Origem: Revista O Cristão – Revelação Progressiva
Os Caminhos da Revelação de Deus
Uma revelação dá a apresentação perfeita da mente divina sobre o assunto de que ela trata para aqueles que são espiritualmente capazes de entendê-la. Mas, ao fazer isso, ela nos dá uma imagem verdadeira do que o homem é, e isso não somente por meio de uma declaração dogmática, mas por um amplo desenvolvimento histórico do que o homem fez – o que ele foi em várias fases de progresso por meio das revelações que lhe foram concedidas. Se a Bíblia simplesmente nos desse o julgamento de Deus, jamais teríamos o mesmo testemunho que nós temos para a consciência, pelo fato de ela nos fornecer a história real do homem sob as várias dispensações de Deus para com ele. Mas, para isso, é preciso que o homem seja mostrado como realmente era, com seus sentimentos expressos como nele se manifestavam: seja sem Deus, ou sob a influência da piedade, ou animado em seu coração pelo Espírito de Deus. Caso contrário, não teria sido o relato verdadeiro e necessário a respeito do homem, nem mesmo um relato divino.
Revelações positivas
Nesse processo, recebemos de Deus revelações positivas, dadas para agir sobre os homens de acordo com o estado deles. Também recebemos o testemunho inspirado sobre qual é a própria mente de Deus. Contudo, mesmo aqui, a graça de Deus a adaptou à consciência e à informação espiritual possuída, e ao Seu trato com os homens em tal tempo ou tal estado. Se Ele Se dignou a tratar com eles, Ele o fez em condescendência para a bênção deles. Ele os conduz para cima e adiante; de fato, Ele é Quem conduz. Um pai gracioso fala com seu filho de acordo com o que é apropriado à criança, mas nunca com o que é ao mesmo tempo indigno de si. Assim Deus tem tratado com os homens. De que outra forma Ele poderia ter tratado com eles, se Ele queria que eles fossem moralmente desenvolvidos?
Deus revela o retrato do que o homem é
Assim, no Velho Testamento, temos um retrato perfeito e divinamente dado do homem, sob esse processo gracioso, nos vários relacionamentos em que Deus o colocou, de modo a revelar plenamente toda a sua condição. Assim, por meio de uma história divinamente concedida, podemos conhecer a nós mesmos e, ao mesmo tempo, todo o curso dos tratamentos de Deus, e o que o homem foi sob eles, até o tempo da manifestação de Sua perfeita e suprema graça. Isso Deus manifestou em Cristo como a graça suprema de que o homem necessitava, e o homem e Deus entram no relacionamento que era Seu pleno propósito, de acordo com a segurança que flui da imutabilidade de Sua natureza e da perfeição de Seu amor. “Cristo, estando nós ainda fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios” (Rm 5:6). Por isso é dito: “Pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da Sua justiça neste tempo presente” (Rm 3:25-26). Ele tratava com os homens para o pleno desenvolvimento de Seus caminhos. Ele os recebia de acordo com Seu conhecimento da obra perfeita a ser realizada em Cristo.
Nenhuma progressão além de Cristo
O meio eficaz de toda graça foi Cristo desde o princípio. “Para demonstração da Sua justiça neste tempo presente”. O apóstolo João escreveu: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que temos contemplado, e as nossas mãos tocaram da Palavra da vida” (1 Jo 1:1). Ou seja, ele recorre ao que era desde o princípio como salvaguarda contra toda sedução. Não há desenvolvimento progressivo depois de Cristo. Sugerir o contrário é uma blasfêmia contra a perfeição do próprio Deus manifestada em Cristo, plenamente revelada pelos apóstolos. “Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho” (2 Jo 9 – ARA).
Ora, Deus nos deu uma revelação perfeita de tudo isso, mas jamais poderíamos ter tido o conhecimento a respeito do homem ou do próprio Deus, e de Seus maravilhosos, perfeitos e pacientes caminhos para conosco, se não nos tivesse sido mostrado exatamente o que o homem foi em cada passo do caminho. Se Deus tivesse simplesmente declarado a moralidade, isso teria, sem dúvida, mostrado o que o homem deveria ser, e para isso temos a lei. Mas não nos teria mostrado o que o homem é – o que ele é sob os vários tratamentos de Deus. Agora temos isso e, além disso, é algo que temos sob a influência do Espírito de Deus.
A chave para o entendimento espiritual
Agora, nos tempos do Novo Testamento, eu faço um julgamento moral sobre muitas coisas do Velho Testamento, porque Deus nos deu a verdadeira luz, e as trevas já passaram. Eu as julgo sob a luz perfeita. Mas é Ele, que é luz, que me deu a história para julgar e a luz pela qual julgar. Deus quer informar meu julgamento espiritual e revelar a mim os Seus caminhos, para me mostrar que Ele nunca deixou de tratar com os homens – que o mundo não continuou sem o Seu conhecimento. Ele me deu a chave para tudo e, portanto, me concedeu todos esses elementos com perfeição divina, sobre os quais e pelos quais meu julgamento deve ser espiritualmente formado e meus sentidos exercitados para discernir o bem e o mal, como o homem aprendeu ao longo das eras passadas. Agora, Cristo nos deu a chave perfeita pela qual podemos julgar tudo. Por isso, Paulo diz que a Escritura pode “fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Tm 3:15). E assim, quando o pobre Pedro coloca Moisés e Elias no mesmo nível de Cristo, eles desaparecem, e uma voz vinda do céu diz: “Este é o Meu amado Filho; a Ele ouvi. E… Jesus foi achado só” (Lc 9:35-36).
A consciência
Então, além desses retratos históricos dos caminhos de Deus e de seus efeitos sobre o homem, também recebo referências diretas à consciência da época nos profetas, e, ao sofrerem sob o estado maligno do povo de Deus, o olhar dos santos é direcionado para aquele dia melhor que seria trazido pelo Cristo que os visitaria como a aurora, colocando tudo em ordem. Eles olhavam para esse dia e eram salvos pela esperança, assim como nós; uma esperança que, se não tão clara, pelo menos tão verdadeira quanto, e de fato a mesma, embora apenas parcialmente revelada, e em sua parte terrenal, ainda assim o céu era necessariamente trazido por ela. Abraão exultou ao ver o dia de Cristo; ele o viu e se alegrou, e viveu como estrangeiro na Canaã que lhe fora prometida. Ele “esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o Artífice e Construtor é Deus” (Hb 11:10). Na glória de tudo isso, ele desfrutará das bênçãos da herança de seus filhos de uma maneira melhor e mais doce do que aqueles que realmente as possuirão. Portanto, o Velho Testamento é ganho, não perdido; nós o temos da própria mão do nosso Deus para nossa instrução. O que aconteceu a eles como prova da presente interferência de Deus de forma temporal – o que convinha ao seu estado e ao governo de Deus sobre a Terra – serve de instrução espiritual para nós, escrita para o nosso aprendizado, que é o que queremos. É aquilo pelo qual podemos conhecer a Deus mais plenamente: tudo o que Ele ensina ali é perfeito, e com isso eu aprendo Seus caminhos. Isso não depende dos “meus poderes”, a não ser que Deus os use, nem do “meu conhecimento científico”. Tenho a perfeição de Cristo como critério para julgar. Depende, de fato, do meu progresso espiritual, do meu estado moral, quanto à capacidade de usar a Palavra, e é exatamente isso que deve ser.