Origem: Revista O Cristão – Passando a Tocha

A Capa que Elias Passou para Eliseu

1 Reis 19 

Tendo o poderoso testemunho de Elias acerca da lei falhado em trazer Israel de volta ao Senhor, ele voltou para Horebe e ouviu a voz mansa e delicada, “Que fazes aqui, Elias?”. Embora ele aparentasse ter percebido que seu ministério havia falhado, o testemunho de Deus a Israel não havia terminado. Três outros eram necessários para completar o testemunho de Deus a Israel – Hazael, Jeú e Eliseu. Dos três, Eliseu foi o único ungido por Elias. Ele devia seguir Elias com um ministério diferente para Israel. Os outros dois seriam usados para trazer juízo sobre Israel por sua impiedade. Vemos nisso como Deus passa a tocha de um para outro. No caso diante de nós, vemos como que, depois que a lei falhou, Deus trouxe bênção imerecida a Israel antes dos juízos que se seguiriam. Por isso é que Eliseu tem que cumprir seu ministério da graça antes de Jeú matar a casa de Acabe e Hazael destruir muitos em Israel. O caso desses dois últimos ocorreu depois que Eliseu terminou seu ministério.

O ministério da graça 

Os ministros da graça de Deus na presente dispensação da graça podem tirar proveito observando como Elias transferiu a capa para Eliseu. A transferência começou com a palavra do Senhor a Elias. “E o SENHOR lhe disse: Vai, volta pelo teu caminho para o deserto de Damasco, vem e unge a Hazael rei sobre a Síria. Também a Jeú, filho de Ninsi, ungirás rei de Israel e também Eliseu, filho de Safate, de Abel-Meolá, ungirás profeta em teu lugar” (1 Rs 19:15-16). Vemos nisso como Deus levanta diferentes pessoas para fazer Sua obra. Ele pode, depois, colocá-las de lado. Nenhum de nós tem todos os dons ou é suficiente para fazer toda a obra do Senhor.

Quanto ao caso que estamos considerando, parece que o Senhor assumiu a reação de Elias, ao ser rejeitado, como a indicação de que o ministério dele havia terminado. Elias, então, após ouvir o que cada um dos três faria com Israel, escolheu ungir Eliseu primeiro. De Horebe, ele foi para Abel-Meolá (filho da dança), onde Eliseu estava lavrando. Sem dizer uma palavra, ele lançou sua capa sobre Eliseu, que entendeu aquilo como um chamado do Senhor para seguir. A ação de Elias não foi mais do que uma indicação externa do que Eliseu deveria fazer. O verdadeiro chamado deve vir do Senhor para o coração daquele que foi chamado. Eliseu respondeu de uma maneira que mostrou o exercício que ele tinha diante do Senhor. Este não foi um caso de ordenação humana ou uma simples sucessão de profetas. Em Lucas 9:62, o Senhor Jesus recita isso como um exemplo do verdadeiro discipulado. Eliseu voltou para se despedir de sua família, sacrificou tudo para servir ao Senhor e então seguiu Elias. Sem dúvida, havia coisas a serem aprendidas com Elias antes de começar seu próprio ministério. Elias não pediu a ele que fizesse isso; era a obra de Deus em sua alma. É bom quando os mais velhos incentivam os mais jovens no serviço destes para o Senhor, mas os mais velhos devem ter cuidado para não dominarem de uma maneira que tire o exercício individual por parte dos mais jovens. Devemos seguir a fé daqueles que nos precedem (Hb 13:7).

Eles deixaram Gilgal, um lugar homônimo da aliança da circuncisão 

Até o momento em que Elias é levado ao céu, pouco é revelado sobre o período de discipulado de Eliseu com Elias, exceto que ele derramou água nas mãos de Elias (2 Rs 3:11). É bom aprender nas coisas simples como servir e esperar no Senhor. O percurso dos dois, de Gilgal ao deserto, nos ensina princípios importantes sobre a transição de um tipo de ministério para o outro. Sem esse processo de aprendizado da lei e as razões para o término da administração da lei, uma correta apreciação da verdadeira graça de Deus não pode ser entendida.

Em 2 Reis 2 temos descrita a jornada dos dois profetas. Ela começou na cidade que recebeu o nome do lugar onde os filhos de Israel foram circuncidados pela primeira vez, quando entraram na terra. Mas que benefício há em tal costume uma vez que eles eram idólatras? Deus não permitiria que O deturpassem dessa maneira. Os dois saem juntos do lugar. Elias havia desistido de seu ministério para com Israel e os estava deixando. É um teste para ver se Eliseu seguiria com ele. É necessário devoção ao Senhor para seguir esse caminho. O povo de Israel se apega à sua aliança, mesmo não a guardando.

Eles deixaram Betel, como a representante da casa de Deus 

Quando chegaram a Betel, “a casa de Deus”, os filhos dos profetas possuíam um certo conhecimento do que estava acontecendo, mas não estavam dispostos a deixar seu lugar de identificação com “a casa de Deus”. Eles ficaram em Betel. O que é tal casa se o Espírito de Deus não está presente? Mais tarde, na época do Novo Testamento, o Senhor disse aos judeus, “Eis que a vossa casa vos ficará deserta” (Mt 23:38).

