Origem: Revista O Cristão – Juventude
Bem Desenvolvidos na Sua Mocidade
No Salmo 144:12, encontramos uma expressão um tanto singular: “Para que nossos filhos sejam, como plantas, bem desenvolvidos na sua mocidade”. No contexto em que a frase ocorre nas Escrituras, é uma antecipação das bênçãos milenares para Israel, e o versículo expressa um desejo de rapazes e moças mostrarem um caráter de acordo com a glória daquele dia. Mas como alguém pode ser bem desenvolvido na juventude?
Nas coisas naturais, aqueles que são familiarizados com plantas sabem que é impossível fazer com que elas cresçam, em qualquer tempo, de modo a fazer com que elas apresentem qualquer aspecto a não ser seu próprio estágio de maturidade. O pé de trigo com seus grãos ainda imaturos não pode “fingir” e mostrar um trigo já maduro. Uma abóbora ou videira, enquanto ainda está em flor, não pode mostrar um fruto já desenvolvido. Mas para a raça humana, sabemos que é possível para aqueles que são jovens demonstrar um caráter e comportamento que estão muito além de sua idade, e talvez assumir posições que não se encaixam com sua idade. Estamos nos referindo a crianças e jovens que são precoces, e podemos até mesmo dizer que são pretensiosos, impetuosos e que tem um excesso de confiança. Podemos perguntar: é isso que significa “desenvolver” em nossa mocidade?
Linda em sua estação
Não, pois assumir um ar que não é adequado para a nossa idade e maturidade natural nunca é algo correto diante de Deus. Tudo nas coisas divinas é belo apenas em sua estação. Vemos isso exemplificado na vida de nosso bendito Senhor. Quando Ele foi ao templo com seus pais quando tinha doze anos e se sentou entre os doutores da lei, está registrado que Ele estava “ouvindo-os e interrogando-os” (Lc 2:46). Ele certamente sabia muito mais do que todos eles, mas Sua conduta estava de acordo com a de um garoto de doze anos. Ele era (e falamos com reverência) “desenvolvido” em Sua juventude, pois quando Seus pais perguntaram a Ele sobre isso, sua resposta foi: “Não sabeis que Me convém tratar dos negócios de Meu Pai?” Enquanto estava sujeito aos Seus pais terrenos, Ele percebeu que Seu Pai, que O havia enviado a este mundo, tinha trabalhado para Ele fazer isso que estava fora das Suas obrigações para com José e Maria.
Da mesma forma, na vida dos jovens crentes neste mundo, às vezes vemos comportamentos que não são precoces ou fora do lugar, mas mostram um caráter de maturidade e entendimento que está além do que normalmente esperamos de alguém daquela idade. Talvez duas anedotas da história sirvam para ilustrar isso.
Duas anedotas
No século XVI, um homem chamado Robert morava na França. Ele era Huguenote – alguém que conhecia e amava o evangelho e viajou extensivamente para o tornar conhecido por outras pessoas. Ele tinha uma esposa e uma filha chamada Arlette, e quando sua esposa ficou doente e foi para o Senhor, sua filha, talvez com dez anos de idade, foi obrigada a viajar com ele. Robert e seus companheiros levaram a vida de andarilhos e muitas vezes “não tinham pousada certa”. Uma noite, eles se refugiaram em uma velha cabana na floresta e se aventuraram a acender uma fogueira para se aquecer. Mas a fumaça da chaminé foi detectada por seus inimigos, e todos foram presos e levados a julgamento como hereges. Como era habitual naqueles dias, todos os adultos foram condenados a serem queimados publicamente na estaca, e a sentença foi executada alguns dias depois. A pequena Arlette foi poupada, mas estava presente quando o pai e os outros homens foram levados para fora, amarrados à estaca e o fogo foi aceso. Quando as chamas se levantaram, os sentimentos divinos de Arlette a venceram. Enquanto viajava com o pai e outras pessoas, muitas vezes as ouvia falar da perspectiva de martírio. Agora estava prestes a acontecer. Soltando-se daqueles com quem estava, correu para as chamas, apoiou-se corajosamente ao pai e desistiu da vida com ele.
Quando a Reforma ocorreu na Inglaterra, o evangelho foi pregado, e houve uma verdadeira virada para o Senhor por muitos. Mas quando a rainha Mary I subiu ao trono em 1553, ela tentou, durante seu reinado de cinco anos, restaurar a autoridade do papa e fazer a Inglaterra voltar ao catolicismo romano. Um jovem chamado William Hunter, que morava em Brentwood, Essex, foi pego um dia lendo sua Bíblia e foi preso. Ele foi interrogado várias vezes e passou nove meses em uma prisão sombria, com apenas um pouco de pão e água para sustentá-lo. Seu carcereiro foi instruído a colocar sobre ele “o maior número possível de grilhões de ferro que ele pudesse suportar”. Finalmente, depois de não ter abandonado a verdade do evangelho e sua fé em Cristo, ele foi levado para ser queimado em março de 1555. Ele permaneceu firme até o fim e alegremente desistiu de sua vida aos dezenove anos.
A seriedade da vida
Ambos estavam “desenvolvidos em sua mocidade”, não porque estavam tentando falar e agir além de sua idade, mas porque perceberam a seriedade da vida e a realidade das preciosas verdades do Cristianismo. Sua fidelidade pode muito bem servir de exemplo para todos os jovens. Nem todos podemos ser chamados a morrer por Cristo, em um sentido, pois o Senhor permite que alguns vivam suas vidas e O sirvam neste mundo. Mas, em outro sentido, cada um de nós é chamado a morrer para nossos próprios pensamentos e ambições e viver para a glória de Deus.
A coroa da vida é mencionada duas vezes nas Escrituras: uma vez em Apocalipse 2:10 e também em Tiago 1:12. No Apocalipse, é a coroa dada aos que renunciam a vida por Cristo, pois a promessa é: “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. Mas em Tiago lemos: “Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”. Alguns receberão essa coroa por morrer como mártires, enquanto outros a receberão por resistir às constantes tentações deste mundo, talvez por toda a vida.
Discipulado
O Senhor Jesus lembrou a Seus discípulos: “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz e siga-Me, porque aquele que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de Mim achá-la-á” (Mt 16:24-25). Nos dias em que essas palavras foram ditas, qualquer homem que fosse visto tomando sua cruz iria morrer. Era a penalidade máxima por um crime; os romanos faziam a vítima carregar nas costas a mesma cruz em que seria crucificado em breve. Se somos chamados a morrer como mártires (e muitos neste mundo hoje estão sofrendo o martírio por Cristo) ou se somos autorizados a viver por Cristo, o custo do discipulado é o mesmo; devemos estar dispostos a abandonar tudo por Ele. Os termos não são negociáveis; se deixamos de fazer isso, o Senhor diz: “Qualquer que não levar a sua cruz e não vier após Mim não pode ser Meu discípulo” (Lc 14:27). Alguns falharam nisso e, arrependendo-se mais tarde na vida, ousadamente assumiram a cruz. Mas quão melhor é levar a cruz na juventude, custe o que custar! É então que nossas ambições e energia estão no auge; é nesse momento que uma decisão de viver para Cristo pode dar o tom para o resto de nossas vidas.