ser contrário. Davi, em sua hora sombria, encorajou-se no Senhor, seu Deus. Josué parece quase culpar a Deus pela derrota, pois geralmente o último lugar em que tendemos a procurar a causa de nossa derrota é o estado de nossa própria alma.
Quando Josué chegou ao ponto mais profundo de sua lamentação, ele se dirigiu ao nome de Jeová, dizendo: “que farás ao Teu grande nome?” Essa pergunta suscitou a resposta de Jeová sobre a causa do problema de Israel. Aparentemente, a derrota negou a grandeza do nome de seu Deus, mas para o entendimento espiritual, a verdade evidente é que a honra do nome do Senhor exige pureza em Seu povo.
O espírito que se irrita com a derrota não reconhecerá a causa da derrota – “Israel pecou”. Deus permite que os amorreus, contra os quais lutamos, nos firam quando brincamos com o pecado, e assim Ele permite que Satanás peneire Seus santos. Se o mal e o orgulho é permitido entre o povo de Deus, não precisamos nos surpreender que, ao lutar com a iniquidade espiritual nos lugares celestiais, Satanás se torne a espada de Deus contra o seu próprio povo.
Responsabilidade coletiva
A responsabilidade coletiva da nação é mostrada aqui de maneira inconfundível. Da mesma forma, a responsabilidade coletiva Cristã não pode ser ignorada, pois não somos unidades isoladas no exército de Deus. Os atos de um afetam os outros. Em Acã, eles não apenas pecaram; eles transgrediram um claro mandamento. Acã era um príncipe em Israel, e é frequentemente por meio dos líderes, e não por meio das fileiras do exército de Deus, que pecado e tristeza são introduzidos. Ele cobiçou as vestes de Sinar, a prata e a barra de ouro, e as escondeu em sua tenda; assim foram encontradas no meio de Israel exatamente as coisas que Deus havia ordenado que não fossem tocadas.
Anseios pela boa capa babilônica, depois da glorificação própria e, assim, roubando a Deus a Sua glória, são muito comuns. Muitos soldados do Senhor no céu têm essas coisas enterradas em suas tendas, mas Deus nos vê como realmente somos. Quanto mais um Cristão professa sua santidade e separação de Deus, mais se impõe sobre ele a exigência de Deus por uma semelhança prática com Jesus, nosso Senhor. Se reconhecermos nossas bênçãos nos lugares celestiais em Cristo e se afirmarmos que estamos mortos e ressuscitados com Cristo quanto ao mundo, tanto mais terrível será o dia da nossa colheita, se fizermos exatamente as coisas que nossas doutrinas negam. Deus agiu de maneira semelhante nos primeiros dias do Cristianismo, trazendo à luz o pecado secreto de Ananias e Safira.
Santificai-vos
Nas lições solenes a serem colhidas nesta cena, que não negligenciemos estas palavras do Senhor ao Israel derrotado: “Santificai-vos”. Suas próprias mãos deveriam expulsar o pecado do meio deles, antes que pudessem novamente empunhar a espada. A expulsão do mal era a única maneira pela qual Deus estaria novamente entre eles. A maioria dos Cristãos que viveu até a meia-idade viu homens, antes valentes para Deus e usados por Ele, jazendo sob Sua mão severa de governo, sem uso e deserdado, porque não deram ouvidos à Sua Palavra: “Santificai-vos”.
Em sua energia, “Josué se levantou de madrugada, e fez chegar a Israel”, e o transgressor foi manifestado no devido tempo. Onde os homens são honestos em seu desejo de se purificar da iniquidade, Deus lhes dará capacidade de descobrir o pecado e, mais do que isso, a força da presença de Deus faz com que o homem confesse o pecado. Se a raiz não for descoberta, a razão é que Deus está retendo Sua mão por causa do estado carnal de Seu povo. É impossível estar diante de Deus e não ser absolutamente verdadeiro. Onde os santos de Deus estão verdadeiramente diante de Seu rosto, males ocultos entre o povo de Deus são expostos, confessados e lançados fora.
Assim como todo o Israel se envolveu na desonra feita a Jeová por meio de Acã, assim todo o Israel se uniu para purificar o arraial. Então lemos: “pelo que aquele lugar se chama o vale de Acor (tristeza), até ao dia de hoje” (Js 7:26). Mas esse mesmo vale é mencionado em Oséias 2:15: “E lhe darei as suas vinhas dali, e o vale de Acor, por porta de esperança”, e o vale de Acor é ainda a porta de esperança para o povo de Deus. Através desse vale, onde fica o testemunho da iniquidade e a lembrança da nossa vergonha, permanece até hoje o caminho da bênção. Chorar sobre nosso orgulho e afastar de nós nossos pecados sempre levam a vitórias renovadas. “Se confessarmos os nossos pecados, Ele é Fiel e Justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1:9).
