Origem: Revista O Cristão – As Semelhanças do Reino, Parte 2

“Cada Uma das Portas Era de Uma Só Pérola”

Com relação à Jerusalém celestial, não é a justiça mantida em poder, mas a graça é que será sua característica. Não há nada mais instrutivo do que tomar o que deve ser o caráter da Jerusalém celestial e compará-lo com o da Igreja agora. Devemos estar agora antecipando o que nos tornaremos realmente no dia em que o Senhor nos der glória. Nada que contaminasse entraria naquela cidade celestial: As folhas das árvores eram para a cura das nações. Este deve ser o caráter da Igreja agora – pureza, amor e graça para com o mundo. Nosso lugar é trazer agora aqui abaixo o caráter da graça que será manifestado em glória. Não vemos na Jerusalém celestial a segurança da justiça se manifestando em poder contra os outros, mas em graça. O Paraíso no Jardim do Éden não conhecia a graça; homem inocente poderia viver nele, mas não havia árvore da vida lá para aqueles que falharam. Na Nova Jerusalém, lemos que “a praça [rua – TB] da cidade era de ouro puro”. Ouro é aquilo do qual o propiciatório e o cinto foram feitos. A justiça é o próprio local de caminhada dos santos lá. Em vez de nos contaminar, como o mundo faz agora, e fazer com que nossos pés precisem da lavagem de nosso Sumo Sacerdote, o próprio lugar em que eles andarem será a justiça de Deus. “Vidro transparente” indica verdadeira santidade O caráter da pureza divina é visto na pia, ministrando morte e ressurreição. Então, o lugar do nosso viver – aquilo sobre o qual permanecemos e caminhamos – será a justiça e a verdadeira santidade. Em nós, o mundo verá aquela glória que veremos imediatamente. “Cada uma das portas era de uma só pérola” (Ap 21:21 – AIBB). Eles discernirão em nós a beleza e graça que Jesus colocou em nós.

O caráter da boa pérola 

Lemos sobre a Igreja sob o caráter de uma boa pérola, que quando o negociante a encontrou, vendeu tudo o que tinha por ela. Sua rara beleza e atratividade é assim manifestada para o negociante, o que o fez disposto a vender tudo o que tinha por ela. Cristo, por aquela beleza com que Deus revestiu a Igreja, fez o mesmo. A entrada da cidade tem o caráter de graça no fluir do rio da água da vida. Aqui não há pragas e maldições. É muito proveitoso trazer a luz da glória da dispensação vindoura às circunstâncias em que eles se encontram, para que o caráter dessa luz possa ser expresso nessas circunstâncias. O caso dos judeus que andaram na luz da dispensação vindoura – aqueles que tiveram fé e esperança naquilo que não estava presente e que assim obtiveram um bom testemunho pela fé (Hb 11) – trouxe a energia dos pensamentos divinos para suas circunstâncias, embora caminhando obedientemente à dispensação em que estavam.

O reino terrenal e milenar 

Eu quero lembrar a uma passagem no Salmo 145, falando da bênção daquele dia, onde temos trazida diante de nós a bênção dos santos na Terra quando o Messias tomar Seu lugar no reino. É uma conversa entre o Messias e os santos judeus daquele dia, afirmando qual será a felicidade deles. A libertação de Israel e o trato de Deus com eles os tornarão competentes para declarar Seus atos ao povo que nascerá. O Messias e Seus santos falam dessas coisas juntos, e dizem às nações Quem é o Deus deles (Sl 145:11-12); então temos o caráter do reino. A ocupação de Israel será a de aprender o caráter de Deus, para torná-lo conhecido aos gentios, e este deve ser a ocupação dos santos agora. O mundo não pode conhecer a Deus, mas somos chamados a ser a “carta de Cristo (v. 3) conhecida e lida por todos os homens (v. 2) (2 Co 3). A Igreja tem que ser a carta de recomendação de Cristo ao mundo. A Igreja, sendo sido feita participante da graça, pode elevar-se acima de todas as exigências da lei. A inocência não poderia fazer isso. Não havia árvore de cura no jardim do Éden, mas a Igreja sendo feita participante da graça agora, as folhas da árvore são para a cura das nações.

