Origem: Revista O Cristão – Simão Pedro

“Bem-aventurado és tu, Simão” – “Para trás de mim, Satanás”

As duas partes deste título se destacam no contraste mais nítido possível, embora tenham sido faladas ao mesmo homem pelo mesmo Orador – o Senhor Jesus Cristo – e sejam encontradas apenas a seis versículos de distância em Mateus 16.

“Bem-aventurado és tu, Simão” 

Simão Pedro foi declarado “bem-aventurado” depois de ter expressado a maravilhosa verdade sobre a Pessoa do Senhor Jesus. O mundo em geral e até o povo Judeu privilegiado não entendia Quem Ele era. “Ele estava no mundo e o mundo não O conheceu. Veio para o que era seu, e os Seus não O receberam”. Mas havia um pequeno grupo ligado a Ele – atraído por Sua Pessoa – embora mesmo para eles fosse apenas pela revelação do Pai que eles podiam ver Quem era Aquele glorioso.

A multidão especulava sobre Quem Ele era – um Jeremias, um Elias, um João Batista ou um dos profetas. Quando o Senhor perguntou aos discípulos Quem Ele era, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”, pelo que o Senhor o chama de “bem-aventurado”, pois ele teve o privilégio de receber essa revelação do Pai.

Feliz Pedro! Felizes discípulos! Serem capazes, pela fé, de ver no humilde Jesus, o Cristo – o Ungido de Deus – o Filho do Deus vivo (v. 16). Oh, que nosso coração possa absorver mais de Sua beleza, de Sua glória! Ele preencherá o alcance de nossa ampliada visão no céu; que Ele Se torne cada vez mais precioso para nós aqui – aqui onde Ele ainda é desprezado e onde os homens restringem Sua glória à de um mero homem – um dos profetas.

“Para trás de Mim, Satanás” 

Quando chegamos ao versículo 21, o Senhor “começou a mostrar aos Seus discípulos que convinha padecer muito e ser morto”. Isso foi realmente um golpe para eles; eles viram n’Ele o Filho de Deus e o Rei de Deus, mas demoraram a entender Seus sofrimentos e morte. Eles esperavam que Ele tomasse o reino e reinasse, mas antes disso Ele deveria sofrer. Os sofrimentos devem preceder a glória; a cruz deve vir antes da coroa. Era natural que eles recuassem diante da rejeição e do sofrimento por seu Senhor e Mestre, pois, se Ele fosse rejeitado e sofresse neste mundo, eles deveriam receber o mesmo: “não é o discípulo mais do que o mestre, nem é o servo mais do que o seu senhor”.

Tais pensamentos provocaram Pedro a ousar repreender o Senhor e dizer, como diz em uma tradução: “Seja favorável a Ti, Senhor; de modo nenhum isso Te acontecerá (v. 22 – JND). Bendito Senhor! Ele conhecia a fonte de tais pensamentos; Satanás tinha procurado a Ele antes, no deserto, para afastá-Lo do caminho da dependência e obediência como Homem; agora ele estava usando um dos principais apóstolos para induzir o Senhor a evitar o caminho da reprovação e do sofrimento. O Senhor reconheceu instantaneamente nas palavras de Pedro outro esforço de Satanás e prontamente disse a Pedro: “Para trás de Mim, Satanás, que Me serves de escândalo; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens” (v. 23).

Pobre Pedro – pouco antes ele havia sido chamado de “bem-aventurado”, agora é repreendido como sendo o instrumento nas mãos de Satanás. Antes foi o receptor da revelação divina quanto ao Filho; agora é o porta-voz do inimigo. Tal é o homem; não se pode confiar nele. É natural para o coração humano recuar diante da reprovação e do sofrimento, e também buscar honra neste mundo. Quão facilmente a mente de Pedro se ocupava nas coisas dos homens.

E nós, que temos maior luz do que Pedro tinha naquela época, somos tão facilmente influenciados pelas coisas dos homens que nos esquivamos de um pouco de reprovação por Cristo e buscamos parte da honra ou favor deste mundo. Nós às vezes cantamos:

“Adeus, adeus, pobre mundo infiel
Com todo o teu vangloriado tesouro;
Não queremos ter alegria onde Ele teve dor —
Ser ricos onde Ele foi pobre.”

E com que facilidade nos afastamos das expressões de nossos lábios! Às vezes, podemos ser como Pedro, quando ele desfrutou da revelação divina, e nos regozijamos em Cristo Jesus, nosso Senhor, e outras vezes podemos estar profundamente interessados pelas “coisas que são dos homens”.

Mau conselho 

Mais triste ainda! Podemos falar das glórias do Filho de Deus e encorajar outras pessoas em um momento, e em outro, se não estivermos na corrente dos pensamentos de Deus, dar conselhos aos companheiros seguidores de um Cristo rejeitado que serão os conselhos do próprio Satanás. Quão facilmente somos influenciados pelas “coisas que são dos homens” e podemos ser, por ato ou palavra, o instrumento do mal convencendo um jovem Cristão (ou mais velho) a buscar ganho, posição, honra mundanos ou aplausos do próprio mundo para o qual Cristo morreu; e morreu para nos libertar dele. Que tenhamos mais cuidado em nosso pensamento, para que não seja da filosofia deste mundo – “as coisas que são dos homens” (Mc 8:33) – e que possamos estar atentos contra dar o conselho de Satanás a um seguidor de um Cristo rejeitado.

Por outro lado, que sejamos cuidadosos ao receber tais conselhos. Que “as coisas que são de Deus” influenciem tanto nosso pensamento que, quando recebemos conselhos para buscar progresso, popularidade, riqueza, posição ou algo assim no mundo, possamos discernir a voz do inimigo. Isso não deve ser interpretado como se um empregado não pudesse aceitar uma posição melhor em seu trabalho, mas, mesmo ao fazer isso, deve primeiro buscar a orientação do Senhor e ponderar as consequências. Pode ser perguntado se poderá cumprir os deveres dessa melhor posição “de todo o coração como ao Senhor” – se haveria certas exigências que ele não poderia cumprir com uma boa consciência. Quanto mais alto subimos no mundo, mais nos aproximamos do seu príncipe. Muitos que seguiam felizes com o Senhor quando em posições mais humildes foram apanhados pelo turbilhão do mundo quando atingiram posições mais altas, para desonra do Senhor e seu prejuízo próprio. Somos responsáveis por nossa conduta e devemos vigiar contra a influência do mundo, mesmo que ela possa vir dos lábios de quem, em outro momento, pode ter emocionado nosso coração ao falar das coisas celestiais e das glórias do Filho de Deus.

O Senhor segue Sua palavra a Pedro com uma palavra a todos os discípulos: “Então disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me. Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á” (Mt 16:24-25).

P. Wilson

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