Eles deixaram Jericó, uma cidade ainda sob maldição 

Depois, os dois profetas foram a Jericó, onde havia mais “filhos dos profetas”; estes também sabiam que o Senhor estava para tomar Elias. Eles pareciam ansiosos para informar isso a Eliseu, mas ele não aceitou a informação oferecida; ele andou por sua própria fé no Senhor. É triste quando há aqueles que sabem dos eventos proféticos, mas não estão dispostos a seguir um caminho consistente com essas profecias. Só Eliseu foi fiel em seguir Elias.

Jericó foi destruída quando Israel entrou na terra e havia sido colocada debaixo de uma maldição. Ela não deveria ser reconstruída; no entanto, eles a reconstruíram. Ela é uma figura do mundo sob maldição, o qual hoje os homens ainda tentam transformar em um bom lugar para se viver. Israel fez isso; e a Igreja também. O ministro da lei não mostrou interesse em consertar Jericó, e Eliseu mais uma vez jurou: “Vive o Senhor, e vive a tua alma, que não te deixarei” (ACF). Ele tinha em sua alma a consciência de que estava seguindo o Senhor vivo e Seu servo Elias.

Eles atravessaram o rio Jordão, o lugar de morte para a carne 

Cinquenta filhos dos profetas pararam ao longe e viram Elias ferir o rio Jordão, dividir as águas e atravessar para o outro lado, mas somente Eliseu viu o que aconteceu depois disso. Essa ação miraculosa confirmou que Israel já não mais tinha as reivindicações de bênção dadas no tempo de Josué, quando as águas do Jordão se separaram para permitir que eles entrassem na terra. Elias, o servo do Senhor, saiu, deixando-os para trás. O rejeitado ministro estava sendo chamado ao céu. Ele é uma figura do Senhor Jesus, o Homem que ascendeu ao céu, por meio do qual Deus poderia enviar uma mensagem melhor de justiça através da graça. Um novo terreno de bênção estava prestes a se desenvolver.

Eliseu solicita uma porção dobrada, uma nova oportunidade para Israel 

“Sucedeu, pois, que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu espírito sobre mim” (2 Reis 2:9). Uma oferta incondicional foi feita. Ela não foi restringida pelas exigências da lei. Elias havia terminado a administração da lei como o meio de justiça. Eliseu, também, deixaria a lei para trás. Agora, com ousadia de fé, ele reivindica a generosidade da soberana graça. Tal coisa não poderia acontecer até que eles tivessem atravessado o Jordão. Não se pode misturar lei e graça.

Eliseu testemunha Elias sendo levado para o céu, uma nova base de bênção é estabelecida 

Elias respondeu: “Coisa difícil pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim se te fará; porém, se não, não se fará. E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num redemoinho. O que vendo Eliseu, clamou: Meu pai, meu pai, carros de Israel e seus cavaleiros! E nunca mais o viu” (2 Rs 2:10-12 – ACF). Tal saída de espírito assim tão livre parecia uma coisa difícil para o administrador da lei. O céu ainda não lhe havia revelado a sua provisão. A ascensão de um homem à glória muda a perspectiva. Quando Aquele que guardou perfeitamente a lei está no céu, a perspectiva muda. Temos o Senhor Jesus Cristo, um homem em glória, para interceder por nós. Não há impedimento para a bênção para aquilo que é de acordo com Ele.

Eliseu toma a capa e começa a abençoar Israel 

Então Eliseu, “pegando as suas vestes, rasgou-as em duas partes. Também levantou a capa de Elias, que dele caíra; e, voltando-se, parou à margem do Jordão. E tomou a capa de Elias, que dele caíra, e feriu as águas, e disse: Onde está o SENHOR Deus de Elias? Quando feriu as águas, elas se dividiram de um ao outro lado; e Eliseu passou” (2 Rs 2:12-14 – ACF). A primeira reação de Eliseu é rasgar as próprias vestes, um reconhecimento de sua própria indignidade. Achar-se digno só impede o ministério da graça; quanto mais reconhecermos nossa verdadeira condição, mais livremente o ministério da graça fluirá.

O ato de ferir as águas do Jordão com a capa de Elias foi feito com fé. As palavras “Onde está o Senhor Deus de Elias?” podem parecer ter outro sentido, mas eu as entendo como Eliseu dizendo: “Todos esses anos Deus tem sido limitado em abençoar Israel, por causa da falha do povo em guardar os mandamentos; agora é hora de Deus mostrar Seu poder e bênção segundo o Seu desejo”. Esta é a verdadeira graça de Deus. Que possamos, cada um de nós, tomar posse disso e carregar essa capa conosco em submissão e obediência à graciosa vontade de Deus de abençoar, por causa de Jesus Cristo.

D. C. Buchanan

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