O amor entre Cristo e a Igreja 

A maior parte da bênção da Igreja consiste em estar unida ao próprio Senhor. Não é apenas que ela seja glorificada e amada, mas que o Pai nos ama como ama Jesus. A melhor prova desse amor é que Ele deu Jesus por nós. Aquele amor que é trazido através da glória associa a Igreja com o Filho: Ele vem na glória, e a glória que ela terá é consequência do amor. A fonte da glória que será manifestada é ainda mais abençoada do que a manifestação dela. É abençoado ser manifestado em favor, e por quê? Porque o favor da Pessoa é precioso para mim. Em João 17:23 (TB), o Senhor ora para que o mundo conheça que “Tu os amaste, como também amaste a Mim”. Embora o Senhor tenha obtido tudo para nós, quando Ele vem para dar à Sua noiva a glória dela, Ele não diz que isso é uma prova de que Ele a amou. Porém, na bendita auto-ocultação do amor, Ele diz que é o amor do Pai: “Tu os amaste como a mim me amaste”. Isso é extremamente bendito e belo. O Senhor dá testemunho perante o mundo, não que Ele a ama, pois isso foi demonstrado quando Ele satisfez a necessidade dela quanto à pecaminosidade. Não há nada mais precioso do que o amor entre a Igreja e Ele mesmo, mas para o mundo Ele manifesta a Igreja como amada pelo Pai, o Qual lhe dá honra, não em conexão com o pecado e a vergonha. Vemos o mesmo princípio mostrado na história do filho pródigo. Por mais tocante que seja esse amor entre o pecador arruinado e o Pai, que o faz lançar-se ao seu pescoço e beijá-lo, mesmo diante dos servos, Ele o leva para casa com honra, com a melhor roupa e o anel na mão.

Temos que entender a profundidade do amor de Cristo ao encontrar o pecador. Isso traz à tona o valor de Seu amor, mas há algo além disso. Quando Ele amou a Igreja antes da fundação do mundo, é como se o Pai estivesse dando glória a ela e Se deleitando nela. O amor de nosso Senhor Jesus é perfeitamente bendito, tocante e atencioso para conosco; ali as afeições do coração aprendem a deleitar-se n’Ele. Gostaria agora apenas de me referir a uma passagem, Efésios 5:27: “para a apresentar a Si mesmo Igreja gloriosa”. Assim como Deus tomou Eva e a apresentou a Adão, o Último Adão apresentará a Igreja a Si mesmo. Haverá todo o deleite divino em fazê-lo. A Igreja é chamada a esposa do Cordeiro, porque Ele sofreu por ela. É impossível sem sofrimento trazer à tona a plenitude e a fragrância do amor.

A fonte divina 

A Jerusalém celestial é mostrada (em Apocalipse 21) como sendo realmente de origem divina, “de Deus descia do céu. E tinha a glória de Deus” (vs. 10-11). Quando pensamos sobre o pecado, sem referência à glória de Deus, ficamos aquém de uma estimativa correta dele. No momento em que provamos a “glória de Deus”, comparado a ela tudo o mais é pecado. A bênção da Igreja não deve ficar aquém dessa glória. O Pai amou a Igreja e a deu ao Filho. A noiva é tirada de Cristo e tem a “glória de Deus”. O homem, tendo obtido o conhecimento do bem e do mal, deve ser miserável ao usar o conhecimento contra Deus; ou deve, por fé, erguer-se acima do mal como Deus está acima dele. Portanto, é este o lugar da Igreja em união com Cristo, e a graça é transformada em glória. Vemos que “a glória de Deus a tem iluminado” e que “o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro” são o templo dela, não o Pai. Enquanto Deus Se revela em Seus vários carácteres, em Sua sabedoria, em diferentes dispensações, o próprio lugar de adoração da Igreja é aquele que é toda a manifestação da sabedoria e do poder de Deus. “o Senhor Deus Todo-poderoso e o Cordeiro são o seu santuário” (TB). Em Efésios 3:21 lemos: “a Ele seja a glória na Assembleia em Cristo Jesus, para todas as gerações, pelos séculos dos séculos. Amém” (JND). Isso parece elevar a Igreja como a coroa de todas as dispensações, estabelecida como superior e o elo de Deus com todas as dispensações. A glória então será d’Ele: “A Ele seja a glória na Igreja”, de acordo com o poder que opera em nós.

J. N. Darby (adaptado)